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Cultura

Billie Eilish: 'Quero ser a artista mais abrangente possível'

Aos 17 anos, cantora é dona do álbum mais tocado no mundo em 2019, coleciona indicações ao Grammy e prepara estreia no Brasil
A cantora e compositora americana Billie Eilish Foto: Divulgação
A cantora e compositora americana Billie Eilish Foto: Divulgação

RIO — Aos 17 anos, a americana Billie Eilish tem o mundo da música aos seus pés. Para listar todos os feitos marcantes da jovem cantora e compositora só em 2019, seria preciso muito mais do que um parágrafo. Mas, resumidamente, ela é a primeira artista feminina a ter o disco mais tocado do ano no Spotify “When we all fall asleep, where do we go?” , que ultrapassou a marca de 6 bilhões de reproduções; o principal single, o pop-trap “Bad guy”, liderou as paradas americanas; e ela conseguiu seis indicações ao Grammy 2020 , incluindo as principais categorias: gravação, álbum, canção e revelação do ano. Isso tudo, vale repetir, antes de completar a maioridade, no próximo dia 18.

Apesar de ter tido o ano mais movimentado de sua carreira, com 106 shows pelo mundo, de inúmeras premiações e compromissos profissionais, Billie revela que, depois de períodos complicados lutando contra sua própria mente, finalmente tem se sentido à vontade com o brilho dos holofotes.

— Gostar das coisas é realmente um sentimento novo para mim. Eu sei que isso soa sombrio, mas é verdade — admite a cantora, em papo por telefone com o GLOBO (leia abaixo, na íntegra) para promover seus primeiros shows no Brasil, marcados para maio, com datas em São Paulo (30/5, no Allianz Parque) e Rio (31/5, Jeunesse Arena). — Eu tive meses tão pesados no começo desse ano, quando não achava nenhum prazer no que eu faço. Mas fui paciente, não desisti de mim e nem das pessoas que me acompanham. E então comecei a me sentir muito melhor, e tudo ao meu redor melhorou junto, passei a me sentir mais livre. Eu estou gostando de mim mesma como nunca antes, gostando do que eu faço.

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Nascida na badalada e frenética Los Angeles dos anos 2000, filha de um casal de atores e músicos — a mãe, Maggie Baird, é também roteirista e a acompanha pelo mundo —, Billie é um retrato fiel do que o imaginário coletivo pensa sobre a Geração Z. Visualmente, ela tinge as madeixas de diferentes cores (a atual traz mechas verdes neon) e opta por vestir apenas roupas largas, para evitar a sexualização de sua imagem.

A artista fala abertamente, mas de forma cuidadosa, sobre depressão e saúde mental — como na canção “Xanny”, que traz no título uma referência ao ansiolítico Xanax. Apesar de usar as redes sociais de forma intensa para impulsionar sua carreira, tem consciência dos perigos que elas trazem (“não poste seus sentimentos” é um dos seus mantras). E, musicalmente, não se prende a amarras: é, em sua essência, uma artista pop, mas mescla em suas canções gêneros como o trap (“Bad guy”), eletrônico (“You should see me in a crown”) e synthpop (“Bury a friend”).

Assim, Billie conseguiu atingir e ser admirada não só pelos mais jovens, mas também por outras gerações — astros como Dave Grohl (do Foo Fighters), Thom Yorke (Radiohead), Avril Lavigne, Leonardo DiCaprio e Julia Roberts foram flagrados se divertindo nos shows dela em 2019, por exemplo.

— Eu quero ser a artista mais abrangente possível e acho que tenho conseguido isso. Adoro sentir que atinjo mais de uma geração, pessoas de diferentes idades e origens, porque esse era o meu objetivo desde o começo. Não queria ser identificada com uma única faixa etária, com um único gênero, e me sinto honrada quando percebo que milhares ou milhões de pessoas que me vêem como modelo, um ícone ou algo assim — comemora.

