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'Sempre achei que sequências pareciam caça-níqueis', diz John Krasinski, diretor de 'Um lugar silencioso — Parte II'

Primeira parte do filme com Emily Blunt estreou em 2018 e arrecadou US$ 341 milhões nas bilheterias do mundo
Millicent Simmonds e John Krasinski em cena do filme "Um lugar silencioso - Parte II" Foto: Jonny Cournoyer / Divulgação
Millicent Simmonds e John Krasinski em cena do filme "Um lugar silencioso - Parte II" Foto: Jonny Cournoyer / Divulgação

Quando a reportagem do GLOBO encontrou o elenco de “Um lugar silencioso — Parte II” em Nova York, no começo de 2020, a ficha da pandemia ainda não tinha caído totalmente nos Estados Unidos, mas já naquela época repórteres receberam a recomendação de não cumprimentar ninguém com aperto de mão (abraço e beijo não são coisas que estrelas de Hollywood distribuem com frequência, então nem precisou avisar).

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A expectativa estava mesmo na segunda parte da história original que o ator (e agora diretor e roteirista) John Krasinski havia criado em 2018 e que faturou mais de US$ 341 milhões nas bilheterias do mundo. O longa — cuja sequência está prevista para estrear no Brasil no próximo dia 22 — narra a história de uma família em um futuro em que a Terra foi invadida por criaturas aparentemente extraterrestres que não enxergam, mas que têm uma audição apuradíssima. Para sobreviver, é necessário estar sempre em silêncio. Um mínimo ruído pode significar a morte.

Com isso, o filme traz um outro aspecto pouco explorado em filmes de Hollywood: a linguagem de sinais. Na história, Krasinksi contracena com sua mulher (na realidade e na ficção) Emily Blunt, e seus personagens têm quatro filhos, entre eles uma menina (Regan), que é surda e muda. A atriz que a interpreta, Millicent Simmonds, também é surda, mas não é totalmente muda. Durante a entrevista, ela tinha uma intérprete, mas entendia as perguntas lendo seus lábios.

No segundo filme, a história é bastante centrada em sua personagem, que já no primeiro longa é a chave para a vulnerabilidade dos monstros. Durante a conversa, Millicent comentou o fato de Regan ter uma espécie de superpoder, e que isso de certa forma também se reflete em sua vida real:

— Quando quero falar com minha família em um lugar público, ninguém nos entende e isso é ótimo, por isso aproveitamos para fofocar.

A atriz disse que chegou a ter dúvidas sobre a necessidade de uma sequência, pois achava a história “fechadinha”. Mas o primeiro filme é forte exatamente pelas questões que deixa em aberto e que, em parte, serão respondidas agora. Por exemplo: como tudo começou? Por isso, o GLOBO perguntou a John Krasinski se, mesmo sem saber do sucesso que seria o longa, ele já havia pensado na história toda.

— Sim. Não todo o filme, mas tinha ideia do que acontecia depois. Mas eu não tomei muitas notas, porque não sabia se me deixariam fazer uma sequência. Porém agora aprendi a minha lição: toda vez que eu tenho uma ideia, tomo nota para um possível terceiro filme. Inclusive eu coloquei alguns easter eggs ( surpresas escondidas nas cenas ) que, quando assistirem a um possível terceiro filme, as pessoas vão entender — diz Krasinski, que reaparece em um flashback mostrando o primeiro dia da invasão.

Faltam respostas

E sim, diferentemente do primeiro longa, que tem um final em aberto, “Um lugar silencioso — Parte II” não é uma história em si. Ele depende muito do entendimento do que aconteceu no longa original e não faz o menor sentido sem a parte três, ainda não confirmada, especialmente depois da pandemia, que colocou os estúdios em modo econômico.

Por isso, há um grande risco de que, caso a parte dois não seja um sucesso de bilheteria, não haja parte três. Krasinski disse que ele mesmo, como espectador, sempre foi muito resistente a sequências e que sua resposta inicial ao pedido do estúdio foi um categórico “não”:

— Sempre achei que sequências pareciam, em grande parte, caça-níqueis. E nem sempre são boas como os originais.

O diretor conta que o que mais o motivou foi a personagem de Millicent.

Noah Jupe, Millicent Simmonds e Emily Blunt em "Um lugar silencioso: Parte II" Foto: Jonny Cournoyer / Divulgação
Noah Jupe, Millicent Simmonds e Emily Blunt em "Um lugar silencioso: Parte II" Foto: Jonny Cournoyer / Divulgação

— Ela representa tudo que eu amo no filme: a ideia que nós pais damos aos nossos filhos de que vamos estar sempre ali para protegê-los, o que é uma mentira. Quando os filhos percebem isso é que eles crescem. E a segunda parte é sobre esse crescimento. Essa menina se torna tudo o que esse pai sonhou que ela seria e muito mais. Se o primeiro filme é a minha carta de amor aos meus filhos, o segundo é o meu sonho de que eles cresçam em um mundo em que possam ser corajosos, fortes, otimistas, ferozes e destemidos.

E falando de família, Krasinski não poderia deixar de poupar elogios a Emily Blunt, sua mulher e estrela da franquia. Ele disse que os dois estavam nervosos por trabalharem juntos pela primeira vez, mas que antes de começarem aprenderam o método de cada um.

Para a atriz, “Um lugar silencioso”, o primeiro, é seu trabalho mais pessoal, pois lida com questões de perda familiar, enquanto o segundo é fisicamente exaustivo. Sobre interpretar sem palavras, ela afirma ter achado muito divertido:

— É recompensador, para falar a verdade, porque coloca muita tensão nas cenas. Mas uma coisa interessante que as pessoas que assistem ao filme trazem para a gente é sobre como ele nos coloca em perspectiva sobre o que não damos muito valor no dia a dia, como o som, e que só percebemos a importância quando perdemos.