Cultura Filmes Festival de Veneza 2014

Filme sobre últimos dias de Pasolini é recebido com pouco entusiasmo em Veneza

O ator americano Willem Dafoe interpreta o poeta e cineasta italiano no filme dirigido por Abel Ferrara

O ator Willen Dafoe ao lado do diretor Abel Ferrara.
Foto:
TONY GENTILE
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REUTERS
O ator Willen Dafoe ao lado do diretor Abel Ferrara. Foto: TONY GENTILE / REUTERS

VENEZA — Um dos filmes mais esperados da competição do 71º Festival de Veneza, “Pasolini”, do americano Abel Ferrara, exibido na manhã desta quinta-feira (4), acabou sendo recebido sem muito entusiasmo pela plateia de jornalistas – formada por italianos, em sua maioria. A frustração talvez resida na constatação de o filme, que tem Williem Dafoe no papel-título, e que recria as últimas 24 horas de vida do poeta, escritor e cineasta italiano, brutalmente assassinado em novembro de 1975, não revele ou não apresente nada de novo ou polêmico sobre o autor de longas provocadores como “Teorema” (1968) e “Os contos de Canterbury” (1972).

O que também pode ser um pecado mortal para um realizador como Ferrara, que goza da reputação de maldito. O filme acompanha os movimentos de Pasolini nas horas que antecederam a noite de sua morte, quando foi encontrado sem vida e com sinais de espancamento numa praia da região de Ostia, um subúrbio distante de Roma. Naquele dia, o artista passa o tempo com a mãe, alguns amigos, concede uma entrevista para promover “Saló ou 120 dias de Sodoma” (1975), e faz planos para dirigir “Porno – Teo – Kolossal”, seu próximo projeto em cinema, antes de pegar um jovem prostituto em um bar local e encontrar o seu destino.

A narrativa de “Pasolini” alterna esses eventos com cenas e personagens tirados de projetos que o artista italiano desenvolvia naquele momento, como o novo capítulo do romance “Petrolio”, e o roteiro de “Porno - Teo - Kolossal”. Este era uma fábula moderna que acompanha Epifanio, um homem maduro, e o jovem Nunzio, em sua viagem a Utopia para encontrar o novo messias, anunciado por uma estrela no céu – no caminho, passam por Sodoma e Gomorra. Epifanio é vivido por Eduardo De Filippo, escolhido por Pasolini para interpretar Nunzio quatro décadas atrás; este, na versão de Ferrara, é encarnado por Riccardo Scarmacio.

— Meu objetivo foi oferecer uma visão sobre a vida, a obra e as paixões de Pasolini — resumiu o diretor de títulos como “Vício frenético” (1992) e o recente “Bem-vindo a Nova York”, em cartaz no Brasil. — Por tudo que era e representava, um homossexual que combatia o poder, Pasolini viveu em constante vigilância e, mesmo assim, conseguia se reinventar constantemente. O filme tem como ponto de partida esse respeito por ele.

*Carlos Helí de Almeida está hospedado em Veneza a convite do festival.