Cultura

Familiares de vítimas de ditador sérvio pedem que Nobel de Peter Handke seja revogado

Autor austríaco, laureado nesta quinta-feira, foi defensor de Slobodan Milosevic, acusado de genocídio
O austríaco Peter Handke fotografado em Paris Foto: ALAIN JOCARD / AFP
O austríaco Peter Handke fotografado em Paris Foto: ALAIN JOCARD / AFP

RIO — A nova polêmica criada pela Academia Sueca ao entregar, nesta quinta-feira, o Nobel de Literatura 2019 para o escritor austríaco Peter Handke ganhou mais um capítulo. A associação Mães de Srebrenica, criada por familiares de vítimas do ditador sérvio Slobodan Milosevic, entrou com um pedido para que o prêmio de Handke fosse revogado.

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O autor austríaco cresceu perto da fronteira com a Eslovênia e foi um ferrenho defensor dos sérvios na Guerra da Bósnia. Por causa disso, foi "cancelado" por companhias teatrais e duramente criticado por intelectuais. Handke não apenas aceitou ser condecorado pelo ex-presidente da Sérvia como ainda discursou em seu enterro, em 2006. Milosevic foi acusado de crimes contra a Humanidade, como genocídio. Mesmo assim, Handke escreveu em um artigo que o político não deveria ser chamado nem de "ditador" nem de "carrasco".

As Mães de Srebrenica, cidade bósnia onde mais de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram mortos em 1995, somam-se a países como Bósnia e Herzegovina, Kosovo e Albânia, que também se recusaram a aceitar o Nobel dado a Handke.

Munira Subasic, presidente da associação, disse ao site da rede de TV Al Jazeera que elas estavam ofendidas por ouvir que um homem que "espalhou o ódio e escreveu falsidades" recebeu um prêmio desta magnitude.

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"Milosevic foi seu ídolo. Milosevic, que entrou para a História como o açougueiro do século XX, que deu sinal verde para o genocídio. Que tipo de mensagem é essa? Eles estão mandando a mensagem que o prêmio Nobel é dado aqueles que apoiam quem matou muçulmanos no fim do século passado? O mundo é tão injusto assim? O mundo odeia tanto os muçulmanos assim?", protestou Subasic.

Uma petição online pedindo a retirada do prêmio de Handke já recebeu mais de 20 mil assinaturas em 24 horas.

Horas após o anúncio de que tinha ganhado o Nobel, o próprio autor se disse "surpreso" com o prêmio da Academia Sueca, ao qual chamou de "decisão corajosa".

Anders Olsson, um dos membros da academia, tentou minimizar a controvérsia.

— Não é um prêmio político, é um prêmio literário — disse Olsson, em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira.