Cultura

David Junior fala sobre desejo de uma sociedade diferente para a filha que vai nascer: ‘O racismo fez um estrago na minha cabeça’

Ator, que interpretará seu quarto papel de destaque na TV e criou animação infantil sobre representatividade, lembra o passado de vendedor de loja: 'Sempre que um negro entrega o currículo, pensa: será que coloco foto?'
David Junior: 'Quero que minha filha acredite que pode ser o que quiser' Foto: Jorge Bispo/ Divulgação
David Junior: 'Quero que minha filha acredite que pode ser o que quiser' Foto: Jorge Bispo/ Divulgação

David Junior cresceu sem se sentir protagonista da própria vida ou acreditar que pudesse ocupar uma posição de destaque. Marcas de um racismo estrutural que lhe roubou a capacidade de sonhar e a autoestima. Questões que, hoje, ele trata na análise.

David Junior Foto: Renan Brito
David Junior Foto: Renan Brito

Só recentemente, o ator de 34 anos passou a se achar bonito. Mas o público percebeu isso assim que ele surgiu na TV, na série “A cura”. Seu primeiro papel de destaque foi na série “Liberdade, liberdade”. Interpretou o escravo Salviano, que deu o que falar por causa de uma cena de sexo com Maitê Proença. A estreia como protagonista veio com o Ramon da novela “Bom sucesso”, que abriu caminho para o Nando, de “Sessão de terapia”, o Mauro, de “Sob pressão”, e, agora, o Neto, de “Fim”, série baseada em livro de Fernanda Torres, cujas gravações serão retomadas em 2021.

O sucesso de Ramon com o público infantil, que copiou o cabelo do personagem, deu um estalo em David sobre o lugar de referência que havia ocupado. Surgiu aí a premissa de “Hora do Blec”, animação infantil criada pelo ator em parceria com a mulher, Yasmin Garcez. Com episódio novo hoje, no YouTube, a série trata de diversidade e inclusão, tendo como centro da narrativa um garoto negro que usa seu pente-garfo para ativar superpoderes.

Nascido e criado em Nova Iguaçu, filho de uma professora e um policial civil, David cresceu sem se ver representado na TV. Agora, enquanto espera a chegada da filha, Amora, prevista para nascer no mês que vem, seu maior desejo é justamente que ela possa se imaginar sendo o que quiser.

Nesta entrevista, ele conta que só recentemente passou a se enxergar como um homem bonito ("tinha esse preconceito de ver negros de forma negativa, suja, pois foi como aprendi a me ver") e que tenta superar as feridas abertas pelo racismo que sofreu na terapia ("tenho questões para a vida inteira enquanto corpo preto"). Ele também lembra o passado de vendedor de loja ("sempre que um negro entrega o currículo, pensa: 'Será que coloco a minha foto?'”) e conta ter um grupo de WhatsApp com amigos para discutir o machismo ("falamos como nós, homens, somos frágeis e inseguros, por isso agredimos e oprimimos. essas coisas entram na nossa cabeça, e a gente acaba reproduzindo").

Leia a entrevista completa aqui.