Cora Rónai
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Cora Rónai

Jornalista e escritora.

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Cora Rónai

Para quem gosta de viajar, de conhecer pessoas e não foge de um papo cabeça: “Experiência e pobreza: Walter Benjamin em Ibiza, 1932-1933” trata das duas temporadas do filósofo no que era, então, uma ilha agreste e perdida no tempo. Lá não existiam água encanada, luz elétrica, manteiga, jornais e outros luxos, mas era possível viver com muito pouco. O poeta catalão Vicente Valero recria com zelo e delicadeza o ambiente da ilha através de cartas e escritos do próprio Benjamin e de outros viajantes, atraídos pela beleza da paisagem e da sua arquitetura singular. Não é preciso conhecer nada de Filosofia nem saber localizar Ibiza no mapa para apreciar esta extraordinária viagem no tempo e no espaço. Tradução de Daniel Lühmann para a Editora 34.

Para as crianças (e para quem fica com inveja das crianças, que sempre ganham os livros mais coloridos): “Kanela”, de Neil Gaiman, autor de “Coraline”, é uma nova fábula inesquecível. Seus personagens são uma princesa cega que não fala e um tigre paciente que sabe das coisas. Terno, divertido e lindamente ilustrado por Divya Srivasan, “Kanela” é encantador em qualquer idade. Tradução de Flora Pinheiro para a Intrínseca.

Para quem sonha o Brasil: “Meu destino é ser onça”, de Alberto Mussa, é a preciosa compilação de tudo o que nos chegou sobre a cosmovisão dos tupinambás, ideologicamente canibais, e a recriação do seu mito fundador. Lançado em 2009, o livro (agora em nova edição) é a base para o enredo do carnaval de 2024 da Acadêmicos da Grande Rio, e excelente leitura para quem se interessa pela formação do Brasil. Editora Record.

Para quem não tem medo de confissões: “Ioga”, de Emmanuel Carrère, poderia ser, como o autor imaginava a princípio, um “livrinho simpático e perspicaz sobre ioga”. A questão é que, mesmo quando fala sobre ioga, Carrère fala, sobretudo, de Carrère — e a gente lê porque há poucas pessoas tão interessantes, e com tanto a dizer sobre tudo. O que começa com uma temporada inocente num ashram desanda rapidamente com o que acontece lá fora; na segunda parte do livro ele está internado num hospital psiquiátrico por causa de uma depressão severa, na terceira busca a paz no voluntariado com jovens refugiados na Grécia. O tal “livrinho simpático e perspicaz sobre ioga” é, afinal, um dos livros mais intensos e brilhantes do ano. Tradução de Mariana Delfini, Editora Alfaguara.

Para quem adora policiais: “O método siciliano” traz de volta o amado comissário Montalbano no primeiro de três volumes inéditos deixados por Andrea Camilleri, falecido em 2019 — e é, sem favor, um dos melhores da série até agora. Estamos como sempre em Vigata, e um cadáver, visto por acaso por um inspetor da delegacia, desaparece sem deixar vestígios. A capa é horrível, a edição não ajuda, mas a tradução é da deusa Joana Angélica D’Avila Mello, e não podia ser melhor. Editora LPM.

Para quem prefere thrillers psicológicos com um pé na atualidade: “Outro lugar”, de Ayelet Gundar-Goshen, foi lançado em agosto, mas toca nos nervos cada vez mais expostos das tensões raciais e do antissemitismo nos EUA. A israelense Lilach e sua família moram no Vale do Silício e tudo vai bem até que um ataque a uma sinagoga abala sua sensação de segurança; logo depois, passa a ter dúvidas terríveis sobre o filho adolescente, que pode estar envolvido num crime. Tradução de Paulo Geiger, Editora Todavia.

Boas festas, amigos! Foi um prazer ter a sua companhia ao longo do ano.

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