Chico Buarque vence o Prêmio Camões, a premiação literária mais importante da língua portuguesa
Jurados escolheram cantor e compositor pelo conjunto da obra
O Globo
21/05/2019 - 16:16
/ Atualizado em 22/05/2019 - 07:20
SC EXCLUSIVO Rio de Janeiro (RJ) 03/01/2017 Ensaio Geral do Show Caravanas, no Vivo Rio - Chico Buraque abre para a imprensa em ensaio geral no Vivo Rio com as musicas Homenagem ao Malandro e As Caravanas. Foto Ana Branco Foto: Ana Branco / Agência O Globo
RIO — O escritor e compositor
Chico Buarque
, de 74 anos, é o vencedor do
Prêmio Camões 2018
, anunciado hoje. Esta é a 31ª edição da mais prestigiada premiação da língua portuguesa, oferecida pelos governos de Portugal e do Brasil. O anúncio foi feito na sede da Biblioteca Nacional, no Rio, pela presidente da instituição, após quase duas horas de reunião do corpo de jurados.
Imagem de 1968 que integra a fotobiografia do compositor, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: Adhemar Veneziano / Adhemar Veneziano
Chico participa, em 1967, do 17º Concerto da Série Gala, da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Teatro Municipal, em que cantou "Carolina" e ouviu, emocionado, a rapsódia composta pelo maestro Lindolfo Gaya e regida pelo maestro Isaac Karabtchewsky Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Chico Buarque com Helen Regina Meirelles, admiradora de seu trabalho, que o acompanhou nos bastidores do Concerto da Série Gala, da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Teatro Municipal Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Chico Buarque de Holanda em foto de 1967 Foto: Renato de Souza Pereira / Arquivo O Globo / Agência O Globo
Homenagem a Chico Buarque, em março de 1970 Foto: Agência O Globo
Imagem de 1968 que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: Cynira Arruda / Cynira Arruda
Imagem de 1966 que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: David Drew Zingg / David Drew Zingg
Chico Buarque em foto de julho de 1972 Foto: Sérgio de Souza / Agência O Globo
Chico com Nara Leão e Cacá Diegues em 1972 Foto: Jorge Ventura / Agência O Globo
Chico com a camisa do Fluminense entre outros craques da música como Dori Caymmi, Toquinho e Nelson Motta Foto: Infoglobo
Chico e Maria Bethânia se apresentam juntos em 27 de maio de 1975 Foto: Arquivo
No palco, Milton Nascimento e Chico Buarque, em show realizado em Três Pontas (MG) em 1977 Foto: Paulo Moreira / Agência O Globo
Marco Nanini, Raimundo Fagner, Edu Lobo e Chico Buarque no programa de TV "O corsário do rei" (1985) Foto: Rede Globo / Divulgação
Imagem que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares e lançada em 2018 Foto: Ayrton Camargo / Ayrton Camargo
Show no Canecão, ao lado de Dona Neuma, Dona Zica e integrantes da Mangueira, em novembro de 1997 Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Chico Buarque em desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, que levou para a avenida o enredo "Chico Buarque da Mangueira", no carnaval de 1998 Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Chico na gravação do clipe de "Carioca", em outrubro de 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Lançamento do show em Juiz de Fora, em 1998 Foto: Marizilda Cruppe / Agência O Globo
Retratado em 2004, quando completou 60 anos Foto: Leo Aversa / Agência O Globo
Chico Buarque joga partida de futebol durante a Festa Literária Internacional de Parati em 2004 Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo
Chico participa do show "Ô Sorte - Wilson das Neves 80 anos", em 2016 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Chico durante o Show de Verão da Mangueira, no Vivo Rio, em fevereiro de 2017 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Chico ao lado do ex-presidente Lula, no plenário do Senado Federal, durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade fiscal Foto: Pedro França / Agência Senado
Chico Buarque na turnê nacional de "Caravanas", título homônimo de seu último álbum. Na foto, o compositor com o chapéu que pertenceu ao músico Wilson das Neves, em 2018 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Em julho de 2018, ao lado de Gilberto Gil, Chico canta no festival "Lula Livre" Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
Chico em comício da campanha de Fernando Haddad, nos Arcos da Lapa, em outubro de 2018 Foto: Alexandre Cassiano / Alexandre Cassiano
Escolhido por unanimidade pelo júri, Chico é o 13º escritor brasileiro premiado com o Camões pelo conjunto da obra, o que inclui, além de romances como "Leite derramado" e "Benjamin", suas letras de música e peças. Ele receberá 100 mil euros em setembro, em Lisboa, em uma data ainda a ser definida.
