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Cultura

Autor que inspirou o sucesso 'Bird box', Josh Malerman lança 'Malorie', sequência que também vai virar filme

Novo romance mostra eventos ocorridos 12 anos após desfecho do original e aposta na escalada de tensão com a ameaça crescente dos monstros
Sandra Bullock, em cena de 'Bird box': lançado em streaming, filme foi visto por 45 milhões de pessoas apenas em uma semana Foto: Divulgação / Saeed Adyani/Netflix
Sandra Bullock, em cena de 'Bird box': lançado em streaming, filme foi visto por 45 milhões de pessoas apenas em uma semana Foto: Divulgação / Saeed Adyani/Netflix

Uma crise inesperada obriga pessoas do mundo todo a cobrir seus rostos. Não, esta não é mais uma reportagem sobre a pandemia de Covid-19, por mais que seja impossível fechar os olhos diante dos paralelos entre a vida real e o universo do livro “Malorie”, de Josh Malerman.

'Bird Box': fãs imitam filme em desafio de andar com olhos vendados

O romance dá sequência a “Caixa de pássaros” (2014), que vendeu 220 mil cópias no Brasil (ambos foram publicados aqui pela Intrínseca). O best-seller inspirou ainda o filme “Bird box” (2018), um dos grandes hits da Netflix, já visto por 100 milhões de usuários. A nova aventura também vai ganhar sua adaptação audiovisual.

Na trama, Malorie (interpretada por Sandra Bullock no filme) tenta sobreviver num planeta abalado por monstros misteriosos, cuja presença leva as pessoas ao suicídio. Só há uma saída para ela e as duas crianças que tenta proteger: tapar os olhos. “Malorie” se passa 12 anos após o desfecho da história original (que dura cinco anos). Sem haver ainda uma solução contra as tais criaturas, resta aos sobreviventes continuar cobrindo o rosto.

— A maior semelhança entre minha ficção e a realidade que vivemos é o uso da máscara, né? Aliás, eu diria que a Malorie seria 100% pró-máscara durante a pandemia — brinca Malerman, que passa a quarentena em sua casa, no Michigan (EUA). — Hesito, porém, em fazer comparações sem acrescentar o fato de que os livros trazem um “susto bom” e a atual pandemia global é um “susto ruim”. Espero que o maior número possível de pessoas permaneça saudável. Eu, assim como Malorie, estou mantendo minha máscara.

Josh Malerman, autor de 'Malorie' e 'Bird box' Foto: Divulgação
Josh Malerman, autor de 'Malorie' e 'Bird box' Foto: Divulgação

O otimismo de Malerman, que ele faz questão de reforçar ao falar sobre a Covid-19, não fica de fora de suas obras, por mais desalentadoras que sejam — o americano de 45 anos também assina os thrillers “Piano vermelho” (2017), “Uma casa no fundo de um lago” (2018) e “Inspeção” (2019).

Tanto que o autor não enxerga seus enredos como “pós-apocalípticos”. Por um motivo simples: para Malerman, o apocalipse implica um fim do mundo, e ele prefere trabalhar com a ideia de que um dia as coisas possam melhorar, tanto na ficção quanto na realidade.

— Quem pode afirmar que os monstros não irão embora de forma repentina, assim como chegaram? “Caixa de pássaros” começa com Malorie se preparando para fugir de criaturas desconhecidas e, 17 anos depois, ela ainda vive de olhos vendados. Mas acredito que há um fim para tal cenário, assim como deve haver um para esta pandemia.

Enquanto os monstros não se vão, a jornada de sua protagonista segue em frente. Em “Malorie”, surge a notícia de que, em lugares não tão distantes, alguns afirmam ter capturado as criaturas e feito experimentos. Já a heroína precisa reestruturar suas estratégias de sobrevivência diante de novas e perigosas ameaças — já deu para perceber que estamos evitando spoilers a todo custo, certo?

O gatilho para que Josh Malerman escrevesse a sequência de “Caixa de pássaros” foi disparado pela poderosa performance de Sandra Bullock no filme.

— Vi Sandra como Malorie na tela e fiquei apaixonado. No final do longa, virei-me para minha noiva Allison e disse: “Agora, o que acontece?” Ela revirou os olhos, é claro, e disse que dependia apenas de mim — relembra o autor, que quando não escreve é vocalista da banda de rock The High Strung.— Depois de toda repercussão do filme, bati o martelo sobre a sequência do livro, e com o foco em Malorie. Escrever sobre ela novamente foi como voltar à casa de uma grande amiga.

Sandra Bullock volta?

Nesta segunda jornada, Malorie precisa redobrar seus cuidados com janelas e portas abertas, ainda mais diante da impetuosidade dos filhos adolescentes, Tom e Olympia — no primeiro livro, assim como no filme “Bird box”, eles são chamados apenas de Garoto e Garota.

Tom é um otimista nato que quer levar progresso a um mundo em pleno caos. Dessa forma, acaba se tornando uma grande preocupação para Malorie, por mais orgulho que desperte nela. Já Olympia, agora uma leitora inveterada, exibe uma personalidade mais compatível com Malorie, prezando pela prudência.

Capa de 'Malorie', novo romance de Josh Malerman, autor de 'Caixa de pássaros' Foto: Divulgação
Capa de 'Malorie', novo romance de Josh Malerman, autor de 'Caixa de pássaros' Foto: Divulgação


Se há um elemento que conecta de modo umbilical “Caixa de pássaros” e “Malorie” é o medo como artifício de dominação utilizado pelas tais criaturas. É preciso não se entregar ao medo para viver no mundo criado por Malerman. Ele explica:

— Você não tem como se sentir corajoso a menos que tenha medo de algo. Em outras palavras, só é possível chegar à bravura superando o medo. Sem ele, que motivação há para ser corajoso?

O autor se diz ansioso pela adaptação de seu novo livro para as telas. Ainda não foi revelado qualquer detalhe sobre uma sequência de “Bird box”, e muito menos sobre um retorno da musa inspiradora de Malerman, Sandra Bullock, na pele da protagonista.

Ao menos o escritor não deixa os fãs na escuridão completa.

— Tudo o que posso dizer é o seguinte: já está em desenvolvimento.

Serviço

“Malorie”

Autor: Josh Malerman; Editora: Intrínseca; Tradução: Alexandre Raposo; Páginas : 288; Preço : R$ 39,90.