Cultura

Capital Inicial volta à garagem em disco com participações de bandas jovens

Far From Alaska, CPM22 e Scalene estão em 'Sonora', produzido por Lucas Silveira, da Fresno
Fê Lemos, Dinho Ouro Preto, Yves Passarell e Flávio Lemos, o Capital Inicial Foto: FERNANDO HIRO / Divulgação
Fê Lemos, Dinho Ouro Preto, Yves Passarell e Flávio Lemos, o Capital Inicial Foto: FERNANDO HIRO / Divulgação

RIO - "E chega o fim de semana e todos se agitam/ Sempre à procura de uma festa", cantava o Aborto Elétrico em "Anúncio de refrigerante". Cantor do Capital Inicial, banda formada das cinzas do Aborto, assim como a Legião Urbana, Dinho Ouro Preto fazia parte da Turma da Colina, em Brasília, nos anos 1970, retratada na canção. Décadas depois, o cantor de 54 anos mantém o espírito: curte uma galera roqueira, como a formada por bandas mais jovens do que a sua, em São Paulo: Fresno (originalmente do Rio Grande do Sul), CPM 22, Scalene (de Brasília), Far From Alaska (do Rio Grande do Norte) e outras. Foi em uma reunião na casa de Lucas Silveira, cantor e guitarrista da Fresno e produtor, que Dinho teve uma ideia para o novo disco do Capital.

- Já tínhamos as canções, mas queríamos algo que tivesse a cara da banda e ao mesmo tempo fosse instigante, olhasse para a frente - conta ele. - É para isso que serve gravar um disco, principalmente depois de 30 anos de banda, né?

Sempre amigo da garotada (ele tem várias colaborações com as bandas mais jovens, como no "Acústico" do CPM, em que gravou "Um minuto para o fim do mundo" ao lado do cantor Badaui), Dinho foi participar de uma sessão de estúdio com o Supercombo (outro grupo da nova geração, este do Espírito Santo) e encontrou a galera na casa de Lucas.

- Vi que essas bandas têm uma unidade, todos se falam, têm grupos de WhatsApp, alguns são empresariados pelo mesmo escritório; eles formam uma cena - conclui. - Diferente da minha geração, em que muitos são amigos, mas sempre teve rivalidade, também.

Na ocasião, Dinho, de papo com Lucas, disse que tinha começado a compor uma música, mas estava empacado.

- Ele me chamou para o estúdio que tem em cima da garagem, fomos lá e resolvemos a música - conta Dinho. - Aquilo acendeu a centelha do que seria o "Sonora": arranjos, sonoridade, tudo.

Dinho ficou surpreso ao entrar no estúdio de Lucas.

- Ele tem tudo, mas num esquema de guerrilha - avalia. - Eles dão um bypass nos aparelhos mais caros, microfones, mesa, pedais, com outros que dão resultados do mesmo nível, com muita garra e criatividade. Esse estado de espírito de volta quase literal à garagem foi o que pautou o disco.

O cantor e seus companheiros no Capital - os irmãos Flávio e Fê Lemos, no baixo e bateria, respectivamente; o guitarrista Yves Passarell e os músicos de apoio Fabiano Carelli, na guitarra, e Robledo Silva, nos teclados - já tinham a maior parte do repertório composto, por eles mesmos e com velhos parceiros como o letrista Alvin L, o cantor Kiko Zambianchi e o guitarrista Thiago Castanho, ex-Charlie Brown Jr.

- Fomos para o estúdio, nós seis, e gravamos as músicas - conta o cantor. - Depois, pensamos quais delas teriam a ver com as bandas amigas, e os chamamos para colaborar.

Assim, "Parado no ar", que abre o disco, tem a participação do Scalene - a banda candanga contribui para um clima soturno, que ganha intensidade a caminho do refrão; a tortuosa "Universo paralelo" tem participação de Lucas Silveira; e duas das canções mais agressivas, "Velocidade" e "Invisível", contam, respectivamente, com CPM 22 e Far From Alaska, que emprestam um sabor punk à primeira e de rock básico e barulhento à segunda.

- Chamamos o Lucas para produzir o disco, acho importante ter alguém com a mão pesada, que dá sugestões, pensa no som, em vez de um produtor que simplesmente grave a banda tocando - diz Dinho. - Essas bandas são o futuro do rock, e nós não queríamos uma postura de "lá vem mais um disco". Embora hoje as vendas de discos não sejam mais tão significativas, há um outro lado: como as plataformas de streaming têm todo o seu catálogo, tudo volta a ser ouvido quando sai um disco novo.

Dinho (que faz questão de lembrar que não bebe álcool há um ano e nove meses) soa tão animado com o disco que já pensa em novas gravações.

- Velho! - gargalha ele. - O estúdio do Lucas é uma loucura, tem uns 300 pedais. Eu fotografei tudo e vou comprar igual para o meu próprio estúdio, na minha casa. Além da produção das músicas para o Capital, que não para nunca, quero regravar dois discos que fiz fora da banda, o do Vertigo ( banda punk que lançou seu único CD em 1994 ) e o meu primeiro, "Dinho Ouro Preto" ( 1995 ), que estão fora de catálogo.