A princípio, tudo o se vê é um flash de cabelo ruivo. A personagem desliza graciosamente por um mundo subaquático de peixes, corais, tartarugas marinhas e naufrágios. O brilho familiar de uma música da Disney se instala e, enquanto ela nada para a luz da superfície, a princesa finalmente é revelada.
“Ela é negra?” questiona Ke'Iona Shanks, que completa 8 anos na próxima semana. "Uau!"
Ariel, retratada no filme anterior da Disney como branca com cabelos ruivos e olhos azuis, agora tem mechas vermelhas e é negra. A reação de Ke’Iona foi um dos muitos momentos capturados pelos pais no TikTok enquanto mostravam às filhas negras o trailer de uma nova versão de “A Pequena Sereia”.
Ariel é interpretada por Halle Bailey, metade da dupla de irmãs cantoras Chloe x Halle, e essa é uma das poucas vezes em que uma princesa da Disney foi encarnada por uma protagonista negra. Os vídeos de reação capturam o momento em que as jovens negras assistem ao trailer, muitas de pijama, e pela primeira vez veem uma princesa da Disney que se parece com elas.
— Ver uma manifestação real de algo que você ama e pelo qual é apaixonada torna essa coisa mais realista e faz você se sentir incluída; essa é a minha esperança para elas — diz Sterling Shanks, que gravou suas filhas Lai’Anna, 7; e Ea’Iona, 2; enquanto assistiam ao trailer. — Ver Halle Bailey como Ariel torna algo que eles amam mais próximo.
Shanks disse que a reação delas o levou às lágrimas. Ele conversou com as meninas sobre o trailer por horas depois de assisti-lo no sábado de manhã.
— Pelas conversas que tivemos com elas percebi que, à sua maneira, elas queriam se sentir representadas nas coisas que assistem e fazem. Lai'Anna disse: 'Você viu que ela tem tranças como nós fazemos às vezes?'"
Nas redes, Bailey escreveu que estava “impressionada” com a resposta ao trailer. O filme está previsto para ser lançado em maio do ano que vem.
“Quero que a garotinha em mim e as garotinhas como eu que estão assistindo saibam que são especiais e que podem ser princesas em todos os sentidos”, disse Bailey à "Variety" em agosto. “Não há razão para que não sejam. Essa garantia era algo que eu precisava.”
A resposta alegre ao filme foi uma reviravolta à reação racista que Bailey enfrentou quando o elenco do filme foi anunciado em 2019.
Em seus quase 100 anos de história, a Disney teve apenas uma princesa negra – Tiana em “A Princesa e o Sapo”, um filme de animação de 2009 estrelado por Anika Noni Rose. A cantora Brandy estrelou uma versão para a TV de "Cinderela", em 1997, um remake do musical de Rodgers e Hammerstein.
Impulsionadas por Beyoncé
Will Fleming, cuja esposa, Dariana filmou sua filha Rylie, 2, assistindo ao trailer, admira a ascensão das irmãs Bailey, que ganharam fama fazendo covers de músicas populares no YouTube. Quando sua versão de “Pretty Hurts”, de Beyoncé, decolou nas mídias sociais há uma década, a superestrela percebeu o sucesso e as contratou para sua gravadora Parkwood Entertainment.
Para Fleming e muitos outros pais que se lembravam de Ariel como um nome familiar desde a infância, essa reinvenção é particularmente significativa.
— Ela ter surgido nas mídias sociais, postando online, para se tornar a estrela de um dos filmes mais clássicos da Disney, sendo uma mulher negra na América, para mim há tantas coisas para tirar disso — disse ele. — Infelizmente, algumas pessoas questionam que o filme original não era uma mulher negra. Acho que perderam o foco. É necessário, e estou especialmente grato pela Disney ter arriscado isso, mesmo sabendo que haveria uma reação negativa. É muito importante para todas as gerações que estão chegando ver isso.
Espera por um príncipe negro
Shannon Lanier diz ter ficado “muito animado” quando soube que Bailey interpretaria Ariel “porque ela é uma mulher negra e eu estou criando duas meninas e um menino negros, e é importante ter representação para que eles possam ter orgulho de quem são e serem capazes de imaginar que tudo é possível – mesmo que seja a partir de um conto de fadas.”
“Ela é negra! Oh meu Deus!" gritou sua filha Madison, 1 anos, de olhos arregalados e sorridente, no vídeo gravado por Lanier. "Sim Sim Sim!", responde seu irmão Carter, 6. “Mal posso esperar para ver!”, acrescentou McKenzie, 9.
— É realmente emocionante ter uma sereia negra porque provavelmente inspira mais pessoas de cor a experimentar coisas — diz Madison em entrevista. —Achei muito legal porque nunca tinha visto isso.
Carter destaca que ainda estava esperando por um príncipe negro.