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Fenômeno argentino com Ricardo Darín, 'A odisseia dos tontos' mostra vingança do povo contra golpe financeiro

Com 1,8 milhão de ingressos vendidos, filme representará Argentina no Oscar
Em 'A odisseia dos tontos', um grupo de amigos se une para planejar uma vingança contra um golpe financeiro Foto: Marcos Ludevid / Divulgação
Em 'A odisseia dos tontos', um grupo de amigos se une para planejar uma vingança contra um golpe financeiro Foto: Marcos Ludevid / Divulgação

SÃO PAULO - Depois de um período sem grandes sucessos, o cinema da Argentina mostra a sua força com um filme ambientado na crise econômica de 2001. Em cartaz desde 15 de agosto no país vizinho, “A odisseia dos tontos” , de Sebastián Borensztein, chega às salas do Brasil nesta quinta (31) com ares de blockbuster. Já vendeu até agora 1,8 milhão de ingressos – aqui, proporcionalmente à população, seria como ter um público de 8,4 milhões de brasileiros.

É o filme argentino de maior bilheteria no ano, e o quarto mais visto no país, desbancando títulos de forte apelo, como “It: Capítulo 2” e “Era uma vez em... Hollywood”. Traz ainda o selo de representante argentino na disputa por uma vaga de melhor longa internacional no Oscar 2020, e também ao Goya, da Espanha, na categoria melhor produção iberoamericana. Para o protagonista do filme, Ricardo Darín , o sucesso se explica pela identificação:

— Aconteceu algo que provavelmente poderia ocorrer também no Brasil e em outros países de sangue latino. Parece-me que o público abraçou esta história porque se sentiu refletido nela, representado por esse grupo de pessoas simples, honestas e transparentes. Espero que aconteça o mesmo em outros países, que encontre esse público que necessita de uma reparação emocional por todos os atropelos a que se vê submetido há tanto tempo. ( Clique aqui para ler a entrevista completa com o ator )

A história “abraçada” de que fala Darín é de um grupo de moradores de uma pequena cidade do interior que investe suas economias na compra de uma processadora de grãos falida e desativada. Eles planejam reabrir o negócio na forma de uma cooperativa, dar oportunidade de trabalho às famílias de agricultores e reaquecer os negócios na região. Então, acontece o corralito, como ficou conhecido o confisco de depósitos bancários promovido pelo governo.

Pai e filho também na tela

A presença no elenco de Ricardo Darín e de Chino Darín, que reproduzem na ficção pela primeira vez os papéis de pai e filho, explica em parte o grande sucesso do filme em seu país. Além disso, há o livro no qual foi baseado, o romance “La noche de la usina”, de Eduardo Sacheri.

É o mesmo autor de “O segredo de seus olhos”, adaptado para o cinema em 2009 por Juan José Campanella, também com Darín como protagonista, e ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 – o segundo prêmio da Argentina na categoria.

— É impossível o público não se identificar com o filme – diz Borensztein, que já dirigiu Darín em “Um conto chinês” (2011). – Essa história aconteceu com todos nós. Algumas pessoas perderam um pouco, outras tudo, outras pessoas nada, mas, em volta destas, todas perderam. É impossível que não haja empatia. Além disso, é uma espécie da justiça cinematográfica, de catarse social.

Em “A odisseia dos tontos”, Darín vive Fermín Perlassi, “um homem comum, mais um dos indignados que se sentem afetados pelo sistema”, segundo o ator. Ele é um antigo ídolo do time de futebol da cidade onde se passa a ação.

É o protagonista, que leva uma vida simples administrando o posto de gasolina local, quem convence os amigos a investir na recuperação da processadora de grãos. É ele também quem mobiliza o heterogêneo grupo em torno de uma vingança contra o gerente do banco local e de um advogado, responsáveis por aplicar um golpe nos investidores pouco antes do anúncio do corralito.

—O público e o filme se relacionam muito com o enorme descontentamento social que existe em nível mundial – diz o diretor. – As pessoas despertaram, desconfiam de suas instituições, do sistema financeiro, de seus representantes... A sociedade começou a manifestar seu enorme desagrado e descontentamento frente à desigualdade e à corrupção. O filme fala aos tontos do mundo inteiro, que somos todos nós.