RIO — Ao se sentar num banco na antessala do cinema do shopping Ilha Plaza, na Ilha do Governador, uma senhora logo abordou o repórter: “Vai ver ‘Nada a perder?’ Quer ingresso?”. O bilhete oferecido para a sessão das 15h40m vinha grampeado a um cupom promocional de pipoca mais refrigerante por R$9,90.
O kit foi distribuído aos fiéis por pastores da Igreja Universal. No começo da semana, a igreja disse ao jornal, em nota, que “a mídia não se conforma com o incrível sucesso de filmes com temática espiritual no Brasil, e tenta diminuir a importância do fenômeno.
Talvez por não querer aceitar que a Universal conte com um número gigantesco de pessoas que, de forma voluntária, se mobiliza para que multidões possam assistir a um filme transformador”, em referência a casos como os flagrados ontem nas sessões do primeiro “Nada a perder”, de 2018.
Adaptação da novela da Record, o épico de Alexandre Avancini vendeu 11.305.479 ingressos. Difícil, no entanto, saber quantas pessoas de fato viram o filme, já que parte dos bilhetes foi comprada pela Universal e distribuída aos fiéis, que não necessariamente foram ao cinema.
'Tropa de Elite 2' (2010)
O personagem do Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura, cativou tanto o público que a sequência de José Padilha se tornou um fenômeno. Teve público de 11.146.723.
'Dona Flor e seus dois maridos' (1976)
Décadas depois, o clássico de Bruno Barreto segue figurando como um dos maiores fenômenos do cinema brasileiro. Levou 10.735.524 pessoas ao cinema.
'Minha mãe é uma peça 2' (2016)
O filme de César Rodrigues representa o que costuma dar certo nas bilheterias: comédia comercial fácil de ser digerida. Foram 9.234.363 ingressos vendidos.
Com toques eróticos e dramáticos, este é o segundo filme estrelado por Sonia Braga (o outro é "Dona Flor e seus dois maridos") a figurar no top 5. Dirigido por Neville d'Almeida, teve público de 6.509.134.
'Se eu fosse você 2' (2009)
Dirigida por Daniel Filho, a comédia leve e divertida estrelada por Glória Pires e Tony Ramos no papel de um casal que troca de corpo, é mais uma prova que sequências são bem recebidas pelos brasileiros. Vendeu 6.112.851 bilhetes.
'O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão' (1977)
Um dos dois filmes dos Trapalhões que ainda figuram no top 10. A aventura cômica de J.B. Tanko rendeu uma bilheteria de 5.786.226.
'Lúcio Flávio, o passageiro da agonia' (1977)
Contemplado na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) com os 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, o drama de Hector Babenco conta a trajetória do criminoso Lúcio Flávio, famoso bandido da década de 1970. Vendeu 5.401.325 ingressos.
'Minha vida em Marte' (2018)
Provando que Paulo Gustavo é garantia de boa bilheteria, a comédia sobre Fernanda (Mônica Martelli) e seu amigo Aníbal (Gustavo) levou 5,3 milhões de pessoas ao cinema.
Drama musical é outro filão que costuma funcionar no Brasil. A história da dupla Zezé di Camargo e Luciano é uma prova disso. O filme de Breno Silveira vendeu 5.319.677 ingressos.
'Os saltimbancos Trapalhões' (1981)
Por fim, outro clássico dos Trapalhões fecha a lista dos dez filmes nacionais mais vistos da História. Também dirigido por J.B. Tanko, teve público de 5.218.478.
O GLOBO conversou com mais dois grupos de espectadores, que confirmaram ter recebido os ingressos na Igreja Universal do Reino de Deus da rua Cambaúba, a unidade central da IURD na Ilha. Uma mulher que saiu da sessão de 13h30m afirmou que a sala “estava vazia”. Porém, com ingressos sobrando nas mãos, veria o filme mais uma vez às 15h40m.
As duas sessões tinham cerca da metade dos 201 lugares comprados com antecedência — ambas com as mesmas poltronas reservadas formando um bloco. Se na primeira “quase ninguém” apareceu, segundo uma espectadora, na sessão seguinte o comparecimento foi maior. A reportagem contou 89 pessoas presentes dos 116 lugares que haviam sido comprados com antecedência.
No Espaço Itaú, em Botafogo, a sessão de 13h30m contava com 40 pessoas, apesar de 120 ingressos vendidos antecipadamente.