Cultura

Ator Sérgio Mamberti morre em São Paulo, aos 82 anos

Reconhecido por papéis na TV, como Dr. Victor, no "Castelo Rá-Tim-Bum", artista tratava de uma infecção nos pulmões
O ator Sérgio Mamberti, que faleceu na madrugada desta sexta-feira (3), aos 82 anos Foto: Matheus José Maria/ divulgação
O ator Sérgio Mamberti, que faleceu na madrugada desta sexta-feira (3), aos 82 anos Foto: Matheus José Maria/ divulgação

Sérgio Mamberti, de 82 anos, faleceu na madrugada desta sexta-feira (3), segundo confirmou ao site G1 o filho do ator, Carlos Mamberti. Ele afirmou que o pai estava intubado desde o dia 28 de agosto, em um hospital da rede Prevent Senior, em São Paulo, com uma infecção nos pulmões.

Livro lançado em abril: Biografia de Sérgio Mamberti repassa longa trajetória do ator

O ator, reconhecido por papéis de destaque na TV, como o mordomo Eugênio, na novela "Vale tudo"; e Dr. Victor, no "Castelo Rá-Tim-Bum", já havia sido internado, em julho deste ano, para tratar uma pneumonia.

Na época em que Mamberti foi internado pela última vez, outro filho do ator, o diretor da Globo Fabrício Mamberti, comentou: "Este ano tem sido duro para ele. Já teve três internações. Na penúltima, em julho, teve uma pneumonia, resolveu e voltou para casa. Mas foram muitos remédios, e isso acabou afetando um pouco os rins dele. Ele passou três semanas em casa e começou a ter disfunção renal, o que alterou a pressão. Novamente, teve que voltar para a UTI. E, como fica numa posição sem muito movimento, novamente o pulmão começou a ter água e, com isso, se formou uma nova pneumonia", disse à coluna de Patricia Kogut.

Nascido em Santos, no litoral paulista, em 22 de abril de 1939, Maberti estudou da Escola de Arte Dramática (EAD), em São Paulo, e estreou nos palcos em 1963, com a peça "Antígone América", escrita por Carlos Henrique Escobar, produzida por Ruth Escobar e dirigida por Antônio Abujamra. Também participou de espetáculos como "O balcão", "O jogo do poder segundo Shakespeare", "Réveillon", "A noite dos campeões", "Hamlet", "O Drácula", "A tempestade" e  "Visitando o Sr. Green". No cinema, atuou em várias produções marcantes, como "O bandido da luz Vermelha", de 1969; "Toda nudez será castigada", de 1973; e também em roteiros infantis, como nos filmes "Xuxa Abracadabra"  e "O cavaleiro Didi e a princesa Lili".

Em 1994, Mamberti estreou seu papel mais famoso, o Dr. Victor de "Castelo Rá-Tim-Bum", seriado infantil da TV Cultura. Patriarca de uma família de bruxos e tio de Nino, um garoto de 300 anos, Dr. Victor repetia um bordão inesquecível quando se irritava com as traquinagens do sobrinho: "Raios e trovões!". Ainda na TV, Mamberti atuou em novelas como "As pupilas do senhor reitor", "Transas e caretas", "Dona Beija", "Vale tudo", "O clone", "O profeta" e "O astro". Também esteve na série "3%", da Netflix.

Ao longo de mais de cinco decadas de carreira, Mamberti participou de 36 filmes, 36 novelas e cerca de 80 espetáculos teatrais (20 deles como produtor). Continuou trabalhando apesar da pandemia que obrigou os teatros a fecharem as portas. Participou de peças on-line, como "A semente da romã" e "Novo & normal", e estreou um espetáculo solo baseado na obra do dramaturgo Plínio Marcos.

— Meu pai deixou um legado enorme para a cultura desse país. Ele teve a oportunidade de estar nos melhores palcos do Brasil. E como pai, foi um grande pai — emociona-se Carlos em depoimento ao GLOBO. — Acho que quem nasce Sérgio Mamberti nunca morre.

Colegas de profissão de Mamberti, como Renata Sorrah, Rodrigo Lombardi, Cássio Scapin e Fernanda Montenegro (a quem ele chamava carinhosamente de "prima"), prestaram homenagens ao ator . Scapin, o Nino do "Castelo Rá-Tim-Bum", disse que Mamberti "lutou pelo progresso e desenvolvimento da nação brasileira, com as armas que tinha, a cultura e a arte". "Nosso coração doído se despede com muita dor e uma grande salva de palmas!", afirmou.