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Ao seu lado, Billie tem um parceiro e tanto. Irmão mais velho da cantora, Finneas O'Connell, 22, é também fundamental para o sucesso de “When we all fall asleep, where do we go?”. Ele é o produtor do disco, gravou todos os instrumentos e compôs as canções ao lado da irmã, além de acompanhá-la como músico nas turnês — “esse é meu irmãozão, e eu o amo”, Billie faz questão de dizer em cada show. O rótulo de grande popstar de 2019 faz com que a cantora torne-se, naturalmente, visada pelos maiores produtores e compositores da indústria — recentemente, Jack White ofereceu seu megaestúdio em Nashville para os irmãos gravarem a versão ao vivo do disco, ainda a ser lançada. Billie, porém, dá de ombros ao assédio profissional:

— Para dizer a verdade, eu não estou muito interessada em trabalhar com mais ninguém. Eu trabalhei com uma série de produtores e compositores diferentes no começo da minha carreira. Foi legal, normal e tal, mas não me faz tão feliz quanto o trabalho com o Finneas, não me dá o mesmo resultado, não me faz se sentir tão ouvida, se é que isso faz sentido. Por que consertar algo se não está quebrado?

Prestes a ultrapassar a barreira dos 18 anos, Billie se diz “ansiosa e preocupada ao mesmo tempo” com a aproximação da maioridade:

— Quero me manter feliz e que as coisas sigam como estão, ou melhorem, mas eu realmente não consigo imaginar um jeito de elas ficarem melhores (risos). Ao mesmo tempo, acho que as pessoas se seguram na maneira como lidam comigo por eu ser menor de idade, sabe? E agora não vou ser mais. Só espero que ninguém tente me enquadrar por fazer alguma merda!

Em uma entrevista, você disse que foi um processo muito exaustivo finalizar seu primeiro álbum, a ponto de pensar em saltar de um prédio. Por que foi tão estressante?

(risos) Tem muitas razões. É difícil terminar algo que traz tanta pressão em cima, um deadline, essas coisas. São 14 músicas. Já é trabalhoso o suficiente terminar uma, imagina 14! Por termos um deadline, termos que entregar, isso trouxe uma pressão muito grande. Eu ainda não consigo acreditar que finalizamos esse álbum, nunca achei que seríamos capaz.

O disco te trouxe seis indicações ao Grammy. Como você se sentiu quando soube? E o que pensa sobre a relevância de premiações como essa?

É uma honra gigantesca. É engraçado, porque eu assisto aos Grammys todos os anos, a minha vida toda. Minha família adora assistir. Então, só de ser indicada, quer dizer, só de saber que as pessoas que trabalham no Grammy pensaram no meu nome, é honroso. Se eu ganhar alguma coisa ou não, o que eu duvido que ganhe, não importa, só estou feliz por fazer parte disso. De forma realística, prêmios não significam que você venceu. Você não tem que ganhar nada para se sentir um artista de verdade. Não quer dizer que eu não queira ganhar, claro que quero, mas estou falando apenas que não é algo que você deveria se matar se não conseguir. Você não deveria ficar irritado por isso. Você pode ser o que quiser, independentemente de vitórias.

Um vídeo da revista "Vanity Fair" mostra três entrevistas com você, no mesmo dia, em três anos diferentes: quando você tinha 15, 16 e 17 anos. Como é poder acompanhar assim o seu amadurecimento?

É muito louco. Foi uma ideia muito divertida, na verdade. Acho que todos deveriam fazer algo assim na vida, sem necessariamente publicar. Mas as pessoas deveriam fazer vídeos se perguntando as mesmas perguntas no mesmo dia de anos diferentes. É interessante ver como você era há dois anos, depois no ano anterior e agora. Mas é esquisito e divertido ver o quanto eu mudei, e como foi bom mudar, e o quanto respostas de dois anos atrás me deixam constrangidas. Seres humanos são muito estranhos (risos) .

Vendo essa entrevista, é muito claro como você se tornou mais articulada e, principalmente, feliz de um ano para cá. E isso longo no ano mais movimentado da sua carreira, com tantas turnês, shows e tudo mais. Qual é o segredo?

