Cultura

Fagner: 'Tenho certeza que Ferreira Gullar não queria ir agora'

Cantor estava musicando poemas do seu parceiro em 'Borbulhas de amor'
O poeta Ferreira Gullar Foto: Ana Branco / O Globo
O poeta Ferreira Gullar Foto: Ana Branco / O Globo

RIO - Cantor que levou o poeta maranhense Ferreira Gullar, falecido na manhã de domingo, ao sucesso popular com a canção "Borbulhas de amor" , o cearense Fagner estava inconsolável com a morte do amigo.

— Tenho certeza que ele não queria ir embora agora, o Gullar conhecia bem o momento político, por tudo que passou na vida, e tinha muitas coisas para dizer — disse Fagner, que ainda tem um punhado de poemas dele para musicar. — Havia muitas coisas que ainda queríamos fazer, o Brasil perde um de seus maiores poetas.

Canção do dominicano Juan Luis Guerra, "Burbujas de amor" chamou a atenção de Fagner, que percebeu ali uma boa oportunidade para ter um grande sucesso de rádio — que de fato teria, no ano de 1991.

— Mas eu teria que escolher para fazer a versão alguém que fosse fazê-la bem, e que fosse respeitado, já que eu recebia muita pancada da crítica. Quando ofereci ao Gullar, que era meu parceiro, ele ficou um pouco com o pé atrás porque era uma versão, mas depois curtiu muito — contou Fagner. — Ele teve o maior cuidado em dar dignidade à música, que virou uma das canções mais populares da história da música brasileira.

Fagner foi apresentado a Ferreira Gullar por um de seus parceiros, o poeta Vinicius de Moraes.

— O Vinicius me disse, "Faguinho, já está na hora de eu ir embora, mas vou deixar com você o maior poeta brasileiro" — recordou-se Fagner, que faria em parceria com Gullar as canções "Traduzir-se", "Me leve (cantiga para não morrer)", "Contigo" e "Rainha da vida". — Compor com ele era uma aula. Muitas pessoas precisam de um dicionário para fazer letra, ele era a própria enciclopédia.

Nos últimos meses, Fagner estava pensando em como musicar alguns poemas que Gullar deixara com ele. E tentava convencê-lo a fazer versão de uma outra música de Juan Luis Guerra, "Frío, frío", que, acreditava, poderia ser um outro "Borbulhas".

— Perdemos um grande brasileiro. E eu perdi um amigo que me amava, me respeitava e que me abria portas — lamentou o cantor.