Chico estava jantando em Paris, para onde viajou para comemorar seu aniversário (no dia 19 de junho), quando foi surpreendido pela notícia do prêmio.
— Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar — disse Chico, em um comunicado oficial, de Paris.
O poeta João Cabral de Melo Neto foi o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Camões de Literatura, em 1990, já na segunda edição. Seu primeiro livro, “Pedra do Sono”, foi escrito em 1942. Sua obra mais conhecida é “Morte e Vida Severina”, de 1966
Rachel de Queiroz (1993)
Foto: Paula Johas / Arquivo O Globo
Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, foi também a primeira a ganhar o Prêmio Camões, em 1993. Entre suas muitas obras estão “O Quinze” e “Memorial de Maria Moura”. Além de romancista, teve também prolífica carreira como tradutora e jornalista.
Jorge Amado (1994)
Foto: Divulgação
O baiano Jorge Amado, um dos autores mais adaptados para televisão, cinema e teatro no Brasil, foi premiado em 1994. São dele obras populares como “Dona Flor e seus dois maridos”, “Tieta do agreste“, “Gabriela, cravo e canela”, “Teresa Batista cansada de guerra” e “Tenda dos milagres”.
Antonio Candido (1998)
Foto: André Gomes de Melo / Reprodução Ministério da Cultura
O intelectual e estudioso de literatura Antonio Candido de Mello e Souza ganhou o Camões em 1998. Sua principal obra é “Formação da literatura brasileira”.
Autran Dourado (2000)
Foto: Monique Cabral / Arquivo O Globo
Autor de “Ópera dos mortos” e “A barca dos homens”, Autran Dourado recebeu o Prêmio Camões em 2000. Além de romancista, Autran escreveu ainda contos, ensaios e obras de crítica literária.
Criador do personagem Mandrake e um dos mais populares escritores de contos do país, Rubem Fonseca foi homenageado com Prêmio Camões em 2003. Entre seus romances, os mais conhecidos são "O Caso Morel", "Bufo & Spallanzani" e "Agosto".
Lygia Fagundes Telles (2005)
Foto: Arquivo O Globo
A escritora paulista Lygia Fagundes Telles ganhou o Camões em 2005. Hoje com 89 anos, é autora dos romances “Ciranda de pedra” e “As meninas”.
João Ubaldo Ribeiro (2008)
Foto: Marcia Foletto / Arquivo O Globo
O advogado, escritor, jonalista, roteirista e professor João Ubaldo Ribeiro foi o vencedor em 2008. É autor de obras populares como “Sargento Getúlio“, “O Sorriso do lagarto“, “Casa dos budas ditosos“ e “Viva o povo brasileiro”.
Ferreira Gullar (2010)
Foto: Leonardo Soares / Arquivo O Globo
O poeta Ferreira Gullar, um dos fundadores do neoconcretismo, foi agraciado com o Prêmio Camões em 2010. Uma das principais figuras da literatura nacional desde a década de 1950, ganhou no ano passado o Prêmio Jabuti de Ficção pelo livro “Em alguma parte alguma“.
Dalton Trevisan (2012)
Foto: Arquivo O Globo
Em 2012 foi a vez de Dalton Trevisan, o recluso escritor curitibano, um dos principais contistas do Brasil, autor de mais de 40 obras, como "O vampiro de Curitiba", "Pico na veia", "Cemitério de elefantes" e o recente "O anão e a ninfeta".
O poeta, diplomata e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva, um dos principais especialistas na cultura e na história da África, recebeu o prêmio em 2014. Suas missões diplomáticas no continente permitiram obras como “A enxada e a lança: a África antes dos portugueses” (1992) e “A manilha e o libambo: a África e a escravidão” (2002).
Raduan Nassar (2016)
Foto: Eduardo Simões / Divulgação
Raduan Nassar, autor dos romances "Lavoura arcaica" e "Um copo de cólera", foi escolhido por unanimidade pelo júri do Prêmio Camões de 2016. No início dos anos 80, abandonou a literatura e passou a se dedicar à agricultura.
Chico Buarque (2019)
Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Chico Buarque, autor dos romances "Leite derramado" e "Budapeste", foi escolhido por unanimidade na edição de 2019. Além de seus livros, o júri levou em consideração as letras de suas músicas - fato inédito na história do prêmio.
Composto por Clara Rowland e Manuel Frias Martins (Portugal), e Ana Paula Tavares (Angola), Antonio Cicero (Brasil), Antônio Hohlfeldt (Brasil) e Nataniel Ngomane (Moçambique), o júri decidiu atribuir o prêmio "pela qualidade e transversalidade" da multifacetada obra de Chico, "repartida entre poesia, drama e romance".
