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Cinema em casa: Serviço de aluguel de blockbusters por US$ 3 mil mira milionários cinéfilos

Ex-presidente da Ticketmaster cria empresa que permite aos endinheirados ver em casa as estreias mais concorridas
Dan Fellman (à esquerda) e Fred Rosen: filmes poderão ser vistos por US$ 1.500 a US$ 3 mil
Foto: Alex Welsh / The New York Times
Dan Fellman (à esquerda) e Fred Rosen: filmes poderão ser vistos por US$ 1.500 a US$ 3 mil Foto: Alex Welsh / The New York Times

NOVA YORK —  “Tudo tem uma versão de luxo”, diz Fred Rosen, magnata aposentado da Ticketmaster, usando prosaicos cintos como exemplo. “Você encontra um no Walmart por R$ 4 (em torno de R$ 16) e um da Gucci por US$ 1.500 (aproximadamente R$ 6 mil). Então, por que não filmes?”

É uma ideia que atrai empreendedores há anos: por um preço alto, permitir que bilionários de tecnologia, titãs de Wall Street, atletas profissionais, oligarcas russos e outras pessoas muito ricas aluguem filmes, para ver em casa, assim que eles saem nos cinemas. Uma espécie de Netflix para o 1%.

Essas iniciativas, no entanto, sempre deram com os burros n’água. Em 2013 houve uma, com participação da cadeia Best Buy: US$ 500 por filme, além de US$ 35 mil em custos de instalação. Os estúdios, com medo da reação do parque exibidor, relutaram em participar. A pirataria preocupava.

Mas agora Rosen, de 75 anos, e Dan Fellman, seu companheiro de golfe e o maior especialista em distribuição de filmes de Hollywood, podem ter finalmente descoberto como fazer a ideia funcionar. Sem muito alarde, eles fundaram a Red Carpet Home Cinema, que aluga filmes novíssimos de US$ 1.500 a US$ 3 mil cada. Ela tem contratos com estúdios como 20th Century Foxt, Warner Bros., Paramount, Lionsgate, Annapurna e Disney, o que garante cerca de 40 filmes por ano, incluindo grandes lançamentos como “Aquaman” e “Nasce uma estrela”.

Essas parcerias refletem as relações entre indústria e entretenimento que Rosen e Fellman cultivaram ao longo de décadas. A maioria dos estúdios não os vê como revolucionários do Vale do Silício, o que paralisou empresas iniciantes como a Screening Room, que tentou, sem sucesso, desde 2016, acelerar a ida de filmes novos para as casas por um preço premium .

A Red Carpet também chega em um momento em que a indústria cinematográfica está passando por mudanças radicais — o que envolve, por exemplo, a maneira como a Netflix está desafiando a forma tradicional como os filmes são lançados. Os donos de cinemas, em geral, insistem em um período de exclusividade de três meses. A Netflix começou a atacar essa prática, oferecendo aos cinemas uma janela exclusiva de três semanas ou menos para filmes como “Roma” e “Bird box”.

Negócios e golfe

A maioria dos estúdios vê a mudança de distribuição mais ampla como inevitável, segundo Harold L. Vogel, autor do livro didático “Entertainment Industry Economics”:

— Os consumidores querem mais controle — diz ele.

Mesmo assim, os estúdios estão caminhando com cuidado. Nenhuma das empresas que assinaram contratos com a Red Carpet discute o empreendimento publicamente. Várias grandes operações de cinema, incluindo Universal, Sony Pictures e outras da Disney, são contra a Red Carpet. Elas também se recusaram a comentar.

— Acredito que podemos ganhar mais parceiros — diz Rosen. — Somos uma oferta de nicho, mas, mesmo que um estúdio fature entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões anualmente conosco, isso é dinheiro.

Os donos de salas de exibição, entretanto, parecem estar esperando para ver.

— Não tenho nada com isso — diz Adam Aron, executivo-chefe da AMC Entertainment, a maior rede de cinemas dos Estados Unidos, que aproveitou para criticar start-ups como o MoviePass, serviço de bilheteria por assinatura.

O folclórico Mr. Rosen, que assumiu a Ticketmaster em 1982 e ajudou a transformá-la em um Golias, e Fellman, que iniciou sua carreira em estúdios em 1964, trabalharam em detalhes para o Red Carpet durante suas partidas de golfe no Hillcrest Country Club, em Los Angeles. O serviço de luxo funciona mais ou menos como um clube exclusivo. Existe um processo rigoroso de inscrição, e os participantes devem ter um cartão de crédito com um limite de pelo menos US$ 50 mil. Aqueles que se tornam clientes devem comprar um equipamento de US$ 15 mil que se conecta a um sistema de home theater (instalado por um técnico) e vem carregado de proteções contra pirataria.

Período de 36 horas

Os preços dos aluguéis são definidos pelos estúdios participantes, com taxas mais altas para filmes de grande sucesso como “Shazam!” e menores custos para dramas como “A forma da água”. Cada aluguel permite duas visualizações em um período de 36 horas.

Qual o tamanho da Red Carpet? Há mais pessoas que podem pagar do que você imagina. Cerca de 46 mil americanos têm renda anual de mais de US$ 2 milhões, segundo dados da Previdência Social de 2017. Rosen e Fellman, no entanto, insistiram durante um almoço realizado em meados de março que não estavam interessados em tamanho.

— Não estamos procurando nem 10 mil pessoas — diz Rose, que calcula, ao lado de Fellman, que com menos de quatro mil clientes a Red Carpet poderia ter uma receita anual de US$ 300 milhões.

A companhia, que tem Sherry Lansing, ex-presidente da Paramount, como investidor, opera em cerca de 25 residências como parte de um teste desde dezembro.

— Não me interessa começar um negócio que arruíne a experiência de quem vai ao cinema. — diz Fellman. — Talvez tenhamos 400 casas em Nova York e Los Angeles. Talvez cem em cada uma das 30 maiores cidades dos Estados Unidos.

Celebridades e grandes executivos de Hollywood têm visto filmes em suas casas gratuitamente, graças a algo conhecido como Circuito Bel-Air. Os estúdios permitem que um número limitado de VIPs pré-aprovados recebam cópias de filmes novos.

— Nós dissemos aos estúdios: “Vocês definem os termos” — diz Fellman. — Eles gostaram. O que não funciona em Hollywood é entrar de dedo em riste dizendo: “É assim que vai ser”.