Cora Rónai
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Por — Rio de Janeiro

O ano é 1900. Estamos em Travancore, sul da Índia, e acompanhamos uma menina de 12 anos às vésperas do seu casamento com um homem de 40. Antes de esboçar alguma reação anacrônica, é bom voltar ao primeiro ponto: o ano é 1900. O casamento — que só será consumado algum tempo depois — será feliz. A menina viverá uma longa vida, e será conhecida como Grande Ammachi, a matriarca de um clã marcado por uma estranha maldição: a cada geração, alguém morre afogado. Numa geografia como a de Travancore, esta não é uma maldição trivial — Parambil, o vilarejo da família, é cercado de água por todos os lados. Além de fonte de sustento, os rios são vias de conexão entre as terras. Isso terá enorme impacto na existência das pessoas que vamos conhecer ao longo das 632 páginas de “O pacto da água”, de Abraham Verghese.

São 632 páginas.

Sim, 632.

Alguém ainda lê romances desse tamanho?

Ora, e como! Até anteontem à noite, quando escrevi a coluna, a edição original, em inglês, já tinha tido 167.855 avaliações de leitores no Goodreads, e 18.939 resenhas. Foi escolhida para o clube de leitura de Oprah Winfrey e apontada como um dos livros notáveis de 2023 pelo The New York Times.

É o melhor que li esse ano.

“O pacto da água” (Companhia das Letras, tradução de Odorico Leal) é uma saga familiar envolvente e bem urdida. Grande Ammachi e seus descendentes não têm uma vida fácil; ao contrário, passam por desgraças terríveis e inesperadas, de tal maneira que — como em “Game of Thrones” — até perdemos um pouco a coragem de nos afeiçoar às personagens. Apesar disso, elas seguem em frente e nós seguimos junto, porque a sua resiliência e a sua força vital superam as tragédias. A vida segue, a vida sempre segue, e há muitos momentos bons que compensam as tristezas.

“O pacto da água” não desiste da vida, e nos leva até 1977, quando a neta de Grande Ammachi faz uma descoberta que pega os leitores de surpresa, e dá ao livro uma virada sensacional.

Nada acontece no vácuo. Década após década, o que ocorre para além do vilarejo tem reflexos diretos e indiretos em Parambil — a colonização inglesa, as duas guerras mundiais, o movimento de independência, a Partição, as profundas mudanças sociais e culturais atravessadas pela Índia.

Para nós que mal conhecemos a história indiana, tudo é novo e muito interessante.

Mas o livro é, também e sobretudo, uma saga médica. Abraham Verghese é professor de teoria e prática médica na Universidade de Stanford e não economiza ensinamentos. Ler “O pacto da água” é, em muitos momentos, sentir uma enorme inveja dos seus alunos — não há detalhe que ele não explique de forma clara e fascinante.

A palavra mágica é “entusiasmo”.

Verghese ama a paisagem que descreve, ama as suas personagens e ama, profundamente, a ciência médica. Isso acaba sendo contagioso: eu, que nunca me interessei pelo assunto, estou pensando seriamente em encomendar um exemplar de “Gray’s Anatomy”, escrito em 1858, e até hoje considerado o grande clássico da anatomia, apenas pela paixão com que ele descreve a obra. Afinal, como é que alguém pode viver sem um livro capaz de inspirar sentimento tão intenso?

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