Cultura

"Besta Fera", novo disco de Jards Macalé, é construção colaborativa de mais de 15 músicos

Tim Bernardes, Kiko Dinucci, Ava Rocha e mais: conheça quem foram os colaboradores de Jards Macalé em Besta Fera
Jards Macalé e os 7 compositores convidados para "Besta Fera" Foto: Divulgação
Jards Macalé e os 7 compositores convidados para "Besta Fera" Foto: Divulgação

RIO - O novo disco de Jards Macalé, "Besta fera", foi feito em muitas mãos e vozes. O álbum (primeiro de inéditas em 20 anos) conta com 7 compositores convidados, 3 participações e 17 músicos. Representantes destacados de gerações mais jovens da música brasileira, todos potencializam os muitos Macalés que existem no álbum, à sombra de um só Jards, indivísivel — como disse o próprio compositor. Conheça seus principais colaboradores:

Kiko Dinucci

Músico e compositor Kiko Dinucci Foto: Rubens Amatto / Rubens Amatto
Músico e compositor Kiko Dinucci Foto: Rubens Amatto / Rubens Amatto

Kiko Dinucci foi o colaborador mais presente em “Besta Fera” — compôs, produziu, musicou, tocou e ainda desenhou as ‘besta ferinhas’ do encarte. Dinucci, Macalé e Thomas Harres foram até uma fazenda em Penedo e imergiram no processo de produção, sempre a partir de improvisações livres. Inventando riffs, acordes, melodias e montando as letras, como se fossem um “franksteinzinho”. Para Kiko, o disco fala muito do fim e da destruição como ponto de partida para construção de algo novo. Mesmo tratando de temas pesados, como morte, bomba H e trevas, o disco na visão de Dinucci fala de otimismo, renascimento. Além de "Besta fera", Dinucci está produzindo o novo disco de Juçara Marçal e o do rapper Orgi-E.

— O mundo está uma droga, o Brasil está uma droga, mas a gente vai trabalhar. É um caos que teremos que atravessar. A gente vai ter que se reconstruir no meio dessa lama.

Guilherme Held

Gui Held no espetáculo “100 Anos de Garoto, o Gênio das Cordas" Foto: Reprodução
Gui Held no espetáculo “100 Anos de Garoto, o Gênio das Cordas" Foto: Reprodução

Guilherme Held é o guitarrista de "Besta fera", com um estilo criativo inspirado no de seu amigo e mentor Lanny Gordin. Jards e Gordin são parceiros desde a Tropicália, e foi este quem apresentou Guilherme pra Macalé, há quase 15 anos. Held já tocou com Criolo, Leo Cavalcanti e Gustavo Ruiz. Agora, está gravando seu primeiro disco solo autoral, previsto para sair ainda em 2019. O álbum é inspirado no “Clube da esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges.

Tim Bernardes

Tim Bernardes no Toca no Telhado Foto: Reprodução / O Globo
Tim Bernardes no Toca no Telhado Foto: Reprodução / O Globo

Aos 27 anos, Tim Bernardes é reconhecido como um dos maiores talentos de sua geração. Ele e Jards viraram amigos papeando sobre um disco em que Jamelão interpreta Lupicinio Rodrigues. Os dois se conheceram na estreia do último álbum d’O Terno, “Melhor do que parece”, no Circo Voador, na qual a banda (da qual Tim é vocalista) dividiu a noite com Jards.

—  Ele está envolvido em muita coisa que me formou musicalmente, e existe um peso nisso. É curioso sentar horizontalmente com alguém que te inspira. É bom saber que as pessoas são atingíveis e estão aí para criar juntos — reflete Tim.

Os dois gravaram juntos “Buraco da Consolação”, com letra de Tim e música de Jards. A escolha de fazer um samba-canção equilibrou o tom soturno, denso da letra. O Terno está terminando de gravar seu quarto disco, que será lançado ainda este ano.  Tim continuará com os shows de “Recomeçar” (seu disco de estreia solo) em 2019.

Juçara Marçal

Juçara Marçal no Festival Sonoridades Foto: Divulgação
Juçara Marçal no Festival Sonoridades Foto: Divulgação

Juçara Marçal é pesquisadora musical, compositora, professora e vocalista do Metá Metá. Em fevereiro, também estreou como atriz na peça “Gota d’água preta”, no espaço Itaú Cultural, em São Paulo. Com produção de Jé Oliveira, é uma releitura do texto de Chico Buarque e Paulo Pontes, com elenco majoritariamente negro, tratando questões de raça e classe. Marçal conheceu Jards quando o Metá Metá participou do disco "E volto pra curtir", para o qual diversos artistas foram convidados para interpretar clássicos do Macalé em homenagem aos seus 70 anos, em 2013. “Let’s play that” continua no repertório da banda até hoje. Em "Besta fera", Juçara divide os vocais com Macalé em “Peixe”.

