RIO — Damien Chazelle é o novo queridinho de Hollywood. Depois de dirigir o elogiado “Whiplash: em busca da perfeição” (2014), o cineasta arrebanhou 14 indicações ao Oscar com “La la land: cantando estações”, alcançando o recorde de “Titanic” (1997) e “A malvada” (1950). Afinal, se houve um filme alardeado durante a temporada de prêmios, esse foi o musical estrelado por Emma Stone e Ryan Gosling. Mas, por trás do sucesso do diretor, há um grande compositor. Três das 14 indicações do longa no maior prêmio do cinema americano são de responsabilidade de Justin Hurwitz. Pelo filme, o músico, produtor e roteirista de 31 anos concorre a melhor trilha sonora original e duas vezes na categoria canção original, com “City of stars” e “Audition (The fools who dream)”.
Em sua curta carreira no cinema, Hurwitz trabalhou apenas com Chazelle. Além de “La la land” e “Whiplash”, ele compôs a trilha sonora do primeiro longa do cineasta, “Guy and Madeline on a park bench” (2009) — outro drama musical, rodado como trabalho de conclusão do curso de Cinema em Harvard. Hurwitz e Chazelle, aliás, se conheceram na faculdade, quando tocaram na mesma banda — Chazelle é baterista — e se tornaram colegas de quarto, dividindo a paixão pelo jazz. A mesma de Sebastian, personagem de Gosling em “La la land”.
— Todos os nossos filmes falam sobre jazz. É um gênero que a gente ama, e adoraríamos que mais pessoas o apreciassem — diz Hurwitz, que esperou seis anos para conseguir o sinal verde para realizar “La la land” ao lado de seu grande parceiro. — Esse filme deu um trabalho inacreditável, mas é um projeto pelo qual tínhamos muita paixão, era o nosso sonho. Trabalhei nas músicas de “La la land” por dois anos e meio em tempo integral, enquanto “Whiplash” foi mais rápido, só me tomou algumas semanas.
Ao todo, foram 1,9 mil demos compostas ao piano para “La la land”, em que todas as orquestrações foram feitas pelo próprio Hurwitz.
— “Another day of sun”, que abre o filme, foi um número muito complicado, a narrativa é complexa, a música fala sobre todos esses sonhadores vindo para Los Angeles, tão animados, mas também tão frustrados. A produção dessa coreografia, do jogo de câmeras, tivemos que bloquear uma via... Era muita coisa acontecendo. Foi bem difícil compor com isso em mente — conta Hurwitz, que também trabalhou como roteirista, escrevendo episódios de “Os Simpsons” e da série “The league”. Atualmente, ele ainda produz a nona temporada da sitcom “Curb your enthusiasm”, com Larry David.
A cena em que Emma Stone canta “Audition (The fools who dream)” e que encantou os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pelo Oscar, também foi marcante.
A abertura em que motoristas saem de seus carros em plena freeway foi inspirada no engarrafamento que abre “8 ½” (1963), de Fellini. O balé seguinte combina a energia de “Sete noivas para sete irmãos” (1954), de Stanley Donen, com os movimentos de “Duas garotas românticas” (1967) , de Jacques Demy, também entre automóveis.
“Epilogue”
As referências a outros musicais se sobrepõem umas às outras na última sequência. Há referências a cenários pintados de “Cantando na chuva” (1952), à valsa de Eleanor Powell e Fred Astaire contra um fundo estrelado em “Melodia da Broadway” (1940), e aos balões de gás de Audrey Hepburn em “Cinderela em Paris” (1957).
“Someone in the crowd”
O número em que as roommates de Mia a convencem a ir à festa começa em tom brincalhão, no apartamento, como em “I feel pretty”, de “Amor, sublime amor” (1961), de Robert Wise e Jerome Robbins. Na festa, convivas dançam passos “congelados” em torno da piscina, como em “Rich man’s frug”, de “Charity, meu amor” (1969), de Bob Fosse.
“Planetarium”
Boa parte das danças de Sebastian e Mia evoca filmes com Fred Astaire e Ginger Rogers. Isso fica evidente na cena dentro do Observatório Griffith em que os dois flutuam entre as estrelas do planetário, como sugerido em “Ritmo louco” (1936), de George Stevens.
“A lovely night”
O meio giro de Sebastian no poste de luz é uma referência direta ao gesto de Gene Kelly em “Cantando na chuva” (1952), de Kelly e Stanley Donen, mas o número de sapateado da dupla é inspirado nos balés de Fred Astaire em “A roda da fortuna” (1953), de Vincente Minnelli, ou “Vamos dançar?” (1937), de Mark Sandrich, em dueto com Ginger Rogers.
