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Cultura

Em 'Unidade básica', atriz Ana Petta vive uma médica como a própria irmã, Helena

Série da Universal TV, que estreia nova temporada, tem ainda Caco Ciocler no elenco
As irmãs Helena e Ana Petta, criadoras da série 'Unidade básica', da Universal TV Foto: Divulgação/Flávia Wolf
As irmãs Helena e Ana Petta, criadoras da série 'Unidade básica', da Universal TV Foto: Divulgação/Flávia Wolf

RIO — Uma atriz e a outra médica, as irmãs Ana e Helena Petta dificilmente trabalhariam juntas algum dia na vida. Mas uma ideia na frente da TV fez com que a trajetória profissional das duas se cruzasse e ambas criassem a série “Unidade básica” ao lado do roteirista Newton Cannito .

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Após completar a residência no Hospital das Clínicas de São Paulo, Helena trabalhava em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), enquanto Ana participava da série “9mm” , sobre policiais da divisão de homicídios.

— Era uma série que contava a realidade de uma delegacia brasileira. Assistindo a “Dr. House”, vimos que não havia algo semelhante que acompanhasse a rotina dos médicos no Brasil. Aí chamamos o Newton para trabalhar com a gente nos roteiros — recorda Ana.

Foi assim que, em 2016, os três lançaram “Unidade básica” no canal a cabo Universal TV . A série agora retorna para uma nova temporada que se inicia neste domingo, às 23h, com direção-geral de Caroline Fioratti.

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Com episódios de 30 minutos, “Unidade básica” inicialmente trazia Ana no papel da Dra. Laura, uma médica recém-formada que é surpreendida com uma realidade desafiadora ao ir trabalhar numa UBS. Lá também ela encontra o combativo Paulo, vivido por Caco Ciocler, um médico acostumado a fugir do protocolo para resolver os problemas de seus pacientes.

— Apresentamos uma realidade que muita gente não conhece — conta o ator, que nesta temporada também se aventurou na direção de alguns episódios. — Não é uma série sobre a precariedade da saúde pública, é sobre um sistema funcional, apesar de todas as suas questões. Não falamos da emergência e de superlotação, e sim de medicina preventiva, com médicos que atendem com hora marcada e conhecem as pessoas pelo nome.

Mais de três anos depois, a história é retomada com oito novos episódios. Na trama, após uma passagem de tempo, Laura se dedica à radiologia num hospital, conforme planejara antes. Mas um acontecimento mostrado logo no primeiro episódio faz com que ela decida retornar à UBS ao lado de Paulo. Enquanto isso, os médicos precisam lidar com a chegada de uma nova gerente, Cilene (Fabiana Gugli), que coloca índices de produtividade à frente dos pacientes.

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— É uma gestora da área administrativa, que não é médica. Com isso, é feita a pergunta: estamos fazendo medicina de família ou cumprindo números? —resume Ciocler.

Ao abordar de perto a realidade de quem recorre ao sistema público, a série acaba por levantar temas como violência doméstica e racismo, muitas vezes a partir de histórias reais. Para a médica Helena, “Unidade básica” reflete um momento de debate sobre o papel da medicina na vida das pessoas.

— Há uma discussão em curso no mundo sobre modelos de saúde. Uma parte foca na biomedicina, nos exames de imagem. O “Dr. House” talvez seja o gênio disso. Mas há uma outra que diz que medicina não é só o corpo biológico, que há questões sociais e psicológicas. É aí que a atenção primária vira um lugar estratégico, porque é onde você tem mais contato com as pessoas — conta ela, que após fazer um doutorado na USP, em que estudou o processo de criação da série, lançou este ano o livro “Unidade básica: a saúde pública brasileira na TV” (Editora Hucitec).

Enquanto trabalham na terceira temporada, para ser gravada assim que for possível, as irmãs também refletem sobre o retorno de “Unidade básica” à TV justamente quando o Brasil enfrenta um cenário desafiador com a pandemia da Covid-19.

— Mais do que nunca, temos que dar visibilidade para temas da saúde pública — diz Helena. — A pandemia escancara a importância do SUS e dos profissionais de saúde. A série mostra isso, e fala também sobre como as vulnerabilidades, como acesso à moradia, saneamento e as questões de raça e gênero, afetam nossa saúde e aumentam a mortalidade. A pandemia também tem nos mostrado isso diariamente.

E Ana complementa:

— Lançar “Unidade básica” nesse momento é transformar o nosso trabalho, na ficção, em uma homenagem aos profissionais de saúde que estão enfrentando a mais dura realidade que se poderia imaginar.