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No Rio, John Green diz que é preciso não 'romantizar seres humanos'

O escritor americano e o ator Nat Wolff estão no Brasil para divulgar o filme 'Cidades de papel'
Nat Wolff e Cara Delevingne em cena do filme 'Cidades de papel', baseado no romance de John Green Foto: Divulgação
Nat Wolff e Cara Delevingne em cena do filme 'Cidades de papel', baseado no romance de John Green Foto: Divulgação

RIO — Era uma questão de tempo. Depois do sucesso de “A culpa é das estrelas” (2014), que arrecadou mais de US$ 307 milhões mundialmente (além de ter arrancado elogios da crítica, que se surpreendeu com a forma honesta e madura com que o longa tratou um assunto delicado como o câncer), a Fox se apressou em levar às telas outra obra do americano John Green.

O livro escolhido foi “Cidades de papel”, lançado há sete anos, cuja adaptação chega aos cinemas brasileiros em 9 de julho. Como em time que está ganhando não se mexe, os produtores recorreram à mesma dupla de roteiristas (Scott Neustadter e Michael H. Weber) e contrataram o ator Nat Wolff, que em “A culpa...” viveu o jovem cego Isaac. O tom do novo projeto, porém, diverge totalmente do anterior.

— É menos triste. Foi até prazeroso estar no set — brinca Green, em passagem pelo Rio junto com Wolff para promover o longa.

A trama de “Cidades de papel” começa com seus dois protagonistas, Quentin Jacobsen e Margo Roth Spiegelman, encontrando o corpo de um homem que cometeu suicídio, uma experiência que os afeta de maneiras diferentes. O tempo passa e os dois se afastam, até Margo (agora vivida pela supermodelo Cara Delevingne, em seu primeiro grande papel no cinema) pedir ajuda ao colega (Wolff) para se vingar de pessoas que a magoaram. No dia seguinte, ela desaparece, e Quentin — imbuído de uma paixão platônica pela misteriosa vizinha — embarca numa 'road trip' ao lado de outros amigos para encontrá-la. Como comumente acontece em histórias que envolvem buscas, o protagonistas eventualmente percebe que a trajetória é mais importante do que o destino.

— Vivemos numa cultura em que cultuamos o amor platônico. E a ideia central da história parte da nossa dificuldade em enxergar as outras pessoas como meros seres humanos, mas é isso que precisamos fazer. Não devemos romantizar a vida das pessoas — reflete o autor. — Eu, por exemplo, costumava ser obcecado em conseguir uma namorada perfeita, mas isso é insano.

As experiências pessoais de Green estão por toda a parte em “Cidades de papel”. Numa cena, Margo observa Orlando e define: é uma cidade de papel, com pessoas de papel. As palavras poderiam ter saído da boca do escritor, ele próprio um ex-morador de Orlando:

— É um lugar artificial, literalmente. Há aqueles parques, a Disney... Turistas vão até lá em busca de uma fantasia antes de voltarem para suas vidas. Eu detestava o modo como até os moradores viviam em casas que pareciam ter saído de uma realidade inexistente. Com o tempo, mudei um pouco de ideia. Hoje gosto de Orlando, e, claro, os moradores são pessoas reais. Minha imaginação é que projetava sobre eles essa ideia de artificialidade.

TENSÃO ENTRE INOCÊNCIA E EXPERIÊNCIA

Um dos autores mais populares do mundo — só no Brasil, “A culpa é das estrelas” (editora Intrínseca) vendeu mais de 2,3 milhões de cópias —, John Green, de 37 anos, formou uma fiel base de fãs compostos por jovens leitores. Ele explica por que continua escrevendo para esse público:

— A adolescência representa uma perda da inocência de ser criança, mas também há ganhos: é quando você se apaixona e passa a se questionar sobre a própria existência. Mas essa dualidade, essa tensão entre a inocência e a experiência se mantém quando viramos adultos. Portanto, não considero exatamente desafiador escrever para jovens.

Ele reconhece, porém, que, nos últimos cinco anos, passou a se interessar mais pela vida adulta, especialmente após o nascimento de seu filho — e abre até a possibilidade de passar a escrever, no futuro, para um público mais velho.