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Integrante de associação ligada ao Globo de Ouro, Ana Maria Bahiana conta os bastidores da crise do prêmio

Jornalista brasileira, que desde 1989 integra associação de correspondentes responsável pela votação, diz ser injusto acusar grupo de falta de diversidade
A jornalista Ana Maria Bahiana Foto: Magnus Sundholm / HFPA
A jornalista Ana Maria Bahiana Foto: Magnus Sundholm / HFPA

Integrante da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Hollywood (HFPA, em inglês) desde 1989 e editora associada do site da premiação a partir de 2015, Ana Maria Bahiana conta um pouco dos bastidores da crise do Globo de Ouro . Falando a partir de uma visão pessoal e não como representante da instituição, como frisa, a jornalista brasileira acredita que as acusações contra a falta de diversidade do prêmio são injustas contra uma associação com membros de vários países.

As acusações tiveram início após reportagem do “LA Times” , segundo a qual não haveria nenhum negro entre os votantes do prêmio. O astro Tom Cruise se juntou a uma revolta liderada por plataformas e estúdios de streaming e devolveu as três estatuetas que ganhou por sua atuação em “Jerry Maguire”, “Magnolia” e “Nascido em Quatro de Julho”. A situação foi agravada quando a rede de televisão norte-americana NBC anunciou o cancelamento da transmissão da cerimônia do prêmio em 2022.

Os vencedores do Globo de Ouro são escolhidos anualmente pelos atuais 86 membros da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Hollywood (HFPA, em inglês), que desde 1944 organiza a premiação. Diferentemente do Oscar, no qual a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood contabiliza votos ligados à personalidades da indústria, os eleitores do Globo de Ouro são da imprensa estrangeira na capital do cinema mundial.

A HFPA aprovou na semana passada mudanças para aumentar a diversidade dos votantes . Entre as medidas, estão a contratação de um diretor de diversidade, para buscar correspondentes negros. Além disso, a associação terá pelo menos 20 novos membros nos próximos 18 meses, se unindo aos 86 atuais, incluindo correspondentes baseados em outras cidades dos EUA. Haverá também um controle mais rígido sobre qualquer tipo de benefício que os associados possam receber de estúdios e produtores, como viagens e brindes — o comportamento de alguns membros da HFPA também levantou críticas na imprensa americana.

Houve uma demora da Associação em responder às críticas?

Nós temos nossas falhas, e algumas estão relacionadas à criação da Associação. Ela foi criada em 1943, como uma soma de forças de jornalistas estrangeiros numa época de muita xenofobia, que isolados não conseguiam ter acesso aos estúdios. Como é uma associação criada com um caráter de proteção, muitas vezes há uma hesitação em tomar uma atitude contra um membro.

Dentre as questões apontadas pela mídia americana, se falou em relações inadequadas com produtoras e estúdios.

Levantaram alguns casos assim, ou de situações embaraçosas em entrevistas coletivas. Poderia até ser o caso de exclusão, mas, de novo, essa cultura de proteção a jornalistas que estão fora dos seus países ainda é muito forte.

O aumento do número de membros pode ajudar a ampliar a diversidade dos votantes, uma das acusações contra a HFPA?

É curiosa a acusação de falta de diversidade contra uma associação formada por profissionais de países como Egito, Tunísia, Brasil, Espanha, Dinamarca, Filipinas... Mas sim, acredito que, até pela ideia inicial da Associação, de que juntos somos fortes, podemos sair melhores desta crise. Teremos correspondentes em outras cidades dos EUA e uma linha direta para denúncias contra casos de quebra das regras de conduta.

Além do protesto de astros como Tom Cruise, o quanto a decisão da NBC de não transmitir em 2022 impacta o prêmio?

O contrato com a NBC vai além de 2022, mas teremos Globo de Ouro no ano que vem, a data será anunciada em breve. Temos uma ótima experiência de transmissão on-line, pensada como segunda tela nos anos anteriores. Sabemos que outros prêmios se juntaram aos ataques por interesse em ocupar nossa data. Mas essa não é a primeira crise que o prêmio vive, ele vai seguir.