Ava Rocha

Ava Rocha no Festival Sonoridades Foto: Divulgação
Ava Rocha no Festival Sonoridades Foto: Divulgação

Ava Rocha é cantora, compositora e cineasta. Ela conhece Jards “desde que nasceu” e o teve sempre muito presente em sua carreira musical. Ava conta que Macalé cantou com ela em sua primeira estreia no mundo musical e que ambos já dividiram o palco muitas vezes. Ela afirma que Jards já vem alimentando este desejo de compor novas músicas há anos, e que ao longo do tempo ela escreveu muitas letras para ele, sempre pensando: “O que o Macalé gostaria de musicar?”. Ele optou por "Limite", que aparece como um fecho para o álbum, junto de “Valor”. Hoje, ela está envolvida com a turnê de seu disco "Trança". Ainda este semestre, ela conta que irá à China gravar um disco. E lança também em 2019 um EP com Negro Leo, com músicas em espanhol.

Thomas Harres

 Jards Macalé, Thomas Harres e Kiko Dinucci na Audio Rebel Foto: Divulgação
Jards Macalé, Thomas Harres e Kiko Dinucci na Audio Rebel Foto: Divulgação

Thomas Harres, baterista e percussionista, conheceu Jards na casa de Ava Rocha. Ele conta que já era tarde e o som estava muito alto, então ele se levantou para baixar o volume. Neste momento, Jards perguntou se ele tinha se levantado só para isso. Quando ele confirmou, ouviu um “contratado!”. Tornaram-se grandes amigos, e já são 6 anos tocando com Macalé. Thomas é quem assina a produção musical de "Besta fera", junto com Kiko Dinucci. Considera que este disco é um renascimento de Jards das cinzas, e que pôde dar um “mergulho no universo macalista” ao produzi-lo. Thomas é baterista da Céu e da Anelis Assumpção e toca no "Refavela 40", show em homenagem ao clássico álbum de Gilberto Gil.

Rodrigo Campos

Rodrigo Campos, antes do lançamento de de "9 sambas" Foto: Divulgação/José de Holanda / Divulgação/José de Holanda
Rodrigo Campos, antes do lançamento de de "9 sambas" Foto: Divulgação/José de Holanda / Divulgação/José de Holanda

Rodrigo Campos é um paulista apaixonado por samba, músico e compositor. Ele faz parte do núcleo criativo dos novos discos da Elza Soares e acabou de lançar seu quarto disco, “9 sambas”.  Fã de Jards, ele mesmo correu atrás de conhecê-lo, em 2014. Convidou o “maldito” para tocar num show dele, no projeto “A Zona Leste é o Centro”, no SESC Itaquera (São Paulo). Para "Besta fera", Campos compôs a letra de “Peixe”, que ele considera uma metáfora sobre a dificuldade de existir e de percorrer um caminho como ser humano, e que por isso o peixe sai, conhece a Terra, e prefere voltar para o fundo do mar. Para ele, ser acolhido por grandes artistas, como Elza e Jards é um reconhecimento especial e uma legitimação de seu trabalho como músico. Considera essa troca essencial para uma difusão e convergência maior de públicos das diferentes gerações. Para Rodrigo, Macalé é “muita genialidade” numa pessoa só.

Romulo Fróes

Romulo Fróes Foto: Michel Filho / Michel Filho/Agência O Globo
Romulo Fróes Foto: Michel Filho / Michel Filho/Agência O Globo

Romulo Fróes conhece Jards há apenas um ano, mas o considera uma grande inspiração desde seu início de carreira, quando tinha apenas 22 anos. Para Fróes, o primeiro disco de Macalé, “Jards”, é o maior disco de rock brasileiro de todos os tempos. Um rock que  não imita o inglês, de uma originalidade que para ele só se equipara a “Transa”, do Caetano Veloso e “Ao vivo em Londres”, de Gilberto Gil. Romulo é quem assina a direção artística de "Besta fera". Ele revela que no primeio ensaio do disco, olhou para o Guilherme Held e pensou “Bicho, olha onde a gente chegou!”. Considera trabalhar com músicos da potência de Macalé como uma formatura na profissão. E, ao mesmo tempo, sente que ele, Harres,Dinucci, e toda sua geração, foram os que impulsionaram o próprio Macalé e também a Elza Soares a compor novos discos após os 75 e, no caso de Elza, quase aos 90.

— Poder produzir um disco com aquele na cabeça (“Jards”, 1970) e tentar fazer algo diferente daquilo, porque não faria o menor sentido repetir um trabalho dos anos 70, tentar atualizar aquele som, aquela poesia, aquele canto, acho que foi o que a gente fez. Não que aquilo esteja datado, mas a minha geração, surgida nos anos 2000, pode contribuir muito — conta Romulo.