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Cultura Coronavírus

Curada da Covid-19, Preta Gil diz: 'O isolamento social não precisa ser afetivo'

Cantora vem praticando fisioterapia respiratória e tendo acompanhamento médico para averiguar efeitos do vírus
De volta ao Rio, Preta passou 16 dias em isolamento total em hotel de SP Foto: Reprodução Instagram
De volta ao Rio, Preta passou 16 dias em isolamento total em hotel de SP Foto: Reprodução Instagram

RIO - De volta a sua casa no bairro de São Conrado, Zona Sul do Rio, após 16 dias de quarentena em um hotel, em São Paulo , Preta Gil está curada da Covid-19 . Mas as lembranças do período vão demorar para deixar a cantora, como a ligação que recebeu um dia do gerente do hotel, perguntando “ quando ela iria embora, pois outros hóspedes e moradores estavam incomodados ”. Por outro lado, Preta cita, com carinho, as mensagens e presentes que foram deixados em sua porta.

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A cantora, de 45 anos, conta que se sentiu desnorteada em meio às primeiras informações e aos debates confusos na esfera pública sobre o coronavírus. Para se fortalecer, lançou mão de uma trinca “poderosa”, segundo classifica.

— Ando com duas bonequinhas de crochê: uma de Nossa Senhora Aparecida e outra de Irmã Dulce . Sou filha de Oxum e estava sem uma imagem dela, mas um amigo do Rio me enviou de presente e consegui me amparar nas três. Foram me dando refresco e força no período de isolamento. Eu tinha um certo sentimento de culpa por estar contaminada — confessa.

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Preta diz que fez orações (on-line) com padres, pastores, pais de santos... Um sincretismo que rege sua vida e que, segundo ela, deveria ser a tônica do momento. Se não há vacina para o coronavírus, Preta defende que o amor tem que ser o remédio:

— Se você conhece alguém que está contaminado, um amigo, um vizinho... prepare uma comida e deixe na porta da casa dele. Mande flores, envie mensagens, demonstre carinho. O psicológico pode ser tão fatal quanto o próprio vírus . O isolamento social não precisa ser também afetivo.

Em sua nova rotina, a cantora vem praticando fisioterapia respiratória e tem acompanhamento de uma otorrinolaringologista para avaliar possíveis sequelas da Covid-19. E, enquanto seu corpo se recondiciona após o furacão por que passou, ela diz que espera por novos ventos sobre a sociedade.

— Observo muita gente falando que não vê a hora de tudo voltar ao normal. Mas não podemos justamente voltar àquilo que achávamos normal. Estávamos muito acelerados , e eu sei que o sistema funciona assim, obrigando a gente a girar em torno do consumo desenfreado, por exemplo. É preciso repensar prioridades e a primeira delas deve ser a nossa saúde — diz, lembrando ue se considera uma “privilegiada”.

Diagnosticada com a Covid-19 após se apresentar no casamento da irmã da influenciadora digital Gabriela Pugliesi , Preta lembra que nem chegou a precisar de hospital,  mas tem amigos que estão internados em estado grave. Diante desse cenário, a cantora pondera que é hora de tomar consciência de seu verdadeiro “renascimento”. E também é hora de se livrar das pressões.

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Durante a quarentena, cresce o número de transmissões ao vivo nas redes sociais, com shows, dicas de atrações on-line, leituras de clássicos, cursos e outras propostas que tentam dar ares de normalidade à rotina. Mas Preta acha que a bem-vinda oferta pode vira geradora de ansiedade se não houver bom senso.

— Por favor, não é para ficar se remoendo porque ainda não fez uma receita de bolo, ainda não malhou, ainda não aprendeu francês! Que essa quarentena sirva justamente para repensarmos nossa existência e nos tornarmos mais contemplativos.

Com a pandemia, a família, como muitas, se separou. Fran , filho de Preta, está confinado em casa, na Gávea, com a mulher, Laura, e a filha, Sol de Maria . O patricarca, Gilberto Gil , está em Araras. E Preta, como tantas filhas, mães e avós, mantém contato com todos pelas redes sociais, equilibrando saudade com um comportamento sensato para quem pode ficar em casa neste momento, para que os que não podem tenham condições de trabalhar com segurança, caso de profissionais de saúde, transporte, abastecimento e fábricas.

— Sou muito agarrada com a Sol, só a tenho visto por vídeo. Mas até essa saudade eu aprendi a ressignificar. Eu estou bem aqui, ela está protegida lá e, quando tudo isso passar, vamos estar juntas para nos abraçarmos. Sem sofrimento.

Preta torce para que essa consciência atinja mais e mais pessoas, apesar de confessar que andou vendo “máscaras caindo”. Ela não cita nomes, mas explica que se refere a muitas pessoas que pregam empatia, mas não estão colocando o discurso em prática:

— Não é hora de egoísmo. Entendo o pânico, mas hoje já sabemos melhor quem é o nosso inimigo, o que é esse vírus. Então, passou da hora de sermos mais amorosos, solidários, afetivos, generosos. Pensar diariamente em como ajudar o próximo, transformar isso em exercício. Ser privilegiado não é apenas ser rico, é ter algo que outras pessoas não têm. Seja carinho ou saúde.