Cultura

Estreia do Velvet Underground ganha uma edição especial

Lançado há 45 anos, ignorado pelo público e rejeitado por diversas gravadoras, o disco que virou clássico ressurge com faixas extras

O grupo, com a modelo/cantora alemã Nico, ao centro: temas ácidos se tornaram uma referência para o punk e a new wave
Foto: Terceiro / Divulgação
O grupo, com a modelo/cantora alemã Nico, ao centro: temas ácidos se tornaram uma referência para o punk e a new wave Foto: Terceiro / Divulgação

Ser invariavelmente considerado um dos discos mais influentes da história do rock, ter encabeçado a lista do 500 álbuns mais importantes de todos os tempos, feita pela revista “Rolling Stone” e ter sido adicionado ao seleto arquivo do Congresso Nacional americano, por “sua importância histórica, cultura e estética” — nada disso era para ter acontecido com “The Velvet Underground & Nico”.

Lançado há pouco mais de 45 anos e agora celebrado em uma edição de luxo, com um CD bônus, o disco original de 11 faixas teve tudo contra ele. A baterista de visual andrógino, Maureen Tucker, entrou na banda um pouco antes dos primeiros ensaios, após o sumiço do baterista original, e mesmo assim só porque ela, que tinha tocado em público apenas uma vez, tinha um carro e um amplificador. O empresário e produtor da banda, o artista plástico Andy Warhol, nunca tinha gerenciado ou produzido uma banda antes. Um de seus fundadores, John Cale, não demonstrava muito interesse por rock e era mais ligado em sons experimentais. O vocalista e principal letrista, Lou Reed, até então se dedicava a fazer despretensiosas músicas por encomenda, em geral surf music. E a vocalista convidada (por Warhol), a modelo alemã Nico, era mais conhecida por seu trabalho nas passarelas e tinha pouca experiência de palco, além de não falar inglês.

Três gravadoras rejeitaram o disco, com o diretor de uma delas afirmando que só uma pessoa fora de si iria gostar daquelas músicas que, em dias de paz e amor e em pleno reinado do flower power , falavam abertamente de drogas pesadas, sadomasoquismo e prostituição. E, por fim, diziam os lojistas, que diabos significava aquela banana na capa?

Mas, como na música dos Rolling Stones, o tempo estava ao lado de “The Velvet Underground & Nico”, que fracassou na largada, conseguindo, no máximo, um lugar entre os 200 mais vendidos na época, e vendendo apenas 30 mil cópias nos cinco anos seguintes ao seu lançamento, para depois se tornar um dos trabalhos mais influentes do rock, antecipando tendências como o punk e a new wave. É famosa a frase de Brian Eno, que, durante uma entrevista anos depois, disse acreditar que aqueles 30 mil que compraram o disco formaram uma banda em seguida.

Hoje, músicas como “I’m waiting for the man” (que narrava a busca de um viciado por heroína) e “Venus in furs” (com suas sugestões de práticas sexuais pouco usuais) são consideradas marcos do underground daquela época, do lado B do movimento hippie, o seu rejeitado “dark side”. Elas e as demais faixas do disco original reaparecem no CD bônus em versões alternativas. “All tomorrow’s parties”, por exemplo, surge numa versão instrumental e numa outra, com os vocais de Nico mais secos, sem efeitos, mesmo caso de “Heroin”, muito mais crua que a versão original.

Essa “45th anniversary deluxe edition” traz também cinco faixas extraídas de um ensaio realizado no Factory, o famoso estúdio de Andy Warhol, cuja fauna inspirou Reed a escrever boa parte das letras do disco. Esse mesmo que disseram que ninguém ia ouvir.