A decisão foi rápida. Segundo Antonio Cicero, os primeiros membros a sugerirem o nome de Chico foram as portuguesas Clara Rowland e Ana Paula Tavares e o cantor e compositor logo pintou como o favorito na conversa. Fato inédito na história do prêmio, as suas composições foram incluídas como parte de sua obra.
Imagem de 1968 que integra a fotobiografia do compositor, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: Adhemar Veneziano / Adhemar Veneziano
Chico participa, em 1967, do 17º Concerto da Série Gala, da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Teatro Municipal, em que cantou "Carolina" e ouviu, emocionado, a rapsódia composta pelo maestro Lindolfo Gaya e regida pelo maestro Isaac Karabtchewsky Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Chico Buarque com Helen Regina Meirelles, admiradora de seu trabalho, que o acompanhou nos bastidores do Concerto da Série Gala, da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Teatro Municipal Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Chico Buarque de Holanda em foto de 1967 Foto: Renato de Souza Pereira / Arquivo O Globo / Agência O Globo
Homenagem a Chico Buarque, em março de 1970 Foto: Agência O Globo
Imagem de 1968 que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: Cynira Arruda / Cynira Arruda
Imagem de 1966 que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares Foto: David Drew Zingg / David Drew Zingg
Chico Buarque em foto de julho de 1972 Foto: Sérgio de Souza / Agência O Globo
Chico com Nara Leão e Cacá Diegues em 1972 Foto: Jorge Ventura / Agência O Globo
Chico com a camisa do Fluminense entre outros craques da música como Dori Caymmi, Toquinho e Nelson Motta Foto: Infoglobo
Chico e Maria Bethânia se apresentam juntos em 27 de maio de 1975 Foto: Arquivo
No palco, Milton Nascimento e Chico Buarque, em show realizado em Três Pontas (MG) em 1977 Foto: Paulo Moreira / Agência O Globo
Marco Nanini, Raimundo Fagner, Edu Lobo e Chico Buarque no programa de TV "O corsário do rei" (1985) Foto: Rede Globo / Divulgação
Imagem que integra a fotobiografia de Chico Buarque, 'Revela-te, Chico', organizada por Augusto Lins Soares e lançada em 2018 Foto: Ayrton Camargo / Ayrton Camargo
Show no Canecão, ao lado de Dona Neuma, Dona Zica e integrantes da Mangueira, em novembro de 1997 Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Chico Buarque em desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, que levou para a avenida o enredo "Chico Buarque da Mangueira", no carnaval de 1998 Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Chico na gravação do clipe de "Carioca", em outrubro de 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Lançamento do show em Juiz de Fora, em 1998 Foto: Marizilda Cruppe / Agência O Globo
Retratado em 2004, quando completou 60 anos Foto: Leo Aversa / Agência O Globo
Chico Buarque joga partida de futebol durante a Festa Literária Internacional de Parati em 2004 Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo
Chico participa do show "Ô Sorte - Wilson das Neves 80 anos", em 2016 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Chico durante o Show de Verão da Mangueira, no Vivo Rio, em fevereiro de 2017 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Chico ao lado do ex-presidente Lula, no plenário do Senado Federal, durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade fiscal Foto: Pedro França / Agência Senado
Chico Buarque na turnê nacional de "Caravanas", título homônimo de seu último álbum. Na foto, o compositor com o chapéu que pertenceu ao músico Wilson das Neves, em 2018 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Em julho de 2018, ao lado de Gilberto Gil, Chico canta no festival "Lula Livre" Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
Chico em comício da campanha de Fernando Haddad, nos Arcos da Lapa, em outubro de 2018 Foto: Alexandre Cassiano / Alexandre Cassiano
Outro fator que contribuiu para a decisão do júri foi o alcance da obra do cantor e compositor, que atravessou fronteiras e se tornou referência em diversos países.
— Consideramos suas letras como poemas — conta Antonio Cicero. — É assim que deve ser, como ficou claro com o Nobel de Literatura ao Bob Dylan. Uma música como "Construção" é uma obra-prima.
O Prêmio Camões de Literatura foi criado em 1988 pelos governos brasileiro e português, com o objetivo de consagrar pelo conjunto da obra um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural lusófono.
Nessas 31 edições, o prêmio contemplou nomes como Antonio Lobo Antunes, Mia Couto e José Saramago, além dos brasileiros Jorge Amado, Autran Dourado, João Cabral de Mello Neto, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Alberto Costa da Silva e Raduan Nassar.