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Cultura

Conheça a história do disco 'Ok computer', clássico do rock feito pelo Radiohead no isolamento

Até fantasmas visitaram a banda nas gravações do álbum de 1997, realizadas numa mansão inglesa pertencente à atriz Jane Seymour
O grupo Radiohead em 1997 Foto: Tom Sheehan / Divulgação
O grupo Radiohead em 1997 Foto: Tom Sheehan / Divulgação

RIO - Distópico antes de as distopias se tornarem moeda corrente na cultura pop, com suas histórias de paranoia e insanidade em tempos de excesso de informação, “Ok computer” (1997), terceiro álbum do grupo inglês Radiohead , antecipou o som do rock do Século XXI: aquele em que as guitarras deixam de ser o elemento fundamental, as ambiências eletrônicas assumiram sua importância na construção sonora e a estrutura da canção foi explodida. E em 2020, em meio à pandemia de Covid-19, um detalhe da produção acaba chamando mais ainda a atenção: boa parte do disco foi gravada com a banda em isolamento, em St. Catherine’s Court, mansão elisabetana no interior da Inglaterra.

Após o sucesso inicial com a canção “Creep”, o grupo lançou seu segundo álbum, “The bends” (1995), que o fez se apresentar para arenas lotadas no Reino Unido e no Japão, mas não causou grande impressão entre o público americano. Apostando que o novo álbum chegaria lá, o selo Parlophone deu ao Radiohead um adiantamento de 100 mil libras, que a trupe usou para comprar equipamentos de gravação e levar adiante o plano de produzir sozinha o disco, longe dos olhos da gravadora e do agito das metrópoles.

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As gravações começaram num estúdio pequeno e apertado, com um técnico de som que trabalhara com o grupo, Nigel Godrich (mais tarde, braço direito do Radiohead e produtor renomado). Depois de voltarem de uma turnê nos Estados Unidos, abrindo shows da cantora Alanis Morissette (e tocando algumas das músicas que estariam no novo disco), os músicos resolveram ir para um espaço maior — e encontraram a mansão, pertencente à atriz americana Jane Seymour , onde o grupo Cure havia gravado um disco. Do caseiro da propriedade, o Radiohead, Nigel e o cozinheiro da banda (as únicas pessoas que participariam dos trabalhos) receberam apenas uma recomendação, acerca de Mango, o gato de Jane: “Não o deixe entrar na sala de TV, pois ele mijará no tapete.”

Detalhe da capa de "Ok computer", álbum do grupo inglês Radiohead Foto: Divulgação
Detalhe da capa de "Ok computer", álbum do grupo inglês Radiohead Foto: Divulgação

Na mansão, os integrantes do Radiohead encontraram o ambiente para experimentar tudo o que queriam. No salão de baile, que tinha piso e painéis de madeira e uma grande tapeçaria medieval na parede, encontraram a ambiência perfeita para as gravações, que foram feitas com a banda praticamente tocando ao vivo. “Exit music (for a film)”, composta para a trilha do filme “Romeu + Julieta” (1996), de Baz Luhrman , teve os vocais de Thom Yorke registrados numa escada de pedra, que garantiu um incomum efeito de eco. Já em “Fitter happier”, a parte falada veio de um hilário simulador de voz de um computador Macintosh — e não foi por acaso que o álbum se intitulou “Ok computer”, expressão colhida do livro “Guia do mochileiro das galáxias”, de Douglas Adams .

Recebido pela gravadora como uma tentativa de “suicídio comercial”, o terceiro álbum do Radiohead chegaria ao primeiro lugar das paradas britânicas e 21º da americana, além de se consagrar como um disco de rock definidor da década. E Thom Yorke até teve que agradecer aos fantasmas que o assombraram na mansão: “Fiquei realmente assustado enquanto gravava ‘Exit music’. Parecia que alguém estava ao meu lado”, disse à revista “Rolling Stone”.