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'Não é possível falar de cinema sem o nome Nelson Pereira dos Santos', diz Walter Salles

Corpo do cineasta, que morreu neste sábado, aos 89 anos, foi velado na ABL
Velório de Nelson Pereira dos Santos, na Academia Brasileira de Letras Foto: Custódio Coimbra / O Globo
Velório de Nelson Pereira dos Santos, na Academia Brasileira de Letras Foto: Custódio Coimbra / O Globo

RIO — O corpo do cineasta Nelson Pereira dos Santos foi velado, na manhã desta segunda-feira, na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio de Janeiro. Artistas e familiares se despediram do diretor, que morreu aos 89 anos, no sábado . O corpo foi enviado ao cemitério São João Batista para o enterro.

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O diretor Luiz Carlos Barreto destacou a importância de Nelson para a cinematografia nacional.

— Ele deixa o legado para o Brasil de que o cinema é uma coisa útil, e não uma futilidade. Ele engrandecia o espectador, provocava reflexão crítica e emoções verdadeiras. Se Glauber Rocha era o profeta, Nelson era o feiticeiro — disse Barreto.

O diretor da ABL Marco Lucchesi destacou o caráter simbólico do velório ocorrer no dia de São Jorge.

— O Nelson é um amuleto, um muiraquitã, pois nesse mesmo dia as pessoas estão celebrando o santo, ogum, nas ruas e nos terreiros. E essa vida cultural foi a que ele retratou de forma inaugural, dando visibilidade a toda pluralidade cultural do Brasil. Foi um grande homem, e deixa uma guia ética para nós.

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Emocionado, o cineasta Walter Salles afirmou que o trabalho de Nelson Pereira dos Santos influenciou não só sua própria obra, como a de todo cinema nacional.

— Nelson Pereira dos Santos está presente toda vez que se pega numa câmera no Brasil. Ele deu régua e compasso para o moderno cinema brasileiro. Foi e é uma bússola para diversas gerações de diretores.

Para o diretor, Nelson é um divisor de águas na cultura brasileira.

— Assim como não é possível falar de literatura sem passar por Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, não é possível falar de cinema sem o nome Nelson Pereira dos Santos.

Para a atriz Regina Cazé, seu cinema é eterno.

— Fica uma grande obra que mudou o cinema nacional.

Mila Chaseliov, neta do cineasta lembrou de Nelson como o "avô flamenguista", indissociável de sua arte.

— A familia respirava cinema a partir dele. Ele deixa para o Brasil um olhar único para nossa identidade, para a formação do nosso povo. — disse Mila. Sob o corpo de Nelson, além das flores, pousa uma vaquinha malhada, uma de suas manias, lembra Mila. — Ele colecionava essas vaquinhas, era aficcionado. Tinha prateleiras inteiras cheias dessas figuras — explica a neta.