Cultura

Defensoria Pública da União entra com pedido de urgência no STJ para tirar presidente da Fundação Palmares

Órgão pede que efeitos da decisão da Justiça Federal do Ceará, que impediu atuação de Camargo, sejam restabelecidos
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — A Defensoria Pública da União (DPU) entrou, na noite desta quarta-feira, com um pedido de tutela provisória de urgência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender a nomeação do presidente da Fundação Palmares, o jornalista Sérgio Camargo. No documento, o órgão solicita que os efeitos da decisão liminar da Justiça Federal do Ceará, que impediram a nomeação de Camargo em dezembro de 2019, sejam restabelecidos.

O pedido deverá ser julgado pelo presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha, que foi quem autorizou Camargo a tomar posse novamente na Palmares, em fevereiro de 2020. A nova solicitação é uma tentativa de suspender a nomeação do jornalista antes do fim do processo que já tramita no tribunal e será votado em plenário pelos outros magistrados.

"O que antes a decisão da presidência do Superior Tribunal de Justiça que suspendeu a liminar caracterizou como um excesso 'em manifestações em redes sociais' tornou-se um concreto e evidente desrespeito ao ordenamento jurídico, apto a justificar a reconsideração da suspensão e o restabelecimento do determinado pela primeira instância federal [...] Em suma, o que em 11/2/2020 parecia um risco menor, hoje é dano concreto", diz a defensoria no documento.

O órgão listou, no documento, uma série de novos episódios para justificar o pedido de urgência. Entre eles, os textos publicados na página da fundação, em 13 de maio, questionando Zumbi dos Palmares e o movimento negro. Segundo a DPU, as publicações "ofendem a lembrança, a ancestralidade e as tradições da população negra". As postagens foram apagadas após decisão da 9ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Distrito Federal.

Além disso, a defensoria relembra as alterações na estrutura da fundação, como a extinção do Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, e também a "preparação de um selo em que a Fundação Cultural Palmares 'certifica que uma pessoa não é racista' a ser conferido à 'vítima de campanha de difamação e execração pública da esquerda', que foi anunciado pelo próprio presidente do órgão nas redes sociais.

Ainda nesta quarta-feira, mais cedo, foi protocolado um pedido, na Câmara dos Deputados, para que o Ministério Público Federal (MPF) instaure inquérito para investigar a fala de Camargo, em que ele classifica o movimento negro como "escória maldita", segundo áudio gravado em uma reunião em abril e revelado nesta terça-feira pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

O pedido de abertura de inquérito leva a assinatura de parlamentares de partidos de esquerda, como PSOL, PT, PDT e PSB, com a presença de deputados negros, como Áurea Carolina (PSOL/MG), Benedita da Silva (PT/RJ), Talíria Petrone (PSOL/RJ), Bira do Pindaré (PSB/MA), Damião Feliciano (PDT/PB), David Miranda (PSOL/RJ) e Orlando Silva (PCdoB/SP).