Exclusivo para Assinantes
Cultura Filmes

'Jungle cruise', atração de parques da Disney, vira filme com Brasil fictício

Dwayne Johnson e Emily Blunt estrelam longa, que parte de um brinquedo ‘cancelado’ para criar uma Indiana Jones na Floresta Amazônica... filmada no Havaí
Dwayne Johnson e Emily Blunt em 'Jungle Cruise': química Foto: Divulgação
Dwayne Johnson e Emily Blunt em 'Jungle Cruise': química Foto: Divulgação

Nova aposta dos estúdios Disney para reaquecer as salas de cinema (ou, ao menos, estimular o pay per view do streaming Disney+), “Jungle cruise” é uma verdadeira salada de referências escancaradas. No longa que estreou esta semana, é possível ver elementos de filmes clássicos de aventura fantástica na selva, muito de “Indiana Jones”, “Tudo por uma esmeralda” e “Uma aventura na África”, também um certo humor etílico de “Piratas do Caribe” e pitadas de “Mogli” e “Pocahontas”. Isso, claro, com efeitos visuais para lá de modernos, um elenco estelar liderado por Dwayne Johnson e Emily Blunt , e um orçamento estimado em US$ 200 milhões.

A inspiração original é quase metalinguística: um filme da Disney que parte do universo criado por uma atração dos famosos parques temáticos da empresa. Inaugurado em 1955, na abertura da californiana Disneylândia, “Jungle cruise” simula uma viagem de barco por rios selvagens, que remete ao período de exploração britânico, passando por réplicas de animais e por elementos mágicos. No comando, um capitão metido a engraçadinho.

Um dos brinquedos mais longevos do parque — replicado nas unidades de Orlando, Tóquio e Hong Kong —, ele passou a ser alvo de críticas nos últimos anos por representações vistas como ofensivas a indígenas. Por isso, a Disney anunciou em janeiro que repensaria a atração, e a reabriu devidamente adaptada contra o cancelamento no último dia 16.

Disney : Série conta a história de parques; confira outros programas para 'viajar'

É nesse ínterim que “Jungle Cruise”, o filme dirigido pelo catalão Jaume Collet-Serra, mais conhecido por “A órfã” e “A casa de cera”, chega aos cinemas (somente por aqui, são 708 salas). Na adaptação cinematográfica, o tal capitão engraçadinho, Frank Wolff, é interpretado por Dwayne Johnson, que comanda passeios turísticos por rios amazônicos. Mais especificamente no Brasil, numa representação fictícia de Porto Velho no começo do século passado — filmado, porém, no Havaí. É lá que, acostumado a ganhar trocados fáceis de gringos empolgados com a natureza selvagem, ele acaba convencido pela insistente pesquisadora britânica Dra. Lily Houghton (Emily Blunt) a encarar uma aventura mágica que pode revolucionar o futuro da medicina por meio dos poderes de uma árvore milenar.

Blunt, inclusive, já está no ar nos cinemas com o suspense “Um lugar silencioso 2”, mas agora concorre com ela mesma em uma história mais barulhenta.

— Eu cresci vendo repetidamente filmes como “Os caçadores da arca perdida” e “Tudo por uma esmeralda”, que retratavam lugares exóticos e mágicos — conta a atriz inglesa, revelada ao grande público por “O diabo veste Prada”. — E me mandaram o roteiro falando que era parecido com “Indiana Jones”. Quando li, realmente era. É o tipo de filme que eu amava e do qual adorei fazer parte, uma experiência nostálgica.

Scarlett Johansson: Atriz  processa Disney pelo lançamento de 'Viúva Negra' no streaming

Já acostumado a levar tombos, tomar sopapos e suar seu 1,96m em selvas fictícias, como fez em filmes da franquia “Jumanji”, Johnson conta que Frank, porém, distancia-se de outros personagens que interpretou.

— Ele não tem um DNA heroico logo de cara. Frank é indigno de confiança, um traficante, adora beber, uma confusão. Mas o filme vai mostrando um outro lado dele enquanto os dois tentam desvendar um mito e manter seus próprios segredos — comenta o ator mais bem pago do mundo em 2020, segundo a “Forbes”. — Mas eu amo que o filme seja visto pelos olhos da personagem de Emily, uma Indiana Jones feminina, e as circunstâncias juntam essas pessoas completamente diferentes numa aventura épica, gigante e maluca.

A aventura frenética de pouco mais de duas horas de fato promete bombardear os espectadores de informações. Por trás de tudo, está uma lenda amazônica de quatro séculos atrás ameaçada por Aguirre, vilão latino interpretado pelo venezuelano Édgar Ramírez, indicado a dois Emmys. O animal de estimação de Frank é uma onça pintada chamada Próxima — nome falado em um português nada fluente que Johnson tenta arranhar em diversos momentos.

E, apesar de se passar em Rondônia, em certo ponto Frank indica a turistas um passeio para verem elefantes na selva. Como era de se esperar, há elementos estereotipados na representação fictícia de uma floresta tropical, mas nada digno de cancelamentos como o que o brinquedo da Disneylândia encarou.

— Nós tivemos conversas sobre como os roteiristas queriam representar nossos personagens, as culturas e o filme. Houve um esforço real para entregar algo respeitoso em termos de representação cultural — garante Johnson. — E também para garantir que o personagem de Emily fosse uma representação moderna de uma mulher em 1917.

Enquanto a trama pula com poucos intervalos entre o excesso de informação e a calmaria, o que acaba prendendo a atenção é exatamente a química improvável entre os dois personagens principais — e também momentos de alívio cômico protagonizados por eles e pelo irmão de Lily, MacGregor (Jack Whitehall). Johnson e Blunt, na entrevista por Zoom de apenas seis minutos, ilustraram a boa relação com diversas piadas internas.

— Química é algo estranho. Não dá para comprar e todos reparam quando é forçada, falsa. Sabíamos que os personagens tinham que brincar um com o outro e terem um humor ágil. Então, demos sorte por ter funcionado bem — opina Blunt, corrigindo o colega que respondera que “muito álcool e drogas” estavam por trás da química alcançada.