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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

Calma. A palavra pode ser lida numa tatuagem no antebraço direito de Johnny Massaro. O artista carioca brinca que odeia todas as suas tatuagens, e que não tem muito talento para escolhê-las, mas reconhece que calma é algo que ele busca e que precisa se lembrar disso. Com quase duas décadas de carreira, o ator por muito tempo viveu uma vida agitada, sempre correndo atrás de oportunidades no teatro, no cinema e na televisão, e também na vida pessoal. Após completar 30 anos, em janeiro passado, ele diz que finalmente tem conseguido atingir o estado de espírito que leva tatuado no braço.

— Os 30 estão me ensinando a ter calma. Comecei a trabalhar muito novo, aos 12 anos, e sempre tive clareza sobre o que eu queria atingir. Hoje, não tenho tanta certeza sobre o que quero ser no futuro, e estou em paz com isso. Me sinto mais apto para errar, para arriscar — conta Johnny, em conversa num café no Jardim Botânico, bairro do Rio onde mora.

Entre os tais riscos, está investir em novas funções: as de produtor e diretor de longas. Johnny Massaro é o cara e a cara da Première Brasil 2022, mostra competitiva nacional do Festival do Rio. Ele está presente em quatro filmes da programação: “A cozinha”, sua estreia na direção e produção; “Transe”, drama dirigido por Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães; “O pastor e o guerrilheiro”, de José Eduardo Belmonte; e “Tiro de misericórdia”, curta de Augusto Barros. O ator descreve o atual momento como uma fase de colheita de frutos.

E que, de fato, começou a plantar cedo. Após iniciar carreira televisiva em “Floribella” (2005), emendou um trabalho atrás do outro. No início do terceiro ano do ensino médio, já afoito para começar a faculdade de Cinema, convenceu a mãe a deixá-lo abandonar a escola e fazer um supletivo que antecipasse a entrada na universidade. Enquanto estudava Cinema, sentia a necessidade de uma melhor preparação como ator. Decidiu, então, aprender com o mundo.

Johnny Massaro estreia na direção de longas com 'A cozinha' — Foto: Jorge Bispo/Divulgação
Johnny Massaro estreia na direção de longas com 'A cozinha' — Foto: Jorge Bispo/Divulgação

—Não tive uma educação formal como ator. Sempre achei que poderia correr por fora e ir atrás do máximo de experiências possíveis como ser humano. Viajei pela América Latina sozinho de ônibus, fui para o México com o meu irmão atrás de peiote por causa do livro “A erva do diabo”, do Carlos Castaneda, fiz uma viagem de trem pela Europa, o cinema me levou pra China, pra Cuba — lembra o ator, que dedicou atenção especial a experimentar melhor a espiritualidade. — Mais do que artista, quero é ser bruxo. Um dia eu chego lá. Tento sempre partir de um processo de entendimento, de estudo.

Enquanto não chega lá, corre atrás no trabalho. Com sessão para o público na terça-feira, “A cozinha” é uma adaptação de peça homônima de Felipe Haiut, que é roteirista, protagonista e coprodutor do longa. A versão teatral, por sinal, teria Johnny no elenco, mas ele precisou abandonar o projeto para atuar em uma novela. Anos mais tarde, foi convidado por Felipe para assumir a direção e a produção. Inicialmente, foi enfático em dizer que não queria saber de produzir. Agora, brinca com o fato de ser um produtor dedicado, preocupado com as diversas áreas envolvendo o filme, das mídias sociais às bebidas que serão servidas na festa de lançamento. Ele também foi o responsável por inscrever o longa em edital da Lei Aldir Blanc, que garantiu uma verba de R$ 100 mil de um orçamento quase todo pago com dinheiro próprio. O artista, inclusive, foi até o Senado Federal, em Brasília, para uma audiência em defesa da lei e da importância do investimento público em cultura.

— Políticas públicas são essenciais. A quantidade de pessoas que a cultura emprega é surreal. Só com esse dinheiro da Aldir, pagamos nove profissionais, além de outros serviços. Não é apenas pela formação da cultura brasileira, do entendimento de quem somos, pela construção de um povo, há um sentido prático que precisamos proteger — defende o produtor. — Começamos a filmar com dinheiro próprio. Quase ninguém ganhou para fazer o filme. As pessoas vão ganhar quando entrar dinheiro com as vendas. É importante não romantizar essa coisa do fazer sem dinheiro.

'A cozinha', de Johnny Massaro — Foto: Divulgação
'A cozinha', de Johnny Massaro — Foto: Divulgação

A trama de “A cozinha” acompanha dois amigos de infância que se reconectam após vários anos. Juntamente com suas companheiras, eles relembram a época em que cresceram, com revelações que impactam as relações atuais de cada um.

— É um filme que fala sobre como o machismo é danoso para a existência, pois diz que homem não falha. Somos artistas LGBTQIA+ (ele e o autor da peça que inspirou o filme), precisamos cavar no subconsciente das pessoas que o homem pode falhar.Não podemos olhar para a figura masculina e falar que ela é imbrochável. Podemos brochar, podemos chorar, sentir — comenta. —Não temos interesse em ficar cercado em círculos masculinos, preciso de paisagens plurais. Os desejos são múltiplos e as formas de existir são múltiplas.

Já em “Transe” o ator vive uma relação de amor livre com Luisa Arraes e Ravel Andrade em meio às eleições de 2018. Johnny entrou para o filme por acaso. Após participar de um protesto na Cinelândia, foi a uma festa. Lá, encontrou Luisa com uma equipe de filmagens. Após improvisarem uma cena, ele foi convidado para o projeto dias depois.

Johnny Massaro, Luisa Arraes e Ravel Andrade em 'Transe' — Foto: Pedro Perdigão/Divulgação
Johnny Massaro, Luisa Arraes e Ravel Andrade em 'Transe' — Foto: Pedro Perdigão/Divulgação

Politizado, Johnny tenta entender o atual momento do Brasil e busca evitar julgamentos. Nos últimos tempos, começou a pensar melhor suas manifestações nas redes sociais ao perceber que muitas vezes estava falando apenas para sua bolha. Ele lembra que perdeu muitos seguidores num de seus momentos de maior exposição na mídia, quando atuava na novela “Deus salve o rei” (2018)

Discreto sobre a vida pessoal, conta que por muito tempo viu o “amor livre” como a alternativa correta, mas que isso mudou.

—Eu acreditava que a não monogamia fosse a grande solução do relacionar-se. Pensava: “Nós somos seres livres.” Mas descobri que isso pode não ser verdade na prática. É muito sobre como cada casal vai se organizar, que não existe certo ou errado.

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