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Espionagem, sexo e alta costura: o poder feminino dá as cartas em 'Killing Eve'

Estrelas da série britânica, que estreia segunda temporada no Globoplay, Jodie Comer e Sandra Oh rejeitam comparação com James Bond
Jodie Colmer e Sandra Oh em cena de 'Killing Eve': adaptada da saga de livros 'Codinome Villanelle'
Foto: Divulgação
Jodie Colmer e Sandra Oh em cena de 'Killing Eve': adaptada da saga de livros 'Codinome Villanelle' Foto: Divulgação

RIO — Depois de “007 contra Spectre” (2015), filme mais recente de James Bond, especulou-se que Daniel Craig iria se aposentar do papel e ser substituído por uma mulher. O austríaco Christoph Waltz, vilão do filme, declarou ser contra a mudança do gênero — mas sugeriu a criação de uma série com uma espiã tão cativante quanto Bond.

Eis que ano passado surge “Killing Eve”, adaptada da saga de livros “Codinome Villanelle”, produzida pela BBC America e que chega nesta segunda-feira ao Globoplay.

“Killing Eve” tem tudo o que um filme de 007 tem: a personagem-título trabalha para o MI-6, serviço secreto britânico; as duas protagonistas são uma americana e uma russa, o que traz ares de Guerra Fria; a narrativa passa por cidades europeias (o episódio da segunda temporada em Amsterdã é imperdível). Por fim, tem sedução, sexo, alta costura, sarcasmo, ironia, uma trilha sonora matadora e os mais bizarros assassinatos praticados por Villanelle, sedutora psicopata interpretada pela britânica Jodie Comer.

Na sua cola está Eve Polastri — Sandra Oh, de "Grey’s Anatomy", brilhante no papel. Trata-se de uma investigadora fascinada por serial killers que fica obcecada por Villanelle a ponto de esquecer de seu próprio casamento.

' Segundo o jornal inglês “The Independent”, os diálogos irônicos entre Eve e Villanelle levaram a roteirista Phoebe Waller-Bridge (criadora e estrela da série “Fleabag”) a ser contratada para “dar toques femininos e feministas” no próximo roteiro de James Bond. Mas Sandra (Globo de Ouro de melhor atriz em série dramática) e Jodie (Bafta de melhor atriz em série de TV) não curtem a comparação com 007.

— Acho a questão problemática, porque ela implica em sempre buscar reconhecimento no arquétipo masculino — elabora Sandra. — Eu entendo o porquê disso, mas gostaria de dizer que fomos além disso e que somos uma coisa só nossa. Mulheres sendo mulheres sem necessidade de comparação com os homens.

De fato, apesar dos elementos comuns à narrativa de 007, “Killing Eve” é o inverso do Clube do Bolinha. Todas as ações são lideradas pelas personagens femininas, que, por sua vez, estão longe do tradicional retrato que tende a ser construído por roteiristas homens.

Brinquedinho sexual

Os homens da série, aliás, são meros coadjuvantes — ainda que não sejam personagens fracos ou patéticos com o intuito de fazer as mulheres parecerem mais fortes. São, basicamente, objetos. Especialmente nesta segunda temporada, em que a obsessão de Eve por Villanelle ultrapassa os limites da razão.

O ponto mais forte da história nestes novos episódios é a forma como Villanelle transforma Eve em seu brinquedinho sexual, mexendo não apenas com o psicológico de sua rival, mas também levando o público a participar dessa fantasia do outro lado da tela.

CULTURA - TV - Série "Killing Eve" Foto: Divulgação / Sandra Oh e Jodie Colmer: roteirista contratada para 'dar toques femininos e feministas' ao próximo James Bond
CULTURA - TV - Série "Killing Eve" Foto: Divulgação / Sandra Oh e Jodie Colmer: roteirista contratada para 'dar toques femininos e feministas' ao próximo James Bond

Durante a entrevista, a reportagem relatou às atrizes que muitos fãs da série contavam ter tido experiências sexuais surpreendentes após assistir a “Killing Eve”. Sandra Oh comentou o seguinte:

— Eu acho que a questão aqui é que quando você vê personagens, particularmente mulheres, que estão confortáveis com sua sexualidade, fazendo o que elas querem fazer, isso é sexy. Isso é exatamente o que todo mundo deveria sentir em relação a sua própria sexualidade. Uma sexualidade que não é prescrita por uma revista ou por um bando de homens que supostamente definem o que é atraente e o que não é.

Para Jodie Comer, o que mais fascina o público em sua personagem é que ela é puro id e zero superego.

— Ela tem aquele misto de ninfeta e assassina. Ela é e não é. Você a ama, mesmo sabendo que pode morrer. A cada episódio você descobre algo novo, diferente e contraditório. Quanto mais você a conhece, menos você sabe quem ela é.

Na segunda temporada, também ganha mais destaque uma terceira personagem feminina, Carolyn Martens (Fiona Shaw), a chefe de Eve. Tradicionalmente, ela encarna a figura que deveria representar o arquétipo da mulher mais velha, austera e sem vida sexual. Mas Carolyne não apenas leva seus amantes para dormir em sua casa — o que deixa seu filho entre atônito e conformado — como é responsável por falas impagáveis como: “Não suporto café da manhã. É uma sequência interminável de ovos. Por quê? Quem decidiu?”

Enfim: “Killing Eve” representa aquele tipo de mulher pela qual muitos homens nutrem certo medo. Mas, se tiverem coragem para conhecê-la, ficarão fascinados.