Cultura

De massinhas a Minhocas, stop-motion é a maior diversão no Anima Mundi

Técnica de 1907, que será enfim usada em longa nacional, ganha destaque a partir desta quarta-feira na 21º edição do festival

RIO - Massinha de modelar, bonequinhos de arame e alfinetes coloridos estão entre os materiais utilizados pelos 65 filmes em stop-motion selecionados pelo 21º Anima Mundi, cuja sessão inaugural para convidados será nesta quinta-feira, às 20h, na Fundição Progresso. Em suas duas décadas de história, o festival, que abre as portas para o público nesta sexta, nunca recebeu um volume tão grande de títulos animados a partir da técnica usada em sucessos de Hollywood como “Fuga das galinhas” (2000) e “A noiva-cadáver” (2005), na qual objetos ganham movimento ao serem filmados quadro a quadro. Do montante, 11 curtas foram feitos aqui no Brasil, que, no dia 20 de dezembro, emplaca seu primeiro longa-metragem em stop-motion: “Minhocas”, de Paolo Conti e Arthur Nunes. Quem passar pela Fundição no fim de semana vai conferir um cenário do projeto, orçado em R$ 10 milhões e desenvolvido entre São Paulo e Florianópolis ao longo de cinco anos, mobilizando 110 profissionais.

Maquetes e bonecos usados para contar a saga de Júnior, minhoca que é separada de sua família e jogada em uma terra dominada por um verme, integram uma exposição que o Anima Mundi promove a partir do dia 7 no Monumento a Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo.

— O desafio do Brasil ao ingressar no stop-motion é produzir algo capaz de disputar espectadores com os similares de Hollywood, feitos com uma verba dez vezes maior — diz Conti, que construiu os personagens de “Minhocas” com estruturas de aço revestidas com silicone.

Outro longa brasileiro em stop-motion, orçado em cerca de R$ 3 milhões, tendo traças e ácaros como heróis, está em produção em um estúdio em São Carlos (SP): “Teca e Tuti em uma noite na biblioteca”, de Diego Doimo.

— Cerca de 30% do filme vão usar atores, mas o resto é animado e fotografado digitalmente — diz Doimo.

As câmeras digitais tornaram-se as maiores aliadas do stop-motion dentro e fora do Brasil. É o que diz César Coelho, um dos diretores do Anima Mundi, ao avaliar filmes da programação deste ano como o australiano “Sleight of hand”, de Michael Cusack, no qual um boneco toma a consciência de que é animado. Outro título do Anima a usar ferramentas eletrônicas é o canadense “A girl named Elastika”, de Guillaume Blanchet, que usa elásticos e tachinhas.

— O stop-motion é uma técnica que aproxima o cinema de animação da escultura — diz Coelho. — Um filme com objetos requer figurinos e cenários com tanta complexidade quanto um longa com atores. Mas a chegada de novos softwares facilitou o trabalho. Programas como o Dragon calculam com mais precisão a trajetória de um objeto ao ser animado. Essa facilidade ampliou a produção. Daí haver tanto filme agora.

Início nos Estados unidos

Pelas contas de Coelho, o stop-motion corresponde a 15% da programação deste ano, que inclui 510 filmes — desenho animado e computação gráfica são as outras linguagens mais recorrentes. A técnica surgiu em 1907, em “The haunted hotel”, do americano James Stuart Blackton. Ficou popular sobretudo na Inglaterra, graças ao êxito na TV do estúdio Aardman, com a série “Wallacë & Gromit”, mas fez história nos EUA, ao ser explorada em terras hollywoodianas por diretores como Tim Burton e Henry Selick (de “Coraline”), que prepara “The shadow king” para 2014. Na seara indie , a estrela do stop-motion é Joan C. Gratz, ganhadora do Oscar por “Mona Lisa descending a staircase”, que exibe no Anima seu recente “Lost and found”.