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Por Carlos Helí de Almeida; Especial Para O GLOBO — Cannes, França


Fôlego. Cena de “Atmosfera", uma coprodução com a Alemanha: filmado sem dinheiro público brasileiro — Foto: Divulgação
Fôlego. Cena de “Atmosfera", uma coprodução com a Alemanha: filmado sem dinheiro público brasileiro — Foto: Divulgação

Embora ausente das mostras oficiais do Festival de Cannes deste ano, que vai até sábado (28), o cinema de diretores brasileiros tem forte presença no Marché du Film, o grande mercadão do audiovisual que corre em paralelo à exibição de filmes. São mais de 30 projetos inéditos, em diferentes estágios de produção, em busca de investidores, distribuição ou mesmo agentes de venda internacional, abrigados no estande com cerca de cem metros quadrados que leva a bandeira brasileira. Depois de uma participação minguada, motivada por crises institucionais e financeiras de órgãos de fomento e de difusão da produção nacional, agravadas pela pandemia, parte da próxima safra está em cartaz em Cannes.

— Em 2019, tivemos um ano incrível, com filmes nas seleções dos principais festivais do mundo e premiados. Acho que poucas cinematografias passaram por isso — compara André Sturm, diretor do Cinema do Brasil, programa de promoção do setor, lembrando das láureas conquistadas por filmes como “Bacurau”. — Veio a pandemia e a crise da Ancine (Agência Nacional de Cinema). Em 2022, não há filmes em Cannes muito em função dessa parada. Mas tenho certeza de que este será o início de uma forte retomada. O Fundo Setorial do Audiovisual já tem mais de R$ 600 milhões em editais publicados, e os produtores terão oportunidades reais de avançar negociações no Marché.

Leque aberto

O cardápio de projetos brasileiros em busca de parceiros em Cannes é abrangente, em muitos sentidos. Estão disputando a atenção de agentes do mercado desde produções em fase embrionária, como uma nova versão de “Tieta do agreste”, o romance de Jorge Amado já levado às telas por Cacá Diegues nos anos 1990, a ser dirigido por Suzana Pires, da Barry Company; a longas-metragens em fase de prós -produção ou já concluídos, de olho em distribuidores ou agente de vendas estrangeiros, como “Bem-vinda, Violeta”, de Fernando Fraiha, da Biônica Filmes. Há também produtos audiovisuais de imersão, no campo da realidade virtual, como “Killing Phillip”, desenvolvido por Fabito Rychter e Amir Admoni para o Estudio Admoni; e híbridos de game e curta-metragem, como “Porco-espinho”, produzido pela Sétima Arte.

— Uma das características mais marcantes do grupo de empresas brasileiras representadas aqui em Cannes é a diversidade de nomes e experiências. Queríamos acabar com aquela ideia do clubinho, em que só veteranos e nomes consagrados no mercado tinham direito de participar. Há muita gente jovem e talentosa nesse painel de produtores e distribuidores brasileiros no Marché deste ano — aponta Raphael Callou, diretor da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), organismo intergovernamental que promove ações nos campos de educação, ciência e cultura, e uma das instituições por trás da iniciativa que trouxe a delegação brasileira a Cannes.

Para todos.   “A herança”, história de terror de João Candido Zacarias: pluralidade é marca dos produtores  que estão no estande brasileiro — Foto: Divulgação
Para todos. “A herança”, história de terror de João Candido Zacarias: pluralidade é marca dos produtores que estão no estande brasileiro — Foto: Divulgação

Tatiana Leite, da Bubbles Project, está entre os nomes da nova geração. A produtora de “Benzinho” (2018), de Gustavo Pizzi, vencedor do voto popular do Festival de Gramado, trouxe dois projetos para o mercado: o drama “Regra 34”, dirigido por Julia Murat, aqui em busca de agentes de venda; e “Princesa”, uma espécie de fantasia distópica sobre um vírus moral, ainda em desenvolvimento, que marca a estreia da atriz Karine Teles na direção. Há ainda um terceiro, recém-filmado no Brasil, o terror “A herança”, de João Candido Zacharias, que também deve entrar nas negociações do Marché.

