Cultura Filmes Festival de Veneza 2014

Cinebiografia do poeta italiano Giacomo Leopardi é aplaudida em Veneza

'Il giovane favoloso', de Mario Martone, é o último dos três concorrentes italianos que disputam o Leão de Ouro deste ano

Elio Germano na pele do poeta Giacomo Leopardi, em ‘Il giovane favoloso’
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Elio Germano na pele do poeta Giacomo Leopardi, em ‘Il giovane favoloso’ Foto: / Reprodução

VENEZA — Categoria muito em voga no cinema feito hoje, o drama biográfico reinou solitário na competição do 71º Festival de Veneza, nesta terça-feira (1º), com a exibição de “Il giovane favoloso”, de Mario Martone. Terceiro concorrente italiano da maratona (os outros dois foram “Hungry hearts”, de Severio Costanzo, e “Anime nere”, de Fracesco Munzi), recria a vida do poeta Giacomo Leopardi (1798-1837), da infância cercada de estudos e livros aos grandes salões literários italianos. Embora construído dentro das regras tradicionais do gênero, o filme recebeu aplausos calorosos da porção italiana da plateia de jornalistas.

O título (“O jovem fabuloso”, em tradução livre) vem de um termo extraído do livro “A perigrinação ao túmulo de Leopardi”, da escritora Anna Maria Ortese, e o roteiro, de Martone e Ippolita di Majo, é pontuado por diversas poesias do autor de “Assim” (1826) e “Operette morali” (1827). A trama acompanha o personagem desde a juventude enclausurada na biblioteca do pai, Monaldo, nobre que queria ver o filho seguindo carreira eclesiástica, até suas incursões, já adulto, nos círculos intelectuais de Florença e Nápoles, onde Giacomo, interpretado por Elio Germano, vem a morrer.


O diretor italiano Mario Martone e o ator Elio Germano, estrela de seu filme ‘Il giovane favoloso’
Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
O diretor italiano Mario Martone e o ator Elio Germano, estrela de seu filme ‘Il giovane favoloso’ Foto: GABRIEL BOUYS / AFP

De saúde frágil, cheio de limitações físicas (desenvolveu uma corcunda ainda muito jovem) e atormentado pela solidão e desiludido com as relações humanas, Giacomo acabou gerando uma obra única para sua época, cheia de melancolia e pessismo. Nem mesmo a relação próxima com o boêmio Antonio Ranieri (Michele Riondino), seu melhor amigo, conseguiu arrancá-lo do confinamento social a que se submetia. Martone diz que seu filme se beneficiou de farta documentação sobre o poeta.

– Encontramos depósitos de cartas e outros textos valiosos, além de documentos escritos pelo próprio Giacomo Leopardi. Muito desse materia serviu para que construíssemos a simbiótica relação que ele manteve com Ranieri – explicou o diretor, na coletiva de imprensa que se seguiu à projeção.

Elio Germano foi elogiado por sua composição de um personagem que lhe impôs muitos desafios físicos: a deformidade óssea de Giacomo o obrigou a andar curvado, com o apoio de uma bengala, por grande parte da vida adulta.

– Martone me deu um grande presente com este personagem – comentou o ator, que teve acesso à biblioteca do Palazzo Leopardi, a antiga propriedada da família do poeta, na cidade de Recanati. – Talvez esse tenha sido o filme que mais me forneceu material de pesquisa. Tive o privilégio de conhecer ambientes frequentados por Giacomo Leopardi, a começar pela biblioteca da vila da família dele.

*Carlos Helí de Almeida está hospedado a convite do festival.