Cultura

Bernardine Evaristo e Margaret Atwood vencem o Booker Prize 2019

É a primeira vez desde a mudança das regras, em 1992, que o prêmio é dividido
Bernardine Evaristo e Margaret Atwood venceram o Booker Prize 2019 Foto: TOLGA AKMEN/AFP
Bernardine Evaristo e Margaret Atwood venceram o Booker Prize 2019 Foto: TOLGA AKMEN/AFP

NOVA YORK — Margaret Atwood e Bernardine Evaristo foram anunciadas nesta segunda-feira como vencedoras da edição deste ano do Booker Prize , que premia as melhores obras lançadas em língua inglesa. Esta é a primeira vez que o prêmio foi dividido entre mais de um autor desde 1992, quando a organização mudou as regras e impediu a divisão.

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"Fomos informados com firmeza de que as regras estabelecem que você só pode ter um vencedor", contou Peter Florence, diretor do júri do Booker, na coletiva de imprensa do anúncio. "Mas foi nosso consenso desrespeitar as regras e dividir o prêmio deste ano para celebrar dois vencedores".

A autora britânica Bernardine Evaristo posa com 'Girl, woman, other', premiado nesta segunda-feira Foto: TOLGA AKMEN / AFP
A autora britânica Bernardine Evaristo posa com 'Girl, woman, other', premiado nesta segunda-feira Foto: TOLGA AKMEN / AFP

A britânica Bernardine Evaristo, que venceu pelo romance "Girl, woman, other", é a primeira mulher negra a receber o Booker Prize. Considerada uma escritora experimental, ela é prestigiada no Reino Unido, mas não tem tanta fama internacional. Por isso, foi considerada uma escolha surpreendente.

Em seus oito trabalhos de ficção, Bernardine, que nasceu em Londres, em 1959, filha de uma mãe branca inglesa e um pai negro nigeriano, costuma explorar as vidas de membros da diáspora africana. "Girl, woman, others" traz uma dúzia de personagens, a grande maioria mulheres negras britânicas. É escrito em uma mistura de poesia e prosa, um híbrido que Bernardine chama de "ficção de fusão".

Já Atwood, premiada em 2000 por "O assassino cego", era considerada a favorita deste ano por "Os testamentos", sequência do clássico distópico "O conto da aia" , de 1985. Aos 79 anos, ela é a pessoa mais velha a vencer o prêmio.

A canadense Margaret Atwood com 'Os testamentos' Foto: TOLGA AKMEN / AFP
A canadense Margaret Atwood com 'Os testamentos' Foto: TOLGA AKMEN / AFP

Para a canadense, o prêmio vem num momento de relevância cultural renovada para "O conto da aia", que vendeu mais de 8 milhões de cópias pelo mundo só em língua inglesa. O romance foi adaptado para a televisão pela plataforma Hulu, e o sucesso de "The handmaid's tale" ganhou nova ressonância política, quando mulheres vestidas de aias, como na série, inundaram sedes do governo nos EUA para protestar contra novas restrições aos direitos reprodutivos.

Bernardine Evaristo e Margaret Atwood vão dividir o prêmio em dinheiro, no valor de 50 mil libras. Vale lembrar, ainda, que o Booker Prize costuma gerar uma onda de vendas para os premiados. Vencedora em 2018 pelo romance experimental "Milkman", a britânica Anna Burns viu a obra vender mais de 500 mil cópias desde então.

Decisão durou mais de cinco horas

Em 1992, o canadense Michael Ondaatje e o britânico Barry Unsworth dividiram o prêmio por "O paciente inglês" e "Sacred hunger", respectivamente. Naquele ano, os organizadores decidiram mudar as regras para permitir apenas um vencedor por ano, evitando prejudicar qualquer um dos livros.

Desde então, diversos painéis de jurados tentaram dividir o prêmio, segundo Gaby Wood, diretora literária da Fundação Booker Prize, mas aceitaram escolher um vencedor único após serem forçados.

A decisão rebelde de 2019 não foi aceita com facilidade, consequentemente. Os jurados, entre eles a autora chinesa radicada na Inglaterra Xiaolu Guo e a editora Liz Calder (que lançou obras de autores como J.K. Rowling e Salman Rushdie), passaram mais de três horas tentando escolher a vencedora, antes de perguntarem se poderiam premiar tanto Bernardine quanto Margaret. A ideia foi vetada. Os jurados então passaram mais "uma angustiante hora e meia buscando uma solução", segundo Florence, até decidirem que a divisão era o único resultado que eles queriam.

Mais uma vez, a organização avisou que isso não seria aceito. Foi só depois de uma terceira tentativa, que durou mais 30 minutos, que os curadores decidiram aceitar a decisão. Depois, ela então brincou que os jurados não seriam pagos por seu envolvimento, que incluía a leitura de 151 livros enviados.