Cultura Filmes Festival de Veneza 2014

Música clássica aproxima pai e filho em filme exibido em Veneza

'Le dernier coupe de marteau', da francesa Alix Delaporte, é um dos 20 títulos que competem pelo Leão de Ouro

A diretora Alix Delaporte com o ator Romain Paul antes da exibição de ‘Le dernier coup de marteau’ em Veneza
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TONY GENTILE
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REUTERS
A diretora Alix Delaporte com o ator Romain Paul antes da exibição de ‘Le dernier coup de marteau’ em Veneza Foto: TONY GENTILE / REUTERS

VENEZA – Hormônios e música clássica alimentam a história de “Le dernier coupe de marteau”, produção francesa exibida nesta quarta-feira na competição do 71º Festival de Veneza.

O filme de Alix Delaporte, vencedora do Leão de Ouro de melhor curta em 2006, com “Comment on freine dans une descente”, é centrado na figura de Victor (Romain Paul), um adolescente prestes a completar 14 anos que deseja ser compreendido pela mãe doente, a vizinha que ele secretamente admira, e o pai, regente de orquestra, que só agora vem a conhecer.

Victor e a mãe, Nadia (Clotilde Hesme), vivem em um dos trailers de uma praia de Montpellier. Ela luta contra a crônica falta de dinheiro e um câncer cujo tratamento lhe consome as forças; ele se aborrece com a ideia de precisar morar com os avós e abandonar o futebol e Luna (Mireia Vilapuig), a filha dos vizinhos, imigrantes espanhóis que moram no trailer ao lado. A tentativa de se aproximar de Samuel (Grégory Gadebois), convidado para reger a orquestra da cidade, pode significar o fim de um futuro incerto.

A abordagem naturalista e o contexto social da trama sugerem algum tipo de ambição sociológica, mas Alix afirma que “Le dernier coupe de marteau” é um filme humanista.

– Meu interesse nessa história não reside na violência imposta por uma situação social ou financeira, mas mostrar uma situação em que uma luz consegue iluminar a vida tão difícil de um grupo de pessoas – comentou a diretora no encontro com a imprensa. – Também não fiz um filme sobre uma adolescência problemática, mas sobre a criança que existe em todos nós. A história também é contada a partir da visão de Nadia, então, é a história de uma família.

Em suas tentativas de fazer contato com Samuel, que está na cidade para reger a 6ª Sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911), Victor é apresentado à música clássica. O relacionamento com o pai, homem de poucas palavras e conduta rígida, só se dá, e evolui, a partir do momento em que o rapaz deixa-se contaminar pelo universo da música erudita.

– Tanto Victor quanto Samuel não são pessoas de muitas palavras. Não há muitos diálogos no filme, portanto. A comunicação entre os dois se dá pela música – disse Alix. – Expliquei aos atores que os corpos substituem as palavras. Isso funcionava particularmente bem para o personagem do maestro, que trabalha com muitos gestos.

* Carlos Helí de Almeida está hospedado em Veneza a convite do festival.