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Cultura

Claudia Ohana: 'As mulheres voltaram com o cabelo embaixo do braço porque o mundo encaretou'

Atriz se reinventa dando aulas de interpretação, diz que tem saudade da liberdade dos anos 1980 e critica a obsessão em torno de seus pelos pubianos
A atriz passou por uma crise existencial diante do deserto de oportunidades profissionais imposto pela pandemia Foto: arquivo pessoal
A atriz passou por uma crise existencial diante do deserto de oportunidades profissionais imposto pela pandemia Foto: arquivo pessoal

Quando se deparou com o deserto de oportunidades profissionais imposto pela pandemia, Claudia Ohana teve uma crise existencial. Logo viu ficarem sem previsão de estreia os quatro filmes que havia rodado: "Légua tirana", em que interpreta uma cigana que vê o futuro do rei do baião, Luiz Gonzaga; "Nós somos o amanhã", em que vive uma professora que canta músicas dos anos 1980, como as da Xuxa e as do Balão Mágico; "The lord of creation", que filmou na Inglaterra; e "O incrível dia vermelho de uma dama de alma vermelha", curta-metragem que marca o début da atriz na direção de cinema.

Claudia Ohana aos 58 anos: 'Não tenho mais a necessidade de seduzir todo mundo' Foto: Simone Kontraluz
Claudia Ohana aos 58 anos: 'Não tenho mais a necessidade de seduzir todo mundo' Foto: Simone Kontraluz

O vazio foi a deixa para a cabeça encucar. "E agora, o que vou fazer da vida?", questionou. Para completar, teve complicações familiares em meio à luta que virou a sobrevivência nesse período de pandemia. Precisou segurar a mão da filha, Dandara, e da “eterna enteada”, Janaína Diniz Guerra, e ajudar o pai delas, o cineasta Ruy Guerra , a enfrentar graves problemas de saúde, que culminaram com uma série de internações.

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Há dois meses, no entanto, a tempestade deu lugar à calmaria. Não que Ruy tenha sarado por completo. Ou que ela enxergue muita luz no horizonte profissional. Mas Claudia retomou o leme da vida, que agora navega nas águas tranquilas de Angra dos Reis. Ela se mudou para uma ilha daquela região em janeiro. Desde então, mergulha do deck de casa direto no mar onde tem afogado as incertezas remando por até cinco horas.

O exercício, além de equilibrar a cabeça, a fez perder os cinco quilos que tinha engordado na quarentena. Culpa de um maldito brigadeiro de panela. Também na casa nova, onde tem companhia (“chamo de namorado, mas a gente ainda não se definiu”, conta), ela se reinventa dando aulas de interpretação pelo Zoom. Na tela, aparece com a pele bronzeada que agora constrasta com o cabelo tingido de louro para uma propaganda ("quando me imagino ou sonho comigo, estou morena, ainda não me acostumei com a lourice").

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A verdade é que Claudia enfrenta as bordoadas com coragem desde que perdeu a mãe (a montadora de cinema Nazareth Ohana ) num acidente de carro. Tinha 15 anos e teve que passar de “virgem dependente” a dona do próprio nariz. Sozinha (“nunca tive pai”).

Na entrevista a seguir, a atriz diz que, aos 58 anos, não sente mais “necessidade de seduzir todo mundo” e que tem saudades da liberdade dos anos 1980. Também critica a obsessão com seus pelos pubianos.

Claudia Ohana tingiu os cabelos de louro para uma propaganda Foto: Simone Kontraluz/ Divulgação
Claudia Ohana tingiu os cabelos de louro para uma propaganda Foto: Simone Kontraluz/ Divulgação

Além de alternativa para exercitar a vocação artística em tempos de esvaziamento cultural, as aulas de intepretação também ajudam financeiramente, né?

