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Cultura Celina

'Todos os mortos': filme brasileiro que disputa Berlim tem mulheres no centro de trama sobre racismo

Obra compete com outros 17 títulos na corrida pelo Urso de Ouro, láurea máxima do festival
Fim da escravidão? Temática racial está no centro de 'Todos os mortos' Foto: Hélène Louvart / Divulgação
Fim da escravidão? Temática racial está no centro de 'Todos os mortos' Foto: Hélène Louvart / Divulgação

RIO — O Festival de Berlim divulgou nesta quarta-feira os filmes que concorrem ao Urso de Ouro , principal prêmio do evento, cuja 20ª edição ocorre entre 20 de fevereiro e 1º de março. E há um candidato brasileiro ao troféu principal da Berlinale: “Todos os mortos”, coprodução Brasil-França dirigida por Caetano Gotardo (“O que se move”, de 2013) e Marco Dutra (“As boas maneiras”, de 2018).

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Amigos há 21 anos, quando se conheceram ainda calouros do curso de Cinema da USP, Gotardo e Dutra construíram carreiras paralelas na última década com produções de terror.

O roteiro, assinado pela dupla, conta a trajetória de duas famílias: uma branca, os Soares, e outra negra, os Nascimento. Passados 11 anos da assinatura da Lei Áurea, a trama esboça um panorama da sociedade republicana em construção no Brasil, tão marcada pelas chagas da escravidão. E com o foco nas mulheres dos clãs, protagonistas da obra.

— A gente fez o filme pensando na necessidade de entender a realidade brasileira, a forma como lidamos com o outro — opina Gotardo. — É importante refletir que as relações de classe e raça desenhadas naquela fase da nossa história repercutem bastante no nosso panorama atual.

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Ainda sem data de estreia no Brasil, “Todos os mortos” tenta repetir as vitórias conquistadas por “Central do Brasil” (1998) e “Tropa de elite” (2008), concorrendo com outros 17 títulos.

— O filme dialoga muito bem com o perfil do festival, marcado pela diversidade e por produções que abrem a cabeça da gente — analisa Dutra.

País tem outras chances

Três filmes brasileiros foram selecionados para outras mostras: "Meu nome é Bagdá", de Caru Alves Souza, "Cidade pássaro", coprodução com a França de Matias Mariani, e "Apiyemiyekî", coprodução com França e Holanda dirigida por Ana Vaz.

Em meio a tantas produções nacionais sendo exibidas em mostras internacionais (12 filmes brasileiros participam do Festival de Roterdã, na Holanda, que vai até o dia 2), os diretores de “Todos os mortos” não se intimidam diante do cenário conturbado enfrentado pelo nosso audiovisual.

— O importante é continuarmos nos inspirando para garantir nosso espaço nestes festivais e nosso ritmo de produção — defende Marco Dutra.