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Por Sarah Lyall, New York Times — Nova York


Nicolas Cage em ‘O peso do talento’ — Foto: Divulgação
Nicolas Cage em ‘O peso do talento’ — Foto: Divulgação

Trinta e dois anos atrás, Nicolas Cage foi a um talk show britânico promover “Coração selvagem”, de David Lynch. Antes da entrevista, deu uma cambalhota, imitou movimentos de kung fu, tirou a camisa, jogou-a em cima do apresentador e colocou a jaqueta de couro sobre o peito nu. “Eu vou me divertir!”, disse.

Os fãs dessa versão de Cage, que parece querer incendiar alguma coisa a qualquer momento, ficarão animados ao saber que ela está de volta em “O peso do talento”. No filme, que estreia hoje, ele interpreta Nick Cage, uma versão endividada e emocionalmente frágil de si mesmo. Mas também aparece como Nicky Cage, uma réplica de seu antigo eu rejuvenescido e desagradável.

Na trama, o amargurado Cage aceita uma proposta de US$ 1 milhão para aparecer no aniversário de um fã chamado Javi (Pedro Pascal), suspeito de ser um megatraficante de drogas. Enquanto Javi quer que Cage participe de um filme e use drogas, a CIA pede que o ator se infiltre na suposta rede de narcóticos e ajude a resgatar a filha de um político espanhol. Em meio a tudo isso, Cage só quer beber e ficar na piscina.

O filme é um comentário sobre cinema, passagem do tempo e sobre o próprio ator enquanto suas versões do passado e do presente discutem sobre quem ele realmente é. Foi ideia de Cage basear Nicky naquela aparição na TV há muito tempo.

— Na época, achei engraçado, constrangedor e arrogante — explica o ator. — Eu certamente não faria nada assim de novo.

E há muitas outras coisas que ele não faria de novo, agora que está com 58 anos, ganhou um Oscar (por “Despedida em Las Vegas”, de 1996), fez mais de cem filmes (muitos de qualidade duvidosa, para pagar dívidas), teve cinco mulheres e dois filhos (com um terceiro a caminho) e desenvolveu uma autocompreensão sobre si mesmo e sua carreira. Um dos arrependimentos foi a decisão de comer uma barata viva enquanto filmava “Um estranho vampiro”.

— Ainda me sinto mal pela barata — relembra. — Não consigo evitar.

Coppola e Travolta

O Cage de hoje é comedido, cortês e pensativo. Especialmente quando fala sobre as inspirações cinematográficas para sua abordagem de atuação: filmes mudos e expressionistas alemães como “O gabinete do Dr. Caligari”, que ele assistia com seu pai, August, irmão de Francis Ford Coppola que morreu em 2009.

Seu entusiasmo para conversar sobre cinema é infinito. Cage comenta os filmes de que mais gosta, as produções nas quais trabalhou, coisas que aconteceram nos sets. Lembra quando, ainda menino, carregava um aquário recém-comprado pelas ruas de Beverly Hills, e imaginou que era John Travolta andando pela rua na abertura de “Os embalos de sábado a noite”. E, de repente, “Travolta aparece dirigindo seu carro, vestindo um moletom Adidas”, diz.

A ideia de fazer Cage interpretar a si mesmo veio do diretor Tom Gormican. O ator rejeitou a proposta repetidas vezes, até que Gormican lhe escreveu uma carta descrevendo sua visão.

— Ele precisava entender quais eram nossas intenções — diz Gormican. — Como queríamos fazer uma celebração de sua carreira.

Gormican também queria que o filme fosse uma forma de Cage assumir o controle de sua própria reputação. No YouTube, são inúmeras as compilações mostrando o ator em seus momentos mais performáticos.

— Se sua identidade é exposta em público 24 horas por dia nas mídias sociais, então esta é uma oportunidade de assumir a narrativa e brincar com ela na tela do cinema, como uma obra de arte performática — argumenta o cineasta.

Piadas com a carreira

Os fãs de Cage encontrarão muitas piadas internas no filme — homenagens a “A outra face”, “Despedida em Las Vegas”, entre outros. Mas os personagens também abordam questões sobre a vida do ator, como se ele diluiu seu apelo aparecendo em tantas produções (não é raro ele fazer cinco ou seis filmes em um ano), se seus personagens gritam demais, ou se alguns de seus trabalhos recentes são tão autorreferenciais que se aproximam da paródia.

— As cenas são engraçadas quando você escreve, mas na hora de entregar a Nick dá um nervoso — diz Gormican, que escreveu o roteiro com Kevin Etten. — Há muita vulnerabilidade em falar sobre problemas financeiros passados ou momento atual da carreira.

Cage acertou suas dívidas e não tem mais pendências com a Receita. Mas não aceita a ideia de que tenha assumido papéis de forma cínica ou se entregado menos de 100% em qualquer filme. Ainda assim, muitas de suas produções não são bem-vistas. “O apocalipse”, de 2014, por exemplo, é uma unanimidade negativa, com 0% de aprovação no Rotten Tomatoes. Cage admite que nem todos os seus filmes deram certo, mas garante que em cada um deles há pelo menos uma cena ou elemento do qual se orgulha.

— Quero deixar isso claro — afirma. — Seja qual for essa percepção ou aura que a internet ou certos críticos possam ter, há um fato real, na minha opinião: tudo o que fiz para me livrar das dívidas foi feito com o mesmo mesmo nível de comprometimento que eu sempre tive. Defendo o meu trabalho. E se neste filme há cenas questionando “o que aconteceu com você?”, o fato é que eu consegui interpretar Nick Cage do jeito que fiz porque nunca parei de trabalhar. Continuei praticando e aprimorando.

Em uma piada recorrente no filme, as pessoas dizem a Cage que “ele está de volta”. E o ator/personagem responde: “Mas eu nunca fui a lugar algum.”

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