Cultura

Drake: na briga com Kanye West pelo álbum de rap da temporada, o vencedor é a briga

Similar em muitos pontos do ‘DONDA’ do oponente, ‘Certified lover boy’ traz um artista que dialoga com o passado enquanto tenta avançar com as suas rimas
O rapper Drake Foto: Divulgação
O rapper Drake Foto: Divulgação

RIO - Dois dos mais aguardados álbuns de rap de 2021 chegaram ao streaming com apenas cinco dias de diferença. No domingo, foi o “DONDA”, do americano Kanye West – depois de várias audições abertas em estádios do disco inacabado, a gravadora resolveu (segundo Kanye, sem sua autorização) lançá-lo. E na madrugada de sexta, foi a vez de “Certified lover boy”, do canadense Drake.

A briga – que os dois alimentam há anos, com provocações de lado a lado em declarações, postagens em rede sociais e letras dos raps – promete ser boa: enquanto “DONDA” teve 180 milhões de streams em suas primeiras 24 horas de lançado, “Certified” conta com o histórico de Drake como o primeiro artista a ter atingido 50 bilhões de streams no Spotify.

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Muito os dois discos têm em comum: são longos (27 faixas em 108 minutos o de Kanye, 21 faixas em 74 minutos o do oponente) e contam com inúmeras participações especiais de outros rappers – Jay Z, Lil Durk, Kid Cudi e Lil Baby, por sinal, estão nos dois discos, para mostrar (imagina-se) que não existe lado certo nessa guerra. Mas enquanto Kanye, de 44 anos, alternou hinos de louvor e raps fumegantes, cheios de autoconfiança, em um disco em homenagem à falecida mãe; Drake, de 34, preferiu fazer um disco, basicamente, sobre amor. E, assim como “DONDA”, bem irregular.

Capa do álbum "Certified lover boy', do rapper Drake Foto: Reprodução
Capa do álbum "Certified lover boy', do rapper Drake Foto: Reprodução

Os emojis da capa, assinada pelo artista visual britânico Damien Hirst , podem até dar a ideia de que Drake resolveu encarnar um reprodutor implacável à la Mr. Catra. Mas ali está alguém bem mais sentimentalmente vulnerável, num disco com bastante drama, acenos ao r&b dos anos 1990 e indiretas a Kanye West. O disco abre cheio de vida, com “Champagne poetry” (que tem reflexões sobre paternidade e uma citação de “Michelle”, dos Beatles) e “Papi’s home”. As melodias mais típicas dos hits de Drake surgem na terceira faixa, “Girls want girls” (com Lil Baby) e seguem por “Fair trade” (com Travis Scott) e “IMY2” com Kid Cudi.

A maior parte de “Certified lover boy”, no entanto, é deslavadamente romântica. Seja na “Love all” com Jay Z, em “N 2 deep”, “Race my mind”, “Get along better”, “Pipe down” (com alfinetadas em Kanye West pelo resultado comercial dos discos “ye” e “Jesus is King” ) e “TSU”, que traz um problemático sample de “Half on baby”, do cantor e ídolo do r&b RKelly (atualmente preso por causa de diversas acusações de crimes sexuais ). Lembrando que “DONDA” causou semelhante espécie por causa das participações de DaBaby ( rapper criticado por comentários homofóbicos ) e do cantor Marilyn Manson ( acusado por várias mulheres, este ano, de abuso sexual ).

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Mas há espaço em “Certified lover boy” para a velha e boa virulência verbal, sem a qual não se faz um bom rap. Ela está em “No friends in the industry” e “7AM on Bridle Path” (ambas com bombardeios a Kanye), “Knife talk” (com Project Pat e 21 Savage) e “You only live twice” (com Rick Ross). Um pouco mais equilibrado como álbum do que “DONDA”, o novo disco de Drake não ganha briga alguma – se muito, estimula os dois rivais a produzirem mais.

Cotação: Regular