RIO — O corpo do cineasta Nelson Pereira dos Santos foi velado, na manhã desta segunda-feira, na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio de Janeiro. Artistas e familiares se despediram do diretor, que morreu aos 89 anos, no sábado . O corpo foi enviado ao cemitério São João Batista para o enterro.
ANDRÉ MIRANDA : Nelson Pereira dos Santos, cineasta do povo
O diretor Luiz Carlos Barreto destacou a importância de Nelson para a cinematografia nacional.
— Ele deixa o legado para o Brasil de que o cinema é uma coisa útil, e não uma futilidade. Ele engrandecia o espectador, provocava reflexão crítica e emoções verdadeiras. Se Glauber Rocha era o profeta, Nelson era o feiticeiro — disse Barreto.
O diretor da ABL Marco Lucchesi destacou o caráter simbólico do velório ocorrer no dia de São Jorge.
— O Nelson é um amuleto, um muiraquitã, pois nesse mesmo dia as pessoas estão celebrando o santo, ogum, nas ruas e nos terreiros. E essa vida cultural foi a que ele retratou de forma inaugural, dando visibilidade a toda pluralidade cultural do Brasil. Foi um grande homem, e deixa uma guia ética para nós.
CACÁ DIEGUES: 'Nelson Pereira dos Santos é uma luz que não se apaga'
Emocionado, o cineasta Walter Salles afirmou que o trabalho de Nelson Pereira dos Santos influenciou não só sua própria obra, como a de todo cinema nacional.
— Nelson Pereira dos Santos está presente toda vez que se pega numa câmera no Brasil. Ele deu régua e compasso para o moderno cinema brasileiro. Foi e é uma bússola para diversas gerações de diretores.
Para o diretor, Nelson é um divisor de águas na cultura brasileira.
— Assim como não é possível falar de literatura sem passar por Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, não é possível falar de cinema sem o nome Nelson Pereira dos Santos.
Para a atriz Regina Cazé, seu cinema é eterno.
— Fica uma grande obra que mudou o cinema nacional.
Mila Chaseliov, neta do cineasta lembrou de Nelson como o "avô flamenguista", indissociável de sua arte.
— A familia respirava cinema a partir dele. Ele deixa para o Brasil um olhar único para nossa identidade, para a formação do nosso povo. — disse Mila. Sob o corpo de Nelson, além das flores, pousa uma vaquinha malhada, uma de suas manias, lembra Mila. — Ele colecionava essas vaquinhas, era aficcionado. Tinha prateleiras inteiras cheias dessas figuras — explica a neta.