BERLIM - A produção israelense "Synonyms", de Nadav Lapid, foi a grande vencedora do Urso de Ouro de melhor filme da 69ª edição do Festival de Berlim, encerrada na noite de sábado. O drama é centrado na figura de um jovem israelense que se refugia em Paris para escapar de sua própria nacionalidade. O filme já havia ganhado o prêmio da crítica, oferecido pela Fipresci (Associação Internacional de Críticos de Cinema), anunciado na noite de sexta-feira.
— O filme redefine Israel de uma forma que pode parecer escandalosa. Mas, para mim é uma grande celebração não só do país como também do cinema, e espero que as pessoas entendeam a fúria e ódio entre irmãos e irmãs como emoções poderosas — agradeceu Lapid.
A edição deste ano foi marcada por forte carga política, enfatizando a participação feminina em todos os segmentos da programação - sete dos 17 títulos que competiram pelo Urso de Ouro eram dirigidos por mulheres. As produções em competição abordaram temas como exploração de menores, implosão de estruturas familiares tradicionais, feminismo e lembraram eventos históricos que ecoam nos dias de hoje.
O grande prêmio do júri foi para "Grâce à dieu", do francês François Ozon, sobre o caso real de um padre de Lyon acusado de abusos sexuais de crianças de sua paróquia. O troféu de direção acabou nas mãos da alemã Angela Schanelec, por "I was at home, but", centrado nos rompantes de uma mãe estressada com o desaparecimento do filho adolescente.
Lamento por Yimou
A edição deste ano foi marcada por forte carga política, enfatizando a participação feminina em todos os segmentos da programação - sete dos 17 títulos que competiram pelo Urso de Ouro eram dirigidos por mulheres. As produções em competição abordaram temas como exploração de menores, implosão de estruturas familiares tradicionais, feminismo e lembraram eventos históricos que ecoam nos dias de hoje.
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A atriz Juiette Binoche, presidente do júri internacional deste ano, leu uma nota de pesar pela retirada, de última hora, de "One second", de Zhang Yimou, da competição, sob a alegação de "problemas técnicos", reforçando a suspeita de censura à obra.
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O Urso de Prata de roteiro foi conquistado por "La paranza dei bambini", do italiano Claudio Giovannesi. O filme, que descreve a formação de uma gangue de de adolescentes nas ruas de Nápoles. A história é uma adaptação do livro homônimo do jornalista Roberto Salviano, autor de "Gomorra", no qual desvenda os meandros da máfia italiana, que virou filme pelas mãos de Mateo Garrone.
— Quero dedicar este prêmio a todas as pessoas que salvam vidas nas ruas. Escrever o roteiro desse filme é uma forma de resistência — declarou Saviano, que desde 2006 vive sob forte segurança policial.
A produção chinesa "So long, my son", de Wang Xiaoshuai, levou os Ursos de Prata de de interpretação masculina e feminina, para Wang Jinhchun e Mei Yong, respectivamente. Na tela, a dupla vive um casal traumatizado pela morte do único filho, nos anos 1980, e que os perseguirá ao longo de três décadas.
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O prêmio Alfred Bauer, para filmes que ofereçam novas "perspectivas artísticas", foi para o alemão "System crasher", de Nora Fingscheidt, sobre uma menina de nove anos como sérios problemas neurológicos, rejeitada pela mãe e por famílias adotivas. O prêmio de contribuição artística foi para a fotografia do norueguês "Out stealing horses", de Hans Petter Moland.
O Urso de Ouro de melhor curta ficou com o alemão "Umbra", de Florian Fischer e Johannes Krell. O prêmio de diretor estreante foi para o alemão Mehmet Akif Buyukatalay, por "Oray". O júri de documentários, que contou com a particição da brasileira Maria Augusta Ramos, de filmes como "O processo" (2018), elegeu a produção sudanesa "Talk about trees", de Suhain Gasmelbari.
Brasileiros pouco celebrados
O cinema brasileiro, este ano representado por 12 produções — entre elas "Marighella", de Wagner Moura, exibido em caráter hors concours — saiu da Berlinale sem prêmios oficiais (ao menos entre os longas. O documentário "Espero tua (re)volta", de Eliza Capai, no entanto, foi lembrado por júris independentes: recebeu o prêmio Anistia Inistia Internacional, concedido a obras que abordam questões relacionadas aos Direitos Humanos; e o prêmio Peace Film, para os filmes que contribuem com mensagens pacíficas. O filme de Eliza registra as lutas estudantis paulistas de 2015 a partir do ponto de vista de três jovens ex-secundaristas.
O ator suíço Bruno Ganz, de filmes como "Asas do desejo" (1987), de Wim Wenders, e "A queda" (2004), de Oliver Hirschgiegel, que faleceu neste sábado, foi lembrado durante a cerimônia de premiação e saudado com uma salva de palmas. Dieter Kosslick, que deixa o cargo de diretor artístico da Berlinale este ano após 18 edições, também foi homenageado com um vídeo que lembrou alguns dos melhores momentos de sua gestão.
O prêmio Audi de melhor curta-metragem foi para "Rise", de Bárbara Wagener e Benjamin de Burca, coprodução entre Brasil, Estados Unidos e Canadá. O filme acompanha uma comunidade de jovens artistas da periferia de Toronto, no Canadá.
Os vencedores
Filme: "Synonyms", de Nadav Lapid
Grande Prêmio do júri: "Grâce à dieu", de François Ozon
Prêmio Alfred Bauer: "System crasher", de Nora Fingscheidt
Direção: Angela Schanelec, por "I was at home, but"
Atriz: Mei Yong, por "So long, my son"
Ator: Jingchun Wang, por "So long, my son"
Roteiro: "La paranza dei bambini" (Roberto Saviano, Maurício Barucci e Claudio Giovannesi)
Contribuição artística: "Out stealing horses" (fotografia de Rasmus Videbaek)
Documentário: "Talking about trees", de Suhaib Gasmelbari
Diretor estreante: Mehmet Akif Buyukatalay, por "Oray"
Curta-metragem: "Umbra", de Florian Fischer e Johannes Krell
Curta (prêmio do júri): "Blue boy", de Manuel Abramovich
Curta (prêmio Audi): "Rise", de Barbara Wagner e Benjamin de Burca