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Cultura

Dan Brown mostra lado de compositor e autor infantil em 'Sinfonia dos animais'

Criador do 'Código da Vinci' fala sobre experiência de escrever — e compor — o seu primeiro livro para crianças, que vem com um álbum musical
o maestro ratinho , personagem do livro "sinfonia dos animais", de dan brown. ilustração de susan batori
o maestro ratinho , personagem do livro "sinfonia dos animais", de dan brown. ilustração de susan batori

RIO —  Quando criança, Dan Brown amava as criações divertidas do Dr. Seuss, o autor mais popular entre os pequenos americanos. Agora conhecido por elaborar teorias da conspiração sobre o Santo Graal e os illuminati em thrillers que venderam milhões de cópias, o adulto Brown decidiu voltar à sua paixão de menino. Recém-lançado no Brasil, “Sinfonia dos animais” (Editora Arqueiro) é o primeiro livro infantil do pai de Robert Langdon, o professor de simbologia que protagoniza os best-sellers “O Código Da Vinci” e “Inferno”. Concebendo um mundo mágico à maneira de Seuss, a obra desvenda a personalidade de bichinhos da floresta e dos mares através de poemas, charadas e melodias compostas pelo próprio autor/compositor (ouça músicas no site do GLOBO). Quem guia o leitor é o Maestro Ratinho, que viaja pelo mundo nos apresentando seus amigos musicais.

— É basicamente um livro para ser lido em voz alta, mas também contém uma surpreendente reviravolta musical — conta Dan Brown, em entrevista para a imprensa mundial. — Para cada um dos animais da história, compus uma peça única de música clássica moderna, uma música curta e divertida que reflete a personalidade do animal. E através das novas tecnologias, a música de cada animal acompanha a ilustração e os poemas para criar uma experiência completamente imersiva de contação de história.

Dan Brown e seu cão Winston Foto: Gregory Brown / Divulgação
Dan Brown e seu cão Winston Foto: Gregory Brown / Divulgação

A veia musical de Brown é menos conhecida dos fãs. O autor de 56 anos é filho de músicos e cresceu em um lar sem televisão, tocando piano e cantando no coral. As músicas que acompanham o livro foram baseadas em canções que ele compôs há 30 anos, muito antes de se tornar um dos escritores mais vendidos de sua geração. Se na época ele gravou as faixas em cassetes usando sintetizadores de seu exíguo estúdio, agora elas foram executadas pela Zagreb Festival Orchestra, da Croácia.

— A música era o meu refúgio secreto na infância — conta Brown. — Ela me acalmava quando eu ficava frustrado, era uma amiga confiável quando eu me sentia solitário, me ajudava a expressar alegria quando eu estava feliz e, o melhor, despertava minha criatividade e minha imaginação. Até hoje toco piano todos os dias, normalmente no fim de um longo dia de trabalho escrevendo.

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Além da música, o livro contempla outra fixação de Brown: charadas e mistérios. O autor escondeu códigos e segredos ao longo de todo o livro. Mas, dessa vez, o leitor não vai precisar desvendar enigmas deixados por Leonardo Da Vinci, e sim encontrar pistas para compreender melhor o mundo dos animais e da música. Há, por exemplo, uma pequena abelha difícil de encontrar, e que gosta de se esconder em lugares engraçados (como dentro do nariz de um javali selvagem). Ops, chega de spoiler!

— Quando era criança, eu adorava quebra-cabeças, de todo tipo — lembra o autor. — Deve ser porque, nas manhãs de Natal, meus pais criavam enigmas que eu precisava resolver para encontrar os presentes. Esses primeiros jogos e caças ao tesouro despertaram em mim um amor por charadas e afins. Então, em cada página, escondi uma série de letras embaralhadas para o leitor encontrar e formar o nome de um instrumento de orquestra.

O livro faz parte de um projeto ambicioso, que inclui turnê mundial com orquestras sinfônicas executando as músicas do livro. Por causa da pandemia, porém, o projeto enfrenta severas limitações. A maioria das apresentações foi adiada — estão confirmados apenas um concerto em Zagreb (Croácia) e outro em Portsmouth (EUA). O público será reduzido, o número de músicos também. Mas o autor diz não se abalar.

— A real medida do caráter não é como nos comportamos em tempos maravilhosos, e sim como nos comportamos em momentos difíceis — reflete. — Hoje, diante dos muitos problemas que enfrentamos no mundo, é importante que convoquemos nossa resiliência e sigamos em frente. Cada um de nós compartilhando nossos talentos, amores, compaixões e sonhos, enquanto inspiramos outros a fazer o mesmo. A melhor defesa em tempos não naturais... é continuar fazendo o que sempre fizemos naturalmente.