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Cultura

Crítica: Cantor mantém o título de Djavan Supremo em 'Vesúvio', seu novo disco de inéditas

Formato de banda pop valoriza as canções mais dançantes
Capa do disco "Vesúvio", de Djavan Foto: Reprodução / Reprodução
Capa do disco "Vesúvio", de Djavan Foto: Reprodução / Reprodução

RIO — Alguns artistas passam a carreira toda tentando forjar uma assinatura sonora e não conseguem. O alagoano Djavan, hoje com 69 anos, há décadas tem a sua, que aparece de cara em “Vesúvio”, faixa-título e tema de abertura do disco. A levada de violão, com baixo e bateria firmes por trás, estabelece um clima dançante “sério” para o compositor mandar boas letra e melodia. A cozinha é formada por Felipe Alves na bateria e Arthur de Palla no baixo, enquanto o veterano (e feríssima) Torcuato Mariano cuida do violão. Em outras faixas, destacam-se também o piano de Paulo Calasans e os teclados de Renato Fonseca.

O que Djavan chama de um disco “pop”, aliás, certamente tem a ver com a presença dos teclados, geralmente com um som jazz-pop à frente dos demais instrumentos. Na maior parte do disco, quando a levada é mais acelerada, apta ao sacudir de ombros ou quadris, o disco vai melhor. Canções mais lentas e sentimentais como “Tenho medo de ficar só” e a lamentosa “Madressilva” não soam tão redondas. A qualidade das composições não é excepcional, mas o embrulho musical luxuoso mantém Djavan no posto de Djavan Supremo.

Um dos destaques do disco — para o bem e para o mal —, “Orquídea” é Djavan em estado puro. Inspirada na paixão do astro pelas flores que cultiva em seu sítio, a letra da música menciona os nomes científicos de 15 delas, como Cyrtopodium, Sarcoglottis e Cattleya. Não falta originalidade, mas será que o ouvinte está disposto a absorver tanta ciência?

“Viver é dever”, uma das melhores da coleção, também é uma típica djavânica. Com uma levada pop com algum cheiro de Guilherme Arantes, guitarra (também nas mãos de Torcuato) e teclados conduzem o baile, abrilhantado pela poesia do autor em forma mais direta: “Nem queira saber, meu amor/ O quanto eu te quero/ Pois viver é dever/ Na paixão pelo ar/ Se negar, é pior/ Mesmo ao anoitecer/ Vai brilhar como sol/ O melhor é viver”. Mesmo não sendo longa, a canção ainda surpreende musicalmente, com dissonâncias e variações rítmicas. Em uma levada jazz-pop semelhante, “Dores gris” libera banda e cantor para pirar um pouco mais, e o resultado é excelente, da guitarra minimalista de Torcuato aos scats de Djavan (que não deixa de mencionar flores e raízes na letra) no fim.

Cotação: Bom