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Em ‘Olmo e a gaivota’, diretora Petra Costa provoca atores

Premiado no Festival do Rio, documentário mistura realidade com atuação
Cena de 'Olmo e a gaivota' Foto: Divulgação
Cena de 'Olmo e a gaivota' Foto: Divulgação

RIO — Depois de se aprofundar na intimidade da própria família em seu elogiado longa-documentário de estreia, “Elena” (2012), no qual abordava de forma poética e abstrata o suicídio da irmã , Petra Costa sentiu que era hora de “ir para fora”, nas palavras da própria. Foi assim que nasceu “Olmo e a gaivota”, premiado como melhor documentário do 17º Festival do Rio , na terça-feira passada.

— Eu estava fascinada para trabalhar com atores, pois venho do teatro, mas, ao mesmo tempo, queria continuar a investigar a arqueologia de afetos — reflete a mineira. — Meu interesse, tanto nesses dois filmes quanto no meu curta “Olhos de ressaca” (2009), é pegar uma situação e mergulhar em suas camadas mais profundas, em termos psicológicos.

Em “Olmo...”, Petra, que divide a direção com a dinamarquesa Lea Glob, se debruça sobre a intimidade alheia, ao acompanhar de perto um casal de atores: a italiana Olivia Corsini e o francês Serge Nicolaï, do Théâtre du Soleil, de Paris. Olivia se vê obrigada a abandonar repentinamente os palcos por conta de uma gravidez.

— São dois atores talentosos e generosos que abriram suas vidas com muita facilidade. Compartilharam com a gente todo o material de arquivo que tinham. Olivia registrou, durante os nove meses de gestação, um diário narrando pensamentos bem íntimos.

Petra diz não ter se preocupado com os possíveis conflitos que normalmente surgem quando uma equipe de cinema segue de forma muito próxima questões tão pessoais. “Toda crise gera evolução”, ela dizia para si mesma. E houve pelo menos uma:

— Na primeira vez em que a Olivia assistiu ao filme, ela teve um choque, um medo de não se reconhecer completamente no que estava na tela. Questionou algumas coisas. Mas, logo depois, se identificou — diz Petra.

SEQUÊNCIA ENCENADA

Embora “Olmo...” tenha sido classificado como documentário no Festival do Rio, ele explora a fronteira entre realidade e atuação, o que é ressaltado, por exemplo, quando Petra pede que seus personagens repitam um diálogo, mas com motivações diferentes. Além disso, a cena de abertura, em que Olivia descobre que está grávida, foi rodada após o nascimento do bebê — portanto, numa sequência totalmente encenada.

— Eu intervinha nas cenas sem me preocupar se minha voz, por exemplo, ia aparecer. Meu interesse era provocá-los. Você vê a potencialidade de um ator no momento em que ele muda a improvisação assim que recebe uma nova orientação do diretor.