O Itaú Cultural estreia, neste sábado (19), uma plataforma de streaming gratuita dedicada exclusivamente à produção audiovisual brasileira. O catálogo do Itaú Cultural Play, que entra no ar no Dia do Cinema Brasileiro, reúne 135 filmes (longas e curtas-metragens, ficções e documentários) e séries de todos dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, dirigidos por 120 diretores (64 homens e 64 mulheres) . Os títulos em cartaz vão de clássicos do cinema brasileiro a obras recentes, com destaque para produções contemporânea e de autoria negra e indígena.
A equipe do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural passou os últimos dois anos trabalhando no desenvolvimento da plataforma. Embora as plataformas de streaming tenham se popularizado e, recentemente, o GloboPlay tenha reforçado seu catálogo de filmes nacionais , com a inclusão de obras de diretores como Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues , a oferta de filmes brasileiros (com exceção de comédias arrasa-quarteirão e outros títulos recente que fizeram sucesso nos cinemas) ainda é tímida. Cinéfilos penam para encontrar, on-line, filmes que marcaram a cinematografia nacional e produções independentes que não chegaram às salas de cinema.
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O Itaú Cultural Play vai estrear com 16 mostra em cartaz. Duas delas homenageiam dois dos maiores nomes do cinema brasileiro: Glauber Rocha , o baiano que usou o cinema para pensar o subdesenvolvimento brasileiro entre as décadas de 1960 e 1970 , e Luís Carlos Barreto , cearense-carioca que produziu obras-primas da cinematografia nacional, como “Assalto ao trem pagador” (1962) e “O quatrilho” (1995). A mostra de Glauber vai exibir sete filmes do cineasta, como “Deus e o diabo na terra do sul” (1964), “Terra em transe” (1967), que, aliás, foi produzido por Barretão, e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969). Outros filmes de Glauber devem entrar no catálogo em breve.
Já os cinco filmes da mostra de Barretão têm um tema em comum: o futebol. Ente eles, estão os documentários “Garrincha, alegria do povo” (1962), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, e “Isto é Pelé” (1974), assinado por Eduardo Escorel e pelo próprio Barreto. Também há mostras dedicadas a cineastas contemporâneos, mais conhecidos na cena independente, como Carlos Nader , Joel Pizzini, Joel Zito Araújo , Júnia Rodrigues e Otto Guerra , e a diretores indígenas , nordestinos e amazônicos .
Segundo Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, a curadoria contou com a colaboração de plataformas do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste (Sapi, Matapi e Nordeste Lab) para mapear a produção cinematográfica das regiões.
— Para nós a diversidade é muito importante. Queremos filmes de ficção e documentários, de autoria negra e indígena, de homens e mulheres, de todos os Estados do país. Uma cineasta indígena, como Sueli Maxakali deve estar ao lado de Glauber Rocha — afirma Ferreira, que também sublinha a quantidade de curta metragens presentes no Itaú Cultural Play: 50. — Os curtas são uma espécie de base da produção audiovisual. Grandes cineastas começam fazendo curtas. Além disso, eles são perfeitos para o streaming por sua duração. Dá até para parafrasear o que o (Julio) Cortázar (escritor argentino) disse sobre o romance e o conto: o longa ganha por pontos e o curta por nocaute.
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O Itaú Cultural Play também vai hospedar filmes produzidos por seis instituições parceiras, como a SP Cia. de Dança , a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) , os institutos CPFL e Alana e os canais de televisão TVE BA e Arte 1. A lista de parceiros deve ser ampliada nos próximos meses. Cada um dos filmes disponibilizados na plataforma conta uma sinopse, a resposta à pergunta “Por que ver?” e sugestões de verbetes da “Enciclopédia Itaú Cultural” capazes de contextualizar as obras. “Deus e o diabo na terra do sol”, por exemplo, deve ser visto por seguir “a trilha a trilha dos maiores ficcionistas brasileiros, como Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa” ao colocar o espectador “no centro do drama sertanejo”. Além disso, “a poderosa trilha sonora de Sérgio Ricardo, a montagem desconcertante e a beleza plástica da fotografia fazem deste filme um marco cinema moderno”.
Segundo Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, a nova plataforma de streaming está inscrita no “DNAl”. Ele lembra que, na década de 1980, a instituição produziu uma série de documentários intitulada “Panorama Histórico Brasileiro”, que foi distribuída para escolas públicas em VHS. Itaú Cultural também já produziu obras audiovisuais como a série documental “Iconoclássicos”, que perfila ícones da cultura brasileira, como o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa e o cineasta Rogério Sganzerla , e, por meio do programa de editais Rumos, financiou produções cinematográficas, como “Edna”, de Eryk Rocha (filho de Glauber), e “Almofada de penas”, de Joseph Specker Nys. Saron afirma que o Itaú Cultural Play quer aliar "o melhor dos algoritmos com o melhor da curadoria".
— Os algoritmos são importantes, é claro, mas queremos que as pessoas possar percorrer nossa curadoria — diz.
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O lançamento do Itaú Cultural Play acontecerá em três fases. A primeira é estreia da plataforma, neste sábado. Depois, as mostras que serão levadas para as salas de exibição do Itaú Cinemas, localizadas em Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A última fase de lançamento será concluída quando a plataforma puder ser acessada por smartphones (Android e iOS) e smartTVs.