— “A Herança” é o primeiro filme de gênero que produzi. A Sony vai distribuí-lo no Brasil e mundo, mas quero que ele comece com uma vida para além dos festivais de filmes de gênero — explica Tatiana. — Os filmes brasileiros sofreram muito com a paralisação da Ancine, que também dava apoio à promoção de produções aqui fora. Se as atividades da agência do governo não tivessem sido interrompidas nos últimos anos, talvez eu já tivesse feito outros projetos. Mas não temos como não esperar por fundos brasileiros, é quase impossível fazer um filme no Brasil apenas com o dinheiro de fundos internacionais. O Cinema autoral, em quase todo mundo precisa de apoio público, é assim em praticamente toda a América Latina, Europa e Ásia. Vamos torcer para que os novos editais do FSA lançados recentemente, sejam só o começo da retomada das atividades na nossa agência.

Na rua. “Cidade; campo”, filme de Juliana Rojas, é um dos 30 títulos que estão no Marché du Film: nova safra nacional a caminho — Foto: Divulgação
Na rua. “Cidade; campo”, filme de Juliana Rojas, é um dos 30 títulos que estão no Marché du Film: nova safra nacional a caminho — Foto: Divulgação

Sara Silveira, da Dezenove Som e Imagem, de São Paulo, frequenta o circuito de festivais há pelo menos três décadas. A sócia da produtora criada por Carlos Reichenbach (1945-2012), responsável por títulos como “Alma corsária” (1993) e “Garotas do ABC” (2003), inclui-se no grupo dos veteranos “teimosos”, que defendem a iniciativa de promover o produto brasileiro em todos os lugares possíveis, porque “é importante estar presente, para tentarmos enfrentar a situação em que estamos”. O portfólio da Dezenove em Cannes contém duas prioridades: “Cidade; campo”, novo filme de Juliana Rojas (“As boas maneiras”, 2017), inspirado em histórias de migração entre as zonas rural e urbana, e vice-versa, em fase de pós-produção; e “Amor S/A”, de Francisco C. Martins, sobre um caso de vingança amorosa nos tempos da internet, ainda em desenvolvimento.

— O mercado de Cannes é um evento extremamente representativo do setor, que pode abrir possibilidades internacionais como saída para a nossa produção — entende Sara. — O fato de não termos filmes aqui este ano é justamente o resultado do recesso cinematográfico em que nos encontramos. Porque temos muitas histórias, diversidade e competência para fazer o cinema brasileiro de qualidade que vínhamos fazendo até agora. E se temos uma delegação significativa em Cannes, mesmo sem filmes nas mostras oficiais, é um sinal de que estamos vivos e presentes.

Correndo por fora

O diretor e produtor Paulo Caldas faz coro. A sua produtora, a Academia de Filmes, tem dois projetos buscando parcerias: “Flores do cárcere”, doc que acompanha ex-presidiárias em visitas à cadeia em que cumpriram sentença, codirigido por Caldas e Barbara Cunha; e “O campo dos lobos-guarás”, drama inspirado no caso real de um triângulo amoroso que cometeu crimes com práticas de canibalismo, a ser dirigido por Caldas. O cineasta conhece o Marché du Film desde 1997, quando veio promover “O baile perfumado”, seu primeiro longa-metragem, codirigido por Lírio Ferreira, que ganhou prêmios no Brasil e viajou pelo mundo.

— Temos um governo que persegue a nossa cultura, área que, além de representar um espelho da alma brasileira, é um importante setor da economia. Mais do que nunca, estamos tendo que buscar dinheiro fora — diz Caldas, que rodou em janeiro a parte brasileira de “Atmosfera”, coprodução com a Alemanha protagonizada por João Miguel, Milhem Cortaz e Zezita Matos. — Filmei sem um centavo de dinheiro público brasileiro até agora, porque a maior parte dos recursos vem de um fundo alemão.

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