Sim. Bato palmas para quem está criando, produzindo. Tenho passado esse tempo focada na sobrevivência dos legumes, da minha filha, dos meus netos, do Ruy. Não sou rica. As pessoas têm a ilusão de que atores são todos ricos e vivem tomando champanhe. Mas isso é raridade, não é a vida. A gente bota essa ilusão nas pessoas, né? Faz um Instagram e só posta foto maravilhosa. Meus amigos falam: "Tô vendo pelo Instagram que você está bem". Respondo: "Gente, mas você acredita em tudo do Instagram?". Não que seja mentira, mas a gente mostra o lado bom e não o lado dark.

Qual o ensinamento mais importante do seu curso?

Não é uma aula pronta, cada um vem com uma demanda. Tenho alunos de 7 a 70 anos. Atriz mirim, pessoas que querem se desinibir, gente que não está fazendo nada na quarentena... Eu sou carrasca ( risos ). Já tinha percebido isso quando dirigi meus curtas ( "Embrulho para presente", em que dividiu a direção com um grupo de amigos; e o inédito "O incrível dia vermelho de uma dama de alma vermelha", que ela considera sua estreia como diretora de cinema ). Sou uma diretora carrasca. Como atriz, sou foférrima. Pode perguntar para qualquer diretor que tenha trabalhado comigo. Se mandam falar um texto de cabeça para baixo, botando o dedo no nariz, não questiono, faço. Agora, o meu set tem que ser do meu jeito.

Nas aulas, começo dizendo que luz e enquadramento precisam ser bons. Nasci em cinema, a estética, para mim, é fundamental. Ensino que o personagem tem que vir a partir de você. Se colocar algo entre você e ele, fica fake. É a busca pela verdade o tempo todo. Para o público acreditar, você precisa acreditar no que está falando.

"Vamp" , o maior sucesso da sua carreira, está no ar no Globoplay.  Por que a novela ainda agrada?

Sempre será sucesso porque vampiro é imortal ( risos ), nunca sai de moda. Nem rock, nem dark, nem preto. A novela foi um acerto em todos os sentidos. Era uma grande personagem, enredo e direção maravilhosos. Novela é que nem loteria, você não ganha duas vezes na vida. A gente também nunca sabe o que vai fazer sucesso.

Batalhei muito para cantar e ter conseguido foi um ganho. Tudo foi um ganho nessa novela, embora eu tenha começado muito Morticia Addams. Me inspirava nela dormindo no caixão. Tem a coisa do nicho infantil, e criança é um público fantástico. Agora, essa geração de 33 a 38 anos, que era minha fã, está mostrando para os filhos. Tem criança postando no Instagram vídeos com números da Natasha. É muito louco, mas, para mim, faz parte do passado.

Tem uma boa história dos bastidores?

Em cena, eu dormia num caixão enorme, com uma tampa pesadíssima, e eu sou claustrofóbica. Me "trancaram" lá dentro, fiquei gritando "me tira daqui" e socando a tampa porque não tinha força para levantá-la. Tiveram que fazer uma portinha do lado... Mas eu cantava, dançava, aprendi a amar rock. Porque nunca fui roqueira. Era uma pessoa MPB e metida a cantar ópera. Aí, fui cantar Rolling Stones, que não era a minha praia.

Lembro que queriam que eu gravasse disco, fizesse shows. E eu, cheia dos preconceitos e morais que a gente vai perdendo ao longo dos anos, falei: "Jamais quero lançar disco como Natasha, quero ser seu mesma". Hoje, acho legal aproveitar o momento.

Foi um sucesso avassalador, e eu não tava preparada estruturalmente. Morava num apartamentinho no térreo, tinha um Passat caindo as pedaços... De repente, era invadida em casa, tinham pessoas na minha janela. Tinha que fazer compras e não conseguia sair de casa.

Uma vez, ouvi perguntarem se tinha saudade dos anos 1990 e você responder que sentia mais falta dos anos 1980. Por que?

Peguei o começo dos anos 1980. Tinha 15 anos quando minha mãe morreu e fui morar sozinha. Entrei na vida de cara, com todo mundo de cinema, porque minha mãe trabalhava no meio. Não vivi as décadas de 1960 e 1970, quando teve o golpe militar, o movimento feminista... Vi tudo isso através dos amigos da minha mãe. A gente vivia a rebarba das mulheres que queimaram sutiã. Eu era livre para ir ao Posto 9 e ficar de topless. Não que isso seja liberdade... Porque não associo nudez à liberdade, mas a nossa vontade à liberdade.

