Exclusivo para Assinantes
Cultura

Beyoncé: entenda ‘Black is king’, o álbum visual que a cantora lançou na sexta-feira

Ainda não disponível oficialmente no Brasil, carta de amor da cantora à África tem poesia, simbolismos e mensagens, mas gerou polêmica antes mesmo de ser visto
A cantora Beyoncé em cena do seu álbum visual "Black is king" Foto: Reprodução da internet
A cantora Beyoncé em cena do seu álbum visual "Black is king" Foto: Reprodução da internet

RIO - Artista impossível de ser ignorada – pelo impacto cultural de uma obra musical e cinematográfica que vem desde a adolescência, nos anos 1990, com o grupo Destiny’s Child —, a cantora americana Beyoncé voltou a monopolizar a internet na última sexta-feira com o lançamento de “Black is king”. Trata-se de um álbum visual – ou seja, um filme (no caso, com 1h25 de duração) costurando os vários vídeos produzidos para um conjunto de canções –, da mesma forma que ela fizera, em 2016, com “Lemonade” (no qual tematizou a infidelidade do seu marido, o rapper e empresário Jay-Z ) e no primeiro deles, “Beyoncé”, de 2013.

Entre os álbuns visuais da cantora há, porém, diferenças significativas. “Beyoncé” e “Lemonade” eram trabalhos com canções inéditas, “Black is king” é o companheiro tardio de “Lion King: The Gift”, álbum puramente musical lançado em julho do ano passado. Nele, Beyoncé reuniu canções suas, inspiradas pela refilmagem hiperrealista da animação “O Rei Leão” (no qual deu voz à leoa Nala), gravadas ao lado de muitos convidados, inclusive artistas africanos.

Concebido como “uma carta de amor à África” e “uma nova experiência em como contar histórias”, o disco levou Beyoncé a passar o segundo semestre de 2019 filmando em locações na Nigéria, Gana, África do Sul, Estados Unidos, Inglaterra e Bélgica, e o começo de 2020 editando todo o material. O lançamento de “Black is king” foi feito, depois de alguns teasers, pela plataforma de streaming Disney+ (que não está disponível no Brasil) e acompanhado de uma edição de luxo (esta sim, disponível no Brasil, nos Spotifys e Deezers) do álbum musical “Lion King: The Gift”.

Dirigido e escrito pela cantora, com colaborações diversas (entre elas, a da poeta inglesa de origem somali Warsan Shire ), “Black is king” chega à Disney+ (e aos torrents e streamings ilegais) bem no contexto do #BlackLivesMatter – movimento deflagrado pela série de protestos mundiais antirracistas decorrentes da morte, em maio, em Minneapolis, do negro George Floyd pelas mãos da polícia.

Assim, a história que o álbum visual de Beyoncé conta – a do príncipe africano separado de sua família e submetido a uma jornada de traições, perigos e busca pela identidade até voltar para reclamar seu trono – ganha um outro sentido: o da urgência dos negros diaspóricos de 2020 em se reconectar com sua ancestralidade africana, de descobrir quem realmente são e, desta maneira, atingir um ponto de equilíbrio em suas vidas, na relação com o mundo e com as suas próprias famílias.

'Homecoming': Beyoncé faz registro emotivo e sincero de show histórico no Coachella

Por um lado, “Black is king” é um filme de paisagens deslumbrantes, fortes simbolismos, religiosidade aflorada, mensagens pungentes (do tipo “éramos beleza antes que vocês soubessem o que é beleza”) e grande poesia visual. Por outro, não deixa de ser um veículo para a estrela Beyoncé, onde ela pode exibir um vasto repertório de canções, roupas e danças, além de marido e filhos ( Blue Ivy e Sir Carter). Antes mesmo de ser lançado, o álbum visual já provocava polêmica. Em junho, a mãe da cantora, Tina Knowles-Lawson já respondia a críticas, nas redes sociais, de que a filha estaria se apropriando de forma indevida da cultura africana em seu novo trabalho.

“Aqueles que estão criticando o filme (antes mesmo de vê-lo) dizendo que não é autêntico (...) estão errados porque: 1) Beyoncé ganha menos dinheiro quando apresenta seu conteúdo afrocêntrico. 2) Na verdade, ela estudou trajes africanos e tal, não apenas jogou tudo junto na tela. Ela trabalhou com dançarinos africanos, cineastas e diretores nesse projeto”, escreveu Tina. Artistas africanos que participaram de “Black is king”, como as ganenses Joshua Kissi e Blitz Bazawule, publicaram posteriormente no Instagram defesas da africanidade de Beyoncé.

Black joy: Dez filmes e séries que celebram a felicidade negra

No mundo das celebridades, porém, o álbum visual de Beyoncé teve a mais calorosa das acolhidas. A estrela inglesa da canção Adele postou no Instagram uma foto sua (com novo visual, magra e com cabelos cacheados) assistindo a uma cena de “Black is king”. “Obrigada, rainha, por sempre fazer com que todos nós nos sintamos tão amados por sua arte”, escreveu ela. Nova voz negra no mundo pop, a americana Lizzo, por sua vez, deu uma festa vegana para conferir o álbum visual e depois comentou nas redes: “Eu e meus amigos fizemos o teste para Covid-19 e assistimos a ‘Black is king’ ontem à noite. Foi bonito. Obrigada, Beyoncé.”