Arte e política

Mamberti conciliou a carreira nos palcos e nas telas com a militância política. Em 1968, abrigou, em sua casa, no bairro de Bela Visa, em São Paulo, atores do espetáculo "Roda viva" agredidos pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), organização paramilitar de extrema-direita que apoiava a ditadura. O CCC havia invadido o Teatro Ruth Escobar, onde era encenado o espetáculo, e os atores se refugiram na casa de Mamberti, um sobrado vizinho. Depois de transformar sua casa numa espécie de enfermaria para cuidar dos atores feridos, Mamberti passou a receber telefonemas e cartas com ameaças de morte.

Membro-fundador do PT, Mamberti ocupou diversos cargos nos governos dos ex-presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, como a Secretaria de Música e Artes Cênicas e a de Identidade e Diversidade Cultural. Também presidiu a Fundação Nacional das Artes (Funarte), foi secretário de Políticas Culturais e ministro da Cultura interino em três ocasiões.

Em nota, Lula lamentou a morte de Mamberti, "um dos maiores atores da história do Brasil" e "um ser humano de coração e generosidade imensos, sempre disposto a ajudar e lutar pela democracia, pela cultura, pelas causas sociais". "Se o povo brasileiro o admirava pelo seu talento, quem o conhecia de perto o admirava por sua honestidade, carinho e inteligência", afirmou o ex-presidente.

Perdas recentes abalaram ator

Em abril deste ano, Sérgio Mamberti lançou uma autobiografia em que repassou histórias vividas nas mais de cinco décadas de carreira e revelou detalhes de sua vida pessoal. No livro ''Senhor do meu tempo'', da Edições Sesc, o artista comentou a perda de seu marido, Ednardo Torquato , com quem viveu por 37 anos. Torquato faleceu em 2019.

Em autobiografia lançada em 2021, ator Sérgio Mamberti relembrou a morte do marido, Ednardo Torquato, com quem viveu durante 37 anos Foto: Divulgação / Sesc Edições
Em autobiografia lançada em 2021, ator Sérgio Mamberti relembrou a morte do marido, Ednardo Torquato, com quem viveu durante 37 anos Foto: Divulgação / Sesc Edições

''Ed, meu companheiro querido, nos deixou muito cedo. Pela segunda vez, tive de experimentar a mesma ausência sofrida com a partida de Vivian, em 1980. Sei que nunca vou me recuperar dessas duas perdas, mas a vida exige coragem e esperança para seguir em frente", escreveu o ator.

Antes de conhecer Ednardo, com quem adotou a filha Daniele, hoje com 38 anos, Sergio foi casado com Vivia Mahr, mãe de seus outros três filhos (Duda, Carlos e Fabrício). A mulher morreu aos 37 anos, em decorrência de problemas causados por insuficiência cardíaca, em janeiro de 1980.

Velório no no palco

O velório de Mamberti será realizado no palco do Teatro Anchieta, no Sesc Consolação, em São Paulo. A cerimônia será restrita a familiares. O enterro do artista, também restrito à família e a poucos amigos, ocorrerá às 15h, no Cemitério da Consolação, a poucos quarteirões do teatro.

No Teatro Anchieta, Mamberti apresentou o maior sucesso de sua carreira nos tablados. Em 1975, ele integrou o elenco da peça "Réveillon" ao lado de Regina Duarte, Mario Prata, Enio Gonçalves e Yara Amaral. O trabalho de Mamberti na montagem com texto de Flávio Márcio, sob direção de Paulo José , chamou atenção da crítica especializada e deu a ele os prêmios Molière e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) na categoria de Melhor Ator.

— O Teatro Anchieta, no Sesc Consolação, é um lugar muito simbólico para o meu pai — conta Carlos, um dos filhos do ator. — A estreia de "Réveillon" cumpriu uma temporada incrível nesse palco. Foi um espetáculo muito marcante: em 1975, foi o grande sucesso do ano no teatro brasileiro. Meu pai tinha um carinho muito grande com esse lugar. Depois, ainda participou de muitas palestras por lá.

Mambert era viúvo e deixa quatro filhos: Duda, Carlos, Fabrício e Danielle.