Mas era uma liberdade de conhecer pessoas, poder ir lugares com elas. Quem entrava na nossa turma de cinema era quem pensava e não quem tinha o carro do ano, dinheiro ou seguidores. Hoje, vejo esses nichos, uma preocupação com o dinheiro que começou nos anos 1990, talvez com os yuppies . Ali a arte ficou um pouco associada a dinheiro.

Quando fui fazer uma novela da Globo, comprei uma Blazer, e as pessoas vinham me dar parabéns pelo meu carro. Eu achava isso muito esquisito. Estava acostumada com gente que me dava parabéns pelo pensamento, por um filme ou uma ideia. A gente respeitava a pessoa que tinha uma ideia incrível no bar, entende?

Aí você teve filho, muito nova, aos 20 anos, e começaram as preocupações que, muitas vezes, nos levam a encaretar...

Tive Dandara em 1983, e filho era uma coisa que fazia parte. Eu andava com com milhares de pessoas que iam com o filho para o Baixo Leblon. Não que tenha feito isso, porque, àquela altura, eu já tinha vivido o meu Baixo Leblon, já estava em outra. Tive que amadurecer rápido.

Então, acha que, de uma forma geral, o mundo encaretou?

Encaretou a partir da aids. Ali começou aquela coisa de "você é ou não é gay?". Porque, até então, a gente tinha namorados e não importava se ele era ou não gay, simplesmente não havia esse tipo de pensamento. A não ser quando você paquerava, o cara não vinha e você pensava: "Ok, ele não está a fim ou gosta de outra coisa". Quando veio a aids, começaram a dividir as tribos, e o comportamento teve que mudar.

Nos anos 1980/1990, muita gente emburacou nas drogas. Como era sua relação com elas?

Minha época de doidona foi com dos 15 aos 19... Aos 20, já era mãe, e totalmente dona do meu nariz. Quer dizer, já era antes, mas enfim... Tive que ser dona de mim muito rápido. Era megavirgem e megadependente e, de repente foi um "vai à luta, minha filha". A minha grande droga foi a bebida, porque eu era muito tímida. Nunca fui alcoólatra, mas bebia bem.

Maconha acho chato, não posso. Já sou panicada, e ela dá uma noiada. Cocaína é uma droga careta. É engraçado quando alguém diz: "Ah, fulano é doidão, ele cheira". E? Quem disse que ser doidão é cheirar ou fumar maconha? Acho que caretice é um tipo de pensamento, sabe? A cocaína é uma droga que faz você ficar circulando em você mesmo, numa  egotrip. Nada mais careta e insuportável que isso.

Completou 58 anos em fevereiro. Se sente com essa idade?

Não. Às vezes, me pego com atitudes adolescentes. Acho que é porque, talvez, não tenha vivido a adolescência. Falo para as pessoas: "Desculpe, não tive pai, nem mãe, fui abandonada ( Claudia foi criada pela tia materna até os 9 anos, quando conheceu a mãe, que morreu quando ela tinha 15. O pai, o pintor Arthur Carneiro, nunca foi presente) , não tive adolescência, não frequentei a escola, não fiz faculdade, dá um desconto aí". Sempre peço um desconto com essa desculpa ( risos ).

Como foi para uma mulher que chegou a ser rotulada como sex symbol virar avó aos 41 anos de idade?

Primeiro, sex symbol não tem a menor importância na vida da pessoa. A gente pode até brincar, adoro postar uma foto de biquíni e que me falem "que gostosa". É uma delícia. Mas importância prática na minha vida, para as pessoas que eu amo, isso não tem nenhuma. Não fui eu quem botou esse título em mim. Na época, eu achava péssimo, uó. O que queria era ser uma pessoa respeitada ( risos ). Hoje, é ao contrário, a coisa vai invertendo: "Eu penso, gente, sou inteligente, mas sou gostosa também" ( risos ).

