SÃO PAULO — Associada ao projeto de “Hebe” desde 2014, Andréa Beltrão teve uma relação de altos e baixos com a personagem. Durante pelo menos um ano, ela mergulhou em uma quantidade enorme de reportagens, documentos e vídeos sobre a apresentadora para encontrar um modo de interpretá-la sem que resultasse em uma imitação tosca. Encontrou, literalmente, uma voz para ela. E também uma cara, que impressiona pela semelhança, embora as duas não tenham nada em comum.
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‘Hebe’ trará Andréa Beltrão no papel da icônica apresentadora
Você diz que não queria fazer uma imitação da Hebe. Como, então, compôs a sua versão da apresentadora?
O que fiz foi um trabalho de aproximação de uma pessoa muito conhecida, que ficou 60 anos na televisão. Foi bem difícil até encontrar o meu caminho.
E qual foi esse caminho?
Tentei resgatar a memória que a gente tinha, com coisas dela e situações que ela viveu.
O que mais chamou a atenção na hora de compor, para além da fala e do sotaque?
A Hebe adorava falar, adorava conversar. Tinha uma tara por isso. A fala para ela era muito importante. Para o bem e para o mal, ela falava tudo o que vinha à cabeça. Tinha uma ligação muito livre entre o pensamento e o falar. Isso trazia uma espontaneidade imensa para ela.
Fisicamente, como foi superar as diferenças e chegar nesse resultado que tem impressionado muita gente?
Não sou fisicamente parecida com ela. Meu nariz é maior, o rosto mais fino. Eu achava que tinha que chegar nesse lugar de fala dela, dessa mulher que ri e se diverte. Mesmo quando ela estava sofrendo, era uma força da natureza.
O que o roteiro traz de inédito?
O roteiro da Carol Kotscho tem o lado B. As biografias têm essa característica de mostrar coisas que a gente não sabe. Tem muitas coisas que vamos descobrir porque a família também abriu. O roteiro é a primeira ilha, claro, mas fui para outros lugares. Li três teses sobre a Hebe, li também o livro do Xexéo, que é o maior barato.
Você chegou a ir ao programa da Hebe?
Eu devia estar com uns 20 e poucos anos quando fui ao programa dela. Eu era uma jovem chata e fui porque tinha que divulgar alguma coisa. Mas tinha um fascínio e queria muito ir. Quando cheguei, não sabia muito como me comportar, porque ela era um furacão. Fiquei nervosa e acabei falando porque ela provocava. Ela era avassaladora.
O que considera mais importante no legado dela?
A Hebe falava de coisas importantes que a gente discute até hoje. Tem um programa na Bandeirantes, muito antigo, que ela fez com várias mulheres, porque a (atriz de pornochanchada) Nicole Puzzi tinha acabado de ser mãe. Publicamente, Hebe era contra aborto, mas defendia a liberdade da mulher. Achava que as solteiras tinham que ter amparo. E falava sobre isso há mais de 30 anos.