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'Deserto particular': 'Os personagens conseguem sorrir, gozar, amar', diz Aly Muritiba sobre filme que representa o Brasil no Oscar

Longa que conta história de amor entre um policial e uma pessoa não binária concorreu pela vaga com outros 14 títulos nacionais; diretor fez série 'Caso Evandro'
Cena de "Deserto particular" Foto: Divulgação
Cena de "Deserto particular" Foto: Divulgação

Cansado de tanto “ódio” e “notícia ruim”, o cineasta baiano Aly Muritiba decidiu que seu próximo filme, “Deserto particular”, não seria uma obra de “resistência”, mas de “existência”. Em resumo: uma história de amor em que um raio de esperança parecesse possível no Brasil contemporâneo. E esses elementos foram decisivos para que o comitê composto por profissionais da área indicados pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais apontasse o longa como representante do Brasil na disputa por uma vaga na 94ª edição do Oscar, que será realizada em março de 2022.

“‘Deserto particular’ traz uma tema muito importante: como o amor pode ser um agente de transformação. É disso que o mundo precisa hoje”, disse ontem o produtor e diretor Leonardo Edde, presidente do comitê, ao fazer o anúncio da escolha.

A produção superou outros 14 concorrentes nacionais (como “7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto; “A última floresta”, de Luiz Bolognesi; e “Medida provisória”, de Lázaro Ramos) e em dezembro disputará uma pré-lista com outros títulos do mundo inteiro, da qual sairão os 15 indicados para a categoria de Melhor Filme Internacional.

Estreia em novembro

Se entrar, “Deserto particular” disputará uma vaga na fase final, de cinco escolhidos para Melhor Filme Internacional, que só será conhecida no dia 8 de fevereiro. A previsão de estreia da produção nos cinemas brasileiros é dia 18 de novembro.

— Queria fazer um filme em que os personagens conseguem sorrir, gozar, amar e ser felizes. Todos nós queremos aquela ponta de esperança quando ao fim do dia fechamos o nosso notebook — diz Muritiba, em entrevista por telefone de alguma área remota do Cariri paraibano, onde ele grava uma série para a Amazon (o diretor diz que não pode revelar mais detalhes sobre a nova produção).

Nascido em 1979, o baiano ainda deve estrear em breve o longa “Jesus Kid”, vencedor de três Kikitos (Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Diretor) no Festival de Gramado de 2020. Adaptação do romance satírico de Lourenço Mutarelli, o filme tem no elenco Sérgio Marone e Paulo Miklos. Muritiba também dirigiu a série documental “Caso Evandro”, do Globoplay ,e a série “Carcereiros”, coprodução da Globo e da SprayFilmes.

Com roteiro assinado por Muritiba e Henrique dos Santos, produção da Grafo e da Fado Filmes e distribuição da Pandora Filmes, “Deserto particular” conta a história de Daniel (Antonio Saboia, de “Bacurau”), um ex-policial curitibano afastado de suas funções após um erro. Infeliz após a suspensão, ele parte numa jornada em direção ao sertão baiano à procura de Sara (Pedro Fasanaro), uma pessoa não binária (cuja identidade de gênero não é estritamente masculina ou feminina) com quem havia desenvolvido uma relação amorosa a partir de aplicativos de mensagem. O elenco ainda conta com Thomás Aquino, Cynthia Senek e Laila Garin.

Em setembro, o longa já havia conquistado o prêmio do público da mostra paralela Venice Days, do Festival de Veneza. Agora, com a pré-indicação ao Oscar, começa uma longa campanha pelo filme no mercado americano.

— O objetivo, claro, é colocá-lo na lista final, e vamos trabalhar arduamente para isso. Mas acredito no potencial do filme — diz o diretor, que cita o longa francês “Titane”, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes este ano, como um dos favoritos ao Oscar.

“Deserto particular” traz questões atuais, como a cultura de violência dentro da polícia e a representação de personagens não binários. Ao se relacionar com Sara, o ex-policial enfrenta o preconceito da sociedade.

— O filme não trata frontalmente da violência policial, mas mostra como policiais são formados tendo o emprego da violência como forma de convencimentos e comunicação — diz Muritiba. — Foi também importante representar uma personagem fluida com respeito, afeto e carinho.

Nascido em 1979, Muritiba ainda deve estrear em breve o longa “Jesus Kid”, vencedor de três kikitos (Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Diretor) no Festival de Gramado de 2020. Adaptação do romance satírico de Lourenço Mutarelli, tem no elenco Sérgio Marone e Paulo Miklos. Muritiba também dirigiu série documental “Caso Evandro”, da GloboPlay, e a série “Carcereiros”, co-produção da Globo e da SprayFilmes.

O diretor Aly Muritiba Foto: Olhar Distribuição / Divulgação
O diretor Aly Muritiba Foto: Olhar Distribuição / Divulgação

Experiência carcerária

Antes de virar cineasta, Muritiba trabalhou sete anos como agente carcerário. Ele prepara uma série de true crime para a Globoplay, nos moldes do “Caso Evandro”.

— Trabalhar no sistema carcerário me ensinou a ser um bom ouvinte e um grande observador — diz o diretor. — É um ambiente que exige uma boa comunicação e diplomacia com os presidiários. Lá eu exercitei minha capacidade de escuta e esses atributos foram essenciais para a minha carreira de cineasta.

O longa "Deserto particular", de Aly Muritiba, será o representante do Brasil na 94ª edição do Oscar, que acontecerá em março de 2022. Agora, a produção disputará em dezembrouma vaga na categoria Melhor Filme Internacional da academia americana.