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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

“Nós vamos arrasar, hein!” Era o que dizia Miúcha (1937-2018) para sua banda em toda abertura de show. A frase que motivava os músicos também serviu de inspiração para os diretores Daniel Zarvos e Liliane Mutti durante a fase de montagem do documentário “Miúcha, a voz da bossa nova”. A produção sobre a cantora é uma das atrações do Festival do Rio, que começa na quinta-feira, com a exibição de mais de 200 filmes até o dia 16. Entre produções internacionais de diretores consagrados e estreias nacionais, chama a atenção a quantidade de documentários que tratam do universo da música.

Além do longa sobre Miúcha, há outros oito títulos do gênero, seis brasileiros e dois internacionais. Completam a seleção nacional “Andança — Os encontros e as memórias de Beth Carvalho”, de Pedro Bronz, “Belchior — Apenas um coração selvagem”, de Natália Dias e Camilo Cavalcanti, “De você fiz meu samba”, de Isabel Nascimento Silva, “Elis & Tom, só tinha de ser com você”, de Roberto de Oliveira, “Elton Medeiros: o sol nascerá”, de Pedro Murad, e “Fausto Fawcett na cabeça”, de Victor Lopes. O doc português “Cesária Évora”, de Ana Sofia Fonseca, e o americano “Hallelujah: Leonard Cohen, a journey, a song”, de Daniel Geller e Dayna Goldfine, formam a lista estrangeira.

Ilda Santiago, diretora executiva do Festival do Rio, lembra que docs do gênero sempre fizeram sucesso na programação do evento.

— Os documentários que falam de grandes nomes da música falam do que temos de melhor como brasileiros. Eles são capazes de nos unir no que temos de melhor — destaca Ilda, que chama a atenção ainda para os títulos sobre samba, “ritmo capaz de levantar a autoestima do brasileiro.”

Além das biografias de Beth Carvalho (1946-2019) e do cantor e compositor Elton Medeiros (1930-2019), será exibido “De você fiz meu samba”, de Isabel Nascimento Silva, que resgata a história de Liette de Souza, Angela Nenzy, Jane Baptista, Denize Correia e Bertha Nutels, que ajudaram construir a carreira dos maridos, os baluartes do samba Roberto Ribeiro, Wilson Moreira, Luiz Carlos da Vila, Ratinho e Délcio Carvalho, responsáveis por clássicos como “Vai vadiar” e “O show tem que continuar”.

'Elis & Tom, só tinha de ser com você' (2022) — Foto: Divulgação
'Elis & Tom, só tinha de ser com você' (2022) — Foto: Divulgação

A programação promete emocionar oferecendo novas perspectivas sobre grandes nomes também da bossa nova. Um dos discos mais famosos da música brasileira é tema do documentário “Elis & Tom, só tinha de ser com você”. Empresário de Elis Regina à época e responsável por organizar o encontro com Tom Jobim, Roberto de Oliveira é o diretor do longa. Por quase 45 anos, ele guardou vasto material de making of do encontro até que decidiu resgatá-lo e restaurá-lo em 2018.

— É um alívio lançar este filme. Me sentia depositário de uma história muito importante, que precisava ser contada como realmente ocorreu — conta Roberto. — Acho que os fãs irão se emocionar muito porque é um mergulho na personalidade e no processo de criação dos dois. É um filme revelador, uma história de bastidores.

Entre eles

“Miúcha, a voz da bossa nova” lança uma perspectiva feminista sobre o gênero musical que ficou marcado por figuras masculinas como Tom, João Gilberto e Vinicius de Moraes. Todo narrado em primeira pessoa, utilizando-se de gravações da própria Miúcha e também de uma narração de Silvia Buarque, sobrinha da cantora, o documentário é focado nas décadas de 1960 e 1970, do início da trajetória musical, sua viagem para tentar o sucesso em Paris, onde conhece João Gilberto e, na sequência, a mudança com ele para Nova York. Nos EUA, a cantora tem a filha Bebel Gilberto e vê o trabalho como artista ficar em segundo plano em prol da carreira do marido.

'Miúcha, a voz da bossa nova' (2022) — Foto: Divulgação
'Miúcha, a voz da bossa nova' (2022) — Foto: Divulgação

— Miúcha é a desconstrução da mulher da bossa nova, que é essa musa certinha, bibelô. Ela não se manifestava como feminista, mas a própria vida dela era um manifesto — aponta a diretora, Liliane Mutti, que conheceu a cantora há dez anos através de seu namorado à época (hoje, marido), o diretor Daniel Zarvos, primo de Miúcha. — Foi alguém que viveu a vida intensamente.

O casal se aproveitou de um vasto material de arquivo guardado pela própria artista, que mantinha quase que um museu em casa.

Quem também facilitou o trabalho dos documentaristas com vasto material arquivado foi Beth Carvalho. O diretor Pedro Bronz mostra em seu filme que a sambista tinha o costume de documentar tudo em sua vida, dos encontros com outras artistas aos momentos de intimidade com a família. Por dois anos, o diretor ficou mergulhado em 800 fitas de VHS e mais 400 cassetes para chegar no resultado final.

— Minha mãe era uma arquivista compulsiva, tinha uma coisa muito disciplinada em termos de registro. Ela teve uma espécie de visionarismo. Entendeu desde sempre a importância que ela e o universo que frequentava tinham. Quando registrava, não era algo apenas despretensioso, ela tinha uma ideia de registro histórico — destaca Luana Carvalho, filha de Beth, produtora associada do documentário.

Após exibição no “É tudo verdade” e participação em inúmeros eventos internacionais, “Belchior —Apenas um coração selvagem”, que resgata a memória do consagrado cantor e compositor responsável por sucessos como “Sujeito de sorte” e “Como nossos pais”, também será exibido no Festivl do Rio. Já “Fausto Fawcett na cabeça”, de Victor Lopes, explora o lado musical do cantor e escritor Fausto Fawcett, único biografado vivo da seleção musical da Première Brasil.

Uma das canções mais famosas da história, “Hallelujah” tem sua trajetória retratada no documentário “Hallelujah: Leonard Cohen, a journey, a song”. Dirigido por Daniel Geller eDayna Goldfine, o longa mostra como a música foi inicialmente rejeitada por gravadoras antes de se tornar um verdadeiro marco cultural.

Completa a seleção musical o documentário “Cesária Évora”, exibido no South by Southwest 2022. A obra de Ana Sofia Fonseca é um retrato íntimo sobre a vida e a carreira da cantora cabo-verdiana Cesária Évora (1941–2011).

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