Ser avó não me preocupava nem um pouco. Tem coisas na vida que boto de lado. "Como é estar envelhecendo?", "Está com ruga?", "Não tem mais aquele corpo..." Boto de lado! Porque é o que eu tenho. Claro que também sou uma pessoa prática e bem resolvida. Não adianta, não vou ficar correndo atrás de um corpo jovem, de uma cara perfeita e fazer intervenções. Não é do meu feitio. Ainda sou panicada, tenho medo. Então, vou para o meu melhor.

Claro que gosto de me sentir bonita no espelho. Quando me sinto feia, nem me olho. Tem dias que me sinto horrorosa, em outros, me acho gata pra cacete. Mas o fato de me tornar avó não fez passar pela minha cabeça "oh, meu Deus, estou envelhecendo". Minha preocupação era muito mais a da minha filha ter virado mãe.

Que tipo de avó é você?

Neste momento, não posso ficar com meus netos. Estou na ilha e eles voltaram à escola. Arto ( o neto mais novo ), me disse: "Vovó, você não quer ficar com a gente, não gosta mais da gente". Ele é muito sincero. Aí, começo a chorar e tentar explicar que é a pandemia... Tenho esse sofrimento, que é complicado.

Sou uma pessoa que gosta de brincar mesmo, jogar War, mímica, videogame. Tenho Pokémon Go no meu celular, sou nesse nível de retardamento ( risos ). Gosto de mergulhar na piscina para ver quem fica mais tempo embaixo d'água. Tenho esse lado que aproxima muito de criança. Sou uma avó que brinca de igual para igual. Acho que o Martin ( o neto mais velho ) achava que eu era da idade dele ( risos ).

Como é amor e sexo aos 58 anos?

Nada nunca é igual, aos 15, aos 25, aos 45... O que acontece quando ganhamos mais quilometragem na vida... Imagina que comecei aos 15, a gente vai conhecendo muita coisa e se tornando mais seletiva. Cada vez mais. Talvez, aos 70, eu chute o balde total e não seja nem um pouco seletiva. Porque a minha inveja da juventude é isso: o ver pela primeira vez, o não saber, o errar, o se arriscar mais.

Claro que, com relação a amor e sexo, além de se tornar seletiva, não há mais aqueles hormônios todos. A gente não precisa mais seduzir o mundo inteiro, uma coisa que, quando se é muito nova, com todos os hormônios, a gente tem necessidade. Pelo menos, eu era assim... Hoje, não tenho mais a necessidade de seduzir todo mundo, só quem está fazendo entrevista comigo ( risos )...

O tesão arrefeceu...

Dá uma diminuída, e acho bom. Vem a menopausa... Meu jeito de lidar com sexo é mais no lugar do instinto do que da elocubração mental. Para mim, sexo é pele, cheiro. Acredito que isso que não vá conseguir mudar, é o meu jeito de curtir. São aspectos fundamentais para eu ter uma relação sexual. Mas, depois de uma certa idade, quando vamos envelhecendo, não achamos mais todo mundo incrível, charmoso, bonito. Porque antes eu achava ( risos )...

Mas ainda quero amadurecer sexualmente com um companheiro, fazer viagens... Acho sexo fundamental num relacionamento, lindo. Acho a nudez maravilhosa, cresci com uma mãe livre. A gente ia para lugares de praia, e eu ficava tomando banho de mar nua com os amigos dela, todo mundo nu, cantando. Fui criada assim, tanto que a nudez é algo muito normal para mim. Ando nua em casa, meu namorado que fala "Claudia..." ( risos ). Agora, estando aqui na ilha então... Estou totalmente livre.

Você já disse ter se sentido estereotipada por causa das piadas sobre seus pelos pubianos desde aquela "Playboy" de 1985. O que tira daquele episódio nesse momento em que os pelos viraram novamente uma bandeira de afirmação da liberdade feminina?