(risos) Eu não sei se tem algum segredo por trás. Eu já estive extremamente infeliz em turnês tantas vezes, nem consigo te dizer o quanto. Eu tive meses tão complicados no começo desse ano, pesados mesmo, quando eu não achava nenhum prazer no que eu faço. Mas eu fui paciente, não desisti de mim e nem das pessoas que me acompanham. E então eu comecei a me sentir muito melhor, e tudo ao meu redor melhorou junto, passei a me sentir mais livre. Eu estou gostando de mim mesma como nunca antes, gostando do que eu faço. Gostar das coisas é realmente um novo sentimento para mim. Eu sei que isso soa sombrio, mas é verdade.

As músicas do seu álbum foram compostas, produzidas e gravadas apenas por você e por seu irmão, Finneas. Mas, uma vez que você se tornou uma popstar, imagino que muitos produtores e compositores de expressão queiram trabalhar com você. Você se vê fazendo esse processo mais aberto e variado? Ou prefere manter só entre vocês?

Para dizer a verdade, eu não estou muito interessada em trabalhar com mais ninguém. É basicamente eu e meu irmão mesmo. Eu trabalhei com uma série de produtores e compositores diferentes no começo da minha carreira. Foi legal, normal e tal, mas não me faz tão feliz quanto trabalhar só com o Finneas, não me dá o mesmo resultado, não me faz se sentir tão ouvida, se é que isso faz sentido. Não pelos outros, mas por que consertar algo se não está quebrado, entende? Trabalhar com meu irmão é perfeito e funciona muito bem, eu não tenho nenhum desejo de mudar isso.

Essa semana saiu o clipe de "Xanny", que você dirigiu. A direção é algo que te empolga? Tem vontade de seguir fazendo?

A minha vida toda eu quis dirigir. Desde que eu era bem pequena, quando tinha uns dez anos, já gostava de fazer meus próprios vídeos caseiros, e segui fazendo isso desde então. Até clipes que nunca soltei eu fiz. Eu ficava andando com meus amigos fingindo que eles estavam no vídeo, sabe? Então, sempre tive esse interesse. A verdade é que desde o começo da minha carreira, em todos os meus vídeos, eu tive tanta responsabilidade e dei tantas ideias... O clipe de "Xanny" eu dirigi e fiz o roteiro, mas todos os outros eu fui pelo menos a codiretora, só não botei meu nome nos créditos.

Você se vê como um espelho para a sua geração? E como lida com isso?

Eu me sinto honrada só por saber que as pessoas se interessam por mim. Uma pessoa torcendo e me acompanhando já seria o suficiente. Então, o fato de ter milhares ou milhões de pessoas que me vêem como modelo, um ícone ou algo assim é insano, e me sinto grata por isso. Eu amo sentir que impacto mais de uma geração, pessoas de diferentes idades e origens, porque esse era o meu objetivo desde o começo. Não queria ser identificada com uma única faixa etária, com um único gênero. Eu quero ser a artista mais ampla possível, e acho que tenho conseguido isso.

Estamos a poucos dias do seu aniversário de 18 anos. O quanto você acha que sua vida vai mudar com a maioridade?

Eu não sei! Eu estou esperançosa, quero me manter feliz e que as coisas sigam como estão, ou melhorem. Mas eu realmente não consigo imaginar um jeito de elas ficarem melhores, então não sei, estou aberta ao que possa acontecer nesse próximo ano. E espero que ninguém tente me enquadrar por fazer alguma merda ou que me culpe por algo. Acho que algumas pessoas se seguram na maneira como lidam comigo por eu ser menor de idade, sabe? E agora não vou ser mais. Eu estou preocupada e ansiosa ao mesmo tempo! (risos)

Em maio você fará sua estreia no Brasil. O que você sabe sobre a forma como os brasileiros lidam com a música?

Eu ouço desde o começo da carreira sobre o quão loucas as pessoas daí são por música. Isso sempre me fascinou e me deu vontade de conhecer o Brasil. É uma das minhas primeiras bases de fãs e sei que acontece com muitos artistas também, de observar um movimento de fãs antes no Brasil. Tudo o que eu e outros artistas ouvimos e lemos é "come to Brazil" (risos) .  As pessoas aí são muito leais e amam música, o que é uma combinação incrível. Estou empolgada!

Serviço

Billie Eilish

Onde: Jeunesse Arena - Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca (2430-1750). Quando: 31 de maio de 2020, às 21h. Quanto: De R$ 340 a R$ 640. Classificação: 15 anos.