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Quem são as três mulheres que mudaram a história do Globo de Ouro ao serem indicadas a melhor diretora

Conheça Chloé Zhao ('Nomadland'), Regina King ('Uma noite em Miami') e Emerald Fennel ('Bela Vingança'), diretoras que quebraram o recorde de indicações femininas da premiação
Chloé Zhao, Regina King e Emerald Fennel quebraram recorde de indicações femininas ao Globo de Ouro de melhor direção Foto: Divulgação / AFP
Chloé Zhao, Regina King e Emerald Fennel quebraram recorde de indicações femininas ao Globo de Ouro de melhor direção Foto: Divulgação / AFP

RIO— Em mais de sete décadas de existência do Globo de Ouro, a disputa do prêmio de melhor direção sempre foi uma tarefa solitária para as mulheres, já que nunca mais de uma era indicada. 2021 marca uma virada na história da cerimônia, que acontece neste domingo. Dessa vez, três diretoras concorrerão ao prêmio:  Regina King (“Uma noite em miami”), Chloé Zhao (“Nomadland”) e Emerald Fennel (“Bela vingança”).

Até hoje, a única mulher a levar o Globo de Ouro de melhor direção foi Barbra Streisand, por “Yentl”, em 1984. Ao todo, apenas oito diretoras já disputaram o troféu, criado em 1944. Neste ano, além de King, Zhao e Fennel, também concorrem na categoria os diretores David Fincher, por “Mank”, e Aaron Sorkin, por “Os 7 de Chicago”.

Regina King

Nascida em Los Angeles, na Califórnia, Regina King começou a carreira na série de TV “227”, em 1985. No cinema, seu primeiro papel de destaque foi em “Os donos da rua”, de 1991. A consagração como atriz veio em 2019, quando venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em “Se a rua Beale falasse”, drama inspirado na obra de James Baldwin sobre a luta de uma mulher grávida para tirar seu marido, acusado injustamente de um estupro, da prisão. Antes do Oscar, King já havia vencido mais de 35 prêmios por seu papel como a mãe da protagonista.

Além disso, a atriz é vencedora de quatro Emmys por seus papéis nas séries “American Crime” (2015 e 2016), “Seven Seconds” (2008) e “Watchmen” (2020). Como diretora, King conduziu episódios de séries como “This is us”, “Insecure” e “Greenleaf”. Sua estreia na direção de longas de ficção (que lhe rendeu a indicação ao Globo de Ouro) foi o aplaudido “Uma noite em Miami”, que chegou ao Prime Video no início do ano.

Baseado numa peça de Kemp Powers (roteirista da animação “Soul”, da Disney), o filme reconstrói, de maneira ficcional, um encontro que realmente aconteceu entre Malcom X (Kingsley Ben-Adir), o cantor Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o jogador de futebol americano Jim Brown (Idis Hodge) e o lutador Cassius Clay (Eli Goore), que se tornaria Muhammad Ali. Com a obra, King se tornou a primeira mulher negra a estrear um filme no Festival de Veneza, e pode se tornar a primeira negra indicada ao Oscar de Melhor Direção.

"É interessante porque o desempenho desse filme abrirá ou talvez fechará as portas para mais diretoras negras. É assim que as coisas parecem funcionar. Uma mulher recebe uma chance e, se as coisas não vão bem, demoram anos para outra receber uma nova oportunidade", disse a diretora à época do lançamento do filme, em uma entrevista ao The Guardian.

Além de melhor direção, “Uma noite em Miami” também concorre aos Globos de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante (Leslie Odom Jr.) e Melhor Canção Original (por “Speak now”, de Leslie Odom Jr. e Sam Ashworth.

Chloé Zhao

A chinesa Chloé Zhao cresceu em contato com as artes, já que é enteada da atriz Song Dan Dan. Antes de estudar produção cinematográfica na Tisch School of the Arts da Universidade de Nova York, a diretora chegou a trabalhar como promotora de eventos e garçonete.

Lançado em 2015, seu filme de estreia, “Songs my brothers taught me” (“Canções que meus irmãos me ensinaram”, em tradução livre), retratava o dilema de um jovem do interior norte-americano dividido entre se mudar para Los Angeles ou permanecer com a mãe e a irmã pequena, após a morte repentina do pai e a prisão do irmão mais velho. Em seu segundo longa, “Domando o Destino”, de 2017, Zhao voltou às áreas rurais dos Estados Unidos para contar a história de um jovem pobre cuja carreira em rodeios é subitamente interrompida depois de uma queda que lhe causa dano cerebral e limitações motoras. A obra rendeu a Zhao o Prêmio de Arte do Cinema em Cannes, no mesmo ano.

Baseado em um livro-reportagem sobre idosos afetados pela crise econômica que passaram a viver em motorhomes, “Nomadland”, o terceiro longa da diretora, conta a história de Fern (Frances McDormand, que levou o Leão de Ouro em Veneza pelo papel), uma mulher que, após perder sua casa, passa a morar em uma van e a viver de trabalhos precários, como de empacotadora, ao lado de outros nômades. O filme, que também concorre nas categorias Melhor Filme de Drama, Melhor Roteiro e Melhor Atriz de Drama (McDormand) tem previsão de estreia no Brasil para 15 de abril.

“Como contadores de histórias, nossa atividade é registrar coisas, pessoas e o tempo. Meu interesse é nessas coisas que estão prestes a desaparecer, como a cidade de onde Fern é. Talvez seja aí que o romantismo apareça, porque não entro no trabalho pensando que quero examinar uma questão ou fazer um posicionamento. Estou sempre tentando olhar através da perspectiva de alguém que ama um lugar assim, e seu modo de vida”, disse a diretora ao Deadline no início deste ano.

Emerald Fennell

Conhecida por interpretar Camila Parker Bowles, a mulher do Príncipe Charles, na terceira temporada de “The Crown”, Emerald Fennel nasceu em Londres e é formada em Inglês pela Universidade de Oxford, onde começou a atuar em teatro. Seu primeiro papel de destaque foi na série “Call the midwife”, na qual atuou entre 2013 e 2017.

A estreia como diretora veio em 2018, no Festival de Sundance, onde exibiu o curta-metragem “Careful how you go”, em que trabalhou com a atriz Phoebe Waller-Bridge. Mais tarde, a colega a indicaria para assumir o roteiro da segunda temporada da série “Killing Eve”.

Em “Bela Vingança”, Fennel expõe as feridas do machismo ao contar a história de Cassie (Carey Mullligan), uma mulher marcada pelo suicídio que uma amiga comete após ser estuprada. Como retaliação, Cassie passa a frequentar bares somente para fingir embriaguez e se vingar dos homens mal intencionados que se aproximam para se aproveitar de seu estado. O filme também concorre ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama, Melhor Atriz de Drama (Mulligan) e Melhor Roteiro. A estreia nos cinemas brasileiros está prevista para 18 de março.

À Vanity Fair, a diretora afirmou que quis escrever um filme de vingança com uma mulher real como protagonista, como forma de escancarar as mazelas do assédio sexual e a hipocrisia que ainda ronda a forma como o assunto é abordado no cinema.

“Não é sobre a jornada de uma pessoa, é sobre um fenômeno cultural. Tenho 30 e poucos anos, e cresci vendo filmes onde deixar meninas bêbadas em festas ou pegar mulheres embriagadas eram parte da cultura da sedução. Foi realmente importante que todas as cenas em ‘Bela Vingança’, de uma forma ou de outra, fosse algo que nós já tenhamos visto em uma série de TV ou filme de comédia nos últimos dez, quinze anos.”