Naquela época também era, só que eu não tinha noção disso. Porque, na verdade, vinha da geração da minha mãe, amiga de Leila Diniz , Dina Sfat, esse povo que botava os pentelhos pra fora. Era sexy. Era uma moda de feminismo também a da mulher com cabelo embaixo do braço. Eu usava. Agora, está voltando. Talvez, mais forte ainda.

É muito louco como a gente ainda precisa dizer: "O pelo é meu, faço o que quiser". Porque, nos anos 1990, deu essa encaretada de que estou falando no mundo, né? Todo mundo com cabelo liso, raspadinha, essa política de exigência do perfeito em cima da mulher. E significa quase uma puberdade, uma adolescência. Hoje, acho que não precisa ter pelos para ser feminista, mas também precisamos de pessoas que botem os pelos para fora se quiserem. Ainda precisamos queimar sutiã.

As piadas de mau gosto, então, só vieram anos depois que essa "Playboy" foi publicada?

Na época em que a "Playboy" foi lançada, ninguém falou dos meus pelos. Talvez só um grupo de amiguinhos com mulheres despentelhadas. Na mídia, no mundo em que eu vivia, era uma coisa normal. Não chegava a ser uma bandeira minha porque nem era mais uma bandeira, entende? Simplesmente, éramos assim. Essa coisa de falarem dos meus pelos veio depois, na década de 1990, quando começou a encaretar tudo.

Aí, em 1990/2000 meus pentelhos foram ficando cada vez maiores ( risos ). Brinco que, daqui a pouco, vou fazer uma foto com pentelho até aqui ( aponta para a cabeça ) ou vendê-los se tiver numa crise ( risos ). Porque as pessoas são tão interessadas nos meus pelos pubianos... É uma loucura!

Então, as mulheres tiveram que voltar com o cabelo embaixo do braço porque o mundo encaretou. Olha o que está acontecendo: estamos falando de ditadura. É o retrocesso do retrocesso. Estamos voltando para os anos 1960. Como assim?

O fato de ter posado nua duas vezes tem relação com a naturalidade com que encara a nudez? Há quem diga ser essa também uma afirmação de liberdade feminina, mas vivemos numa sociedade patriarcal, que sempre objetificou o nosso corpo...

Nudez, para mim, não significa liberdade. Liberdade é poder fazer o que quiser com o seu corpo. Não tenho problema com a nudez, talvez, pela maneira com que fui criada. Acho natural. Mas posar para uma revista masculina não tem nada a ver com isso. Significa a maneira com que encaro naturalmente o meu corpo e o de qualquer um e também significa um trabalho.

A nudez não me choca, não me agride. Claro que essa minha tranquilidade pode ter facilitado na hora de fazer as fotos, mas não acho que isso seja libertário nesse sentido. Eu diria que, na época, era eu usando a “sociedade patriarcal” para fins profissionais sem a ingenuidade de que não estava sendo usada ou objetificada. Não vejo como orgulho, nem como arrependimento.

Como alguém nascida numa família de artistas avalia o tratamento dado pelo atual governo à cultura brasileira?

A cultura passou por várias crises. Cinema era o que eu mais fazia na época do Collor, quando fui para a televisão. Agora, há um ataque mesmo. Antes, o público idolatrava os atores. Hoje, estamos sendo alvo de especulação e agressividade. A gente representa a mídia, e as pessoas estão com raiva disso. Como se tivéssemos vidas milionárias e mamássemos nas tetas... Queria eu mamar um pouco ( risos ).

Há uma crise geral da cultura com a pandemia, mais essa revolta. Há também muita gente se reiventando, indo para o YouTube, fazendo filmes caseiros. Me chamaram para fazer lives, mas o que vou falar? Diziam: "Fala sobre o que faz para manter sua beleza". Como vou falar de beleza nesse momento?

Acredito que de toda crise sai coisa boa. A cultura é o grande acontecimento de um país. É através de uma cultura que a gente conhece uma cultura. Estão vindo novas linguagens. Eu estou me questionando para caramba. Quero fazer filme, escrever roteiro, fazer clipes de música. Acho que, talvez, possa vir mais liberdade, porque, nos últimos anos, a gente entrou num padrão. Enfim, estou tentando ver pelo lado bom...