Cultura

Cássia Eller chega humanizada ao cinema

‘Cássia’, documentário de Paulo Fontenelle sobre a cantora, entra em circuito com a missão de desfazer estereótipos

Chicão, a cantora e Eugênia, numa das fotos de arquivo exibidas em ‘Cássia’
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Chicão, a cantora e Eugênia, numa das fotos de arquivo exibidas em ‘Cássia’ Foto: / Divulgação

RIO - Na busca por uma “nova Cássia Eller, aquela que as pessoas não conheciam, humanizada”, o diretor Paulo Henrique Fontenelle chegou a “Cássia”, cinebiografia daquela que foi uma das maiores cantoras do Brasil, morta em 2001. Depois de estrear no Festival do Rio de 2014, com sessões que estiveram entre as mais concorridas do evento (ingressos esgotados com dois dias de antecedência, muitas palmas e lágrimas ao fim), o longa entra em circuito nacional hoje, com 70 cópias.

O impulso para realizar o filme veio em 2009, na esteira de “Loki”, premiado documentário que Fontenelle lançara no ano anterior sobre o fundador dos Mutantes Arnaldo Baptista. O diretor acompanhara de longe a carreira de Cássia e sentiu o vazio que se abriu após a sua morte. Tudo o que havia então era a vontade de saber mais sobre a cantora.

— Nada tinha sido feito para revelar algo além do que já se conhecia dela nos palcos — diz o diretor, que, na época, mandou um e-mail para Maria Eugênia Martins, companheira de Cássia por 14 anos e guardiã de sua memória. — Ela tinha medo de como a história iria ser abordada, mas me disse que ela e Chicão ( filho de Cássia, que tinha oito anos quando ela morreu e que foi criado por Eugênia ) tinham gostado do “Loki”.

— Fiquei interessada porque seria um documentário, um formato que tem um público exclusivo. Era uma oportunidade legal de mostrar a vida da Cássia. Além do mais, o Chicão estava entrando na adolescência, achei que seria o momento certo — conta Eugênia, para quem a biografia de Cássia lançada em livro ( “Apenas uma garotinha”, de 2005, escrita por Ana Cláudia Landi e Eduardo Belo ) “tinha passado batido por algumas coisas importantes”. — Faltava uma obra mais sensível, a Cássia é uma pessoa muito interessante. Ela era conhecida pela persona de palco, por ser aquela sapatão que cuspia no chão. Faltava o lado doce, de irmã, companheira e mãe.

Com “liberdade total” concedida por Eugênia, Paulo Fontenelle mergulhou em entrevistas e pesquisas de acervo (muitas vezes, “em fitas VHS mofadas e desmagnetizadas”), num trabalho que acabou durando quatro anos.

— A Cássia era uma pessoa muito aberta, nunca ficou se preocupando em escamotear nada. Depois de tanto tempo, não fazia sentido transformá-la numa santa. Queria respeitar a memória dela do jeito dela — diz Eugênia.

— Todos os temas relativos à Cássia foram tratados tranquilamente, mas com respeito — assegura o diretor, que revela ter se surpreendido com muito do que descobriu nas entrevistas. — Vi como, perto do fim da vida, a Cássia estava angustiada pela falta de privacidade. Ela estava tão de saco cheio do showbiz que às vezes dava show em churrascaria sem avisar o empresário.

Uma das preocupações de Fontenelle em “Cássia” foi jogar luz sobre o episódio da morte da artista.

— Até hoje tem quem acredite que a Cássia morreu de overdose — indigna-se.

— O que aconteceu naquele dia ainda é muito obscuro para mim, ficou um ponto de interrogação até hoje. O que se sabe é que ela teve três paradas cardíacas consecutivas — acrescenta Eugênia. — Fiquei muito chateada por dizerem que ela morreu vítima de drogas. E também com todo aquele batalhão de fotógrafos na casa da gente.

No fim das contas, segundo o diretor, o seu maior cuidado em “Cássia” foi o de deixar a emoção fluir sem barreiras.

— Quando a gente consegue tocar o coração, a mensagem fica mais eficaz.