— Emma não está dublando naquela cena. Ela cantou ao vivo, na frente das câmeras. Ela ficou numa sala com um ponto no ouvido, e eu em outra tocando um teclado, acompanhando enquanto ela cantava. Foi ela quem conduziu a canção. Por isso vocês viram uma performance tão emotiva, poderosa e autêntica — explica ele, que diz ter adorado compor para não cantores. — Trabalhar com Emma e Ryan foi muito divertido, eles têm vozes ótimas, autênticas, eles cantam como pessoas reais, o que era exatamente o que procurávamos. Eles foram muito colaborativos, deram muitas opiniões sobre os personagens, e isso acabou influenciando até as letras.
Mesmo tendo finalmente conseguido botar o filme na rua com ótimos resultados nas bilheterias do mundo todo (o filme, que custou US$ 30 milhões, arrecadou US$ 300 milhões), Hurwitz diz não se sentir realizado:
— Ainda me sinto como um sonhador. Ainda quero fazer um trabalho melhor. Aliás, sou o tipo de pessoa que sempre acha que poderia ter feito melhor. Claro que fico muito orgulhoso de “La la land” e acho que fiz um bom trabalho, mas quero trabalhar duro para me tornar um compositor cada vez melhor.
Sebastian (Ryan Gosling) é pianista de jazz. As músicas que ele toca no filme foram gravadas por Randy Kerber, que já trabalhou com Michael Jackson, Leonard Cohen e Rod Stewart, mas na hora do vamos ver, foi Gosling que interpretou as canções, dispensando dublê. Para isso, passou três meses ensaiando duas horas por dia, cinco dias por semana.
Ryan Gosling, aliás, é músico
Essa não foi a primeira vez que o ator precisou aprender um instrumento no susto. Para gravar o disco de sua antiga banda, Dead Man’s Bones, ele precisou se virar no violoncelo depois que dois músicos contratados decepcionaram na atuação. Ele ainda canta, toca violão, baixo e já tocava piano antes de 'La la land'.
Cenas de dança
As coreografias foram criadas por Mandy Moore (não aquela Mandy Moore, mas uma homônima) e só a cena inicial envolveu 30 dançarinos, cem figurantes e 60 carros. Para treinar Emma Stone, Mandy usou músicas do Haim. Já com Ryan Gosling a inspiração foi Frank Sinatra. Os dois aprenderam o básico de dança de salão, sapateado e jazz.
Participação mais que especial
Uma participação especial meio discreta não escapou aos olhos mais atentos. O ator que interpreta o marido de Mia (Emma Stone) é Tom Everett Scott. E sua escalação não foi por acaso. Ele é protagonista de "The Wonders", filme cult de Tom Hanks sobre uma banda alçada ao estrelato nos anos 1960 – Damien Chazelle, Emma Stone e Ryan Gosling são fãs.
Longa parceria
Essa é a 3ª vez que Emma e Ryan atuam juntos. Além de "La La Land", os dois dividiram a cena em "Caça aos gângsteres" (2013) e "Amor à toda prova" (2011). Mas quase que isso não acontece novamente: o papel de Mia seria de outra Emma, a Watson, que largou o longa por "A Bela e a Fera". Já Gosling trocou "A Bela e a Fera" por "La La Land".
Pianista clássico, o músico John Legend, que também participa do filme, disse ter ficado com "ciúmes" da facilidade com que Ryan Gosling aprendeu seu instrumento do coração. Ele também precisou ter aulas para tocar guitarra no filme.
Antes de 'Whiplash'
"La la land" vinha sendo planejado desde a época em que Damien Chazelle estudava em Harvard — o roteiro estava pronto desde 2010. Depois de muitos 'nãos', o diretor só conseguiu fazer o filme exatamente do jeito que queria depois de "Whiplash", seu primeiro longa, ter feito o sucesso que fez: acabou indicado para cinco Oscars e venceu três.
Recorde no Globo de Ouro
"La la land" foi indicado a sete Globos de Ouro e bateu recorde ao vencer os sete, ultrapassando "Um estranho no ninho" (1975) e "O expresso da meia-noite" (1978), com seis estatuetas cada.
Quem é o compositor?
Vencedor de dois Globos de Ouro – melhor canção original e melhor trilha sonora original – por "La la land", Justin Hurwitz só trabalhou com Damien Chazelle em sua carreira toda. Os dois fizeram juntos "Guy and Madeline on a park bench" (2009), "Whiplash" (2014) e agora "La la land".
Namorada de Damien Chazelle participa
Sabe a consumidora que pede reembolso na cafeteria onde Mia (Emma Stone) trabalha, por ter comprado um salgado com glúten? É Olivia Hamilton, atriz, roteista, diretora e namorada de Damien Chazelle. Na vida real, assim como a personagem de Emma, Olivia busca seu lugar ao sol.
Considerado uma declaração de amor a Los Angeles, com tantos pontos turísticos e icônicos retratados com amor e deferência, o filme foi pensado originalmente para se passar em Boston. Chazelle mudou de ideia para refletir sua própria mudança para a Califórnia após a faculdade, em busca de um lugar ao sol em Hollywood.