Cacá Diegues
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Por — Rio de Janeiro

A Terra havia se formado muito recentemente, resultado nervoso de elementos que caíram de Vênus em chamas e que se juntavam a quatro ou cinco outros seres que vieram para cá de carona em pedras de fogo, consequência de explosões inaugurais de outros corpos. O nosso planeta nascia quase como ele é hoje, mais de 14 bilhões de anos depois.

Nascia junto com o nosso planeta a claridade noturna de seu satélite natural, formado a partir de sobras continentais e iluminado por um sol que servia como grande luz geral. Um sol que tinha seus movimentos acordados com o planeta, mas nem por isso abandonava sua própria lógica, responsável sempre pela pele branca do que era armado na ponta das ondas que batiam na praia, na pele arenosa das praias.

Ali, no território quase sagrado da Terra, estavam a areia e a grama onde nasceriam os novos animais. A população da Terra e seus animais variados, entre os quais moléculas que hão de formar seus filhos. Nasciam as feras, os sapos, os peixes, as borboletas e toda sorte de animais, inclusive os que logo desaparecerão ou cairão logo no esquecimento.

Entre esses animais estava o Homo Sapiens, logo percebido como um bicho fora de série. Ninguém pensava em mudar sua natureza. Pelo contrário, era preciso esperar pelo resultado que podia provocar. Cartazes anunciavam a vinda de outros, os que deixarão de ser nada quando chegarem.

Modestamente o Homo Sapiens por enquanto sobra. Mas em breve será reconhecido e ser-lhe-á consagrada uma experiência grande demais, essa por causa da qual veio ao mundo, aquela que vai abrir sua pauta, a nomeação de todas as virtudes como não as vimos até agora.

Numa aldeia africana ele acabou com o que sobrou dos dinos e a experiência sem ação, impôs-se ao resto da criação, tornou-se regra.

Quando já comandava o mundo, o Homo Sapiens sacou que faltava se impor à Natureza. E se estrepou quando tentou, porque a Natureza não se submetia a comando algum. A ordem era inútil, viesse de onde viesse, a Natureza deitou e rolou, os elementos que formavam o universo recém-inventado recuaram até antes da transgressão. Nada aconteceu. Seu olhar em direção à vida em sangue viu tudo vermelho, um encarnado encantador. Chegaremos lá.

O Criador deu à luz ao encontro entre Ashaninkas e Caiapós, produziu um intercâmbio qualquer, permitiu que as duas nações se achassem na terra explorada. Buscou-se construir o ideal de um país pacífico, uma loucura. Como podia ser pacífico se nos últimos séculos tivemos um sistema que virou hábito e supunha na prática da vida que uma pessoa pudesse ser inferior a outra? Uma pessoa podia até ser propriedade de outra.

Somos os titulares de nossa própria desgraça — as mudanças climáticas, o colapso da biodiversidade, o declínio da saúde das águas (oceanos, rios, riachos, quedas d’água, essas coisas), o esgotamento dos recursos naturais demonstram claramente que não podemos seguir no mesmo rumo de tanta tragédia. A taxa de extinção das espécies já é milhares de vezes superior à média dos últimos dez milhões de anos desse encontro entre Ashaninkas e Caiapós. Precisamos resolver o impasse em nome de nossa sobrevivência.

O romancista Victor Hugo deixou escrito o seguinte: “Como é triste pensar que a Natureza fala, mas a Humanidade não